No dia 28 de
fevereiro do ano de 2010 morreu aos noventa e cinco anos o empresário, advogado
e jornalista José Mindlin. É uma pena que homens extraordinários morram. O país
perdeu um deles e dono de um dom raríssimo: era amigo dos livros. E ele possuía uma amizade bonita que ia além
das palavras, era uma espécie de devoção aos livros que Midlin alimentou durante
toda sua vida. No final de sua longa existência conseguiu reunir cerca de 45000
volumes dos mais representativos da cultura ocidental e brasileira. Por este
trabalho em defesa da cultura e das letras foi eleito para a Academia
Brasileira de Letras em 2006, um dos raros momentos de reconhecimento ao seu
amor à cultura.
Quem foi José
Mindlin? Ele nasceu em São Paulo em 1914 quando o mundo assistia o início da I
Grande Guerra. Era filho de judeus russos cuja família mudou para o Brasil (São
Paulo) em busca de paz e segurança. Do pai aprendeu o amor pela cultura e a
dedicação aos livros, paixão que alimentou em toda sua vida. Trabalhou desde
cedo, começando a atividade profissional como jornalista no Estado de São Paulo quando ainda não
tinha quinze anos de idade. Concluído o ensino médio fez Direito na
Universidade de São Paulo e, posteriormente, cursos na área jurídica nos
Estados Unidos da América. Largou a carreira brilhante de advogado que se
iniciava em 1949 para se dedicar a sua vocação empresarial tendo organizado a
Metal Leve. A empresa se dedicava à fabricação de peças para automóveis e
chegou a ter 7000 mil funcionários e duas fábricas nos Estados Unidos. Ser
empresário não é uma vocação fácil, mais difícil quando se lidera 7000 pessoas.
Em 1996, com mais de oitenta anos de idade vendeu a empresa para a Mahle e se
entregou por inteiro à outra vocação que o consumira vida afora: descobrir e
adquirir livros importantes da cultura ocidental e brasileira. Para se ter uma
noção do que ele reuniu basta mencionar o exemplar dos Lusíadas de Camões da primeira edição (1572), os originais do Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa
e a primeira edição ilustrada dos Triunfos
(1488), de Petrarca, livro mais antigo que o Brasil. Uma vida plena é a
realização de uma vocação e pode ser mais de uma como no caso de Mindlin.
Um fato que
nos mostra a dimensão moral desta vocação. Ele doou 25000 livros que tratavam
da cultura brasileira para a Universidade de São Paulo. Os livros são para os
homens e para enriquecer o espírito. Ao fazê-lo adotou a atitude típica e
generosa dos filantropos norte-americanos que deixam parte de sua fortuna ou
bens para obras de caridade ou para instituições culturais. Isto é quase uma
regra entre eles, o sentimento de gratidão à nação e o espírito público da vida
bem sucedida. Atitudes assim são ainda raras entre nós, mas começam a
acontecer.
Outro episódio
marcante que dá a dimensão moral desta vida foi o pedido de demissão da
Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo em 1975, depois da morte na prisão
do jornalista Vladimir Herzog, que ele havia indicado pessoalmente para chefiar
o jornalismo da TV Cultura.
Mesmo sem conhecer a intimidade deste
intelectual amigo dos livros, empresário de sucesso, advogado por formação,
benemérito da USP e imortal da Academia de Letras, estas linhas são o
reconhecimento das vocações importantes que ele cultivou e homenagem a um homem
da cultura que colocou sua vida a serviço da sociedade brasileira. Que nosso
país possa ter, cada vez mais, homens dedicados aos diferentes aspectos da
cultura, como Mindlin foi no cuidado com os livros, sem precisar deixar de ser
advogado e empresário.
Concordo, não deveriam morrer, mas serão eternos por terem sido uma luz no caminho de muitas pessoas,
ResponderExcluirUma bela história de vida. Faz bem saber que pessoas assim ainda vivem entre nós.
ResponderExcluirE felizmente ainda temos pessoas íntegras para contar estes belos exemplos. Valeu
ResponderExcluirOs livros são para os homens e para enriquecer o espírito.
ResponderExcluirDisseste tudo.
Um bom livro, é um bom companheiro.
Importante saber que este homem fez uma DOAÇÃO, um exemplo a ser seguido.
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