Em sociedades democráticas, a alternância de partidos no
poder é tão necessária como revezamento de culturas nos solo. Com efeito, o
agricultor sabe por experiência que não pode por muito tempo continuar
plantando a mesma espécie no mesmo solo. A partir da segunda colheita a terra
enfraquece e a produtividade vai caindo sempre mais. Da mesma forma acontece
com partidos políticos ou grupos de poder. Eles se desgastam e deixam de
cumprir com seu propósito.
Com efeito, quando assumem o poder o fazem com
entusiasmo, com ideal, dando o melhor de si. Mas, à medida que o tempo passa, o
entusiasmo esmorece e é substituído pela rotina, o ideal dá lugar aos interesses
privados e o melhor de si que antes era dedicado público passa a ser mínimo.
Além da anterior, eis algumas razões da necessidade de
troca de partidos no poder:
Primeiro. Esvaziamento do programa. Quando o partido
assume o poder apresenta-se com um programa que a sociedade o aprovou.
Implantado e bem sucedido cumpriu seu papel e a partir de então deve ser ou
criado outro ou substituído por outro. O partido que está no poder não criará
nada e, portanto, continuará na mesma. Então, é necessário chamar outro partido
que oferecerá outro programa. Da mesma forma este, depois de cumprir o que
prometeu deverá ceder o lugar a outro. Isto é alternância, indispensáveis em
democracias.
Segundo. Frouxidão ética. Diz o ditado que a “ocasião faz
o ladrão”, isto é, a proximidade do poder e a facilidade para usá-lo amanteigam
a ética pessoal e desvios de condutas e
corrupção se tornam rotineiros. É preciso não só convicção, mas também certa
dose de medo de perder o poder para evitar sobrepor o interesse geral ao
pessoal. Como diz Maquiavel: não é preciso que o Príncipe seja amado, basta que
seja temido. Isto acontece numa é autocracia. Numa democracia os papéis se
invertem: o povo não precisa ser amado pelo príncipe, basta que o príncipe tema
o povo.
Terceiro. Torneiras sempre mais abertas. Partidos que se
perpetuam no poder, para se manterem no poder, sempre mais prometem, concedem e
cedem para poderem atender a demanda eleitoral. Aquilo que antes era apenas uma
promessa agora deve ser convertido em dinheiro vivo. Se o partido prometeu 40
milhões, depois do segundo mandato no poder deve entregar 80 milhões.
Quarto. Espírito democrático esquecido. Governos muito prolongados esmorecem o gênio
democrático dando lugar ao autoritarismo. Os ocupantes do poder vão achando
natural serem bajulados, reverenciados e mesmo louvados. Começam a se
convencerem que realmente são indispensáveis, os melhores e que os demais são
segunda categoria. É preciso chamá-los à realidade e tomar um chá de humildade.
Quinto. A perseguição aos adversários. A permanência de
partidos no poder provoca uma confusão entre competidores e inimigos políticos.
Com a crítica da oposição surge o espírito de caça às bruxas. Falam em: “os
inimigos da pátria, os vendidos ao capitalismo ou socialismo, os inimigos do
povo...” Enfim, quem não está com o partido no poder é antipatriota".
Sexto. Esta é a mais nefasta para a democracia: transfiguração
da “parte” no “todo”. Um partido em permanência prolongada no poder escamoteia
a realidade de “parte” que é, e passa a exibir-se como todo. Para tanto promove
as reformas, como do ensino, da constituição, partidária, eleitoral, segurança inoculando o pensar, agir e sentir da democracia. Quando
atingiu a totalidade faz crer que o totalitarismo é a genuína democracia, tal como o desfecho de A Revolução dos Bichos"
Mas tá bom demais. Perfeito.
ResponderExcluirNada a escrever, este artigo superou-se MESTRE.
ResponderExcluirNo nosso estado não costumamos repetir, vamos ver nesta eleição.
ResponderExcluirSexto. Esta é a mais nefasta para a democracia: transfiguração da “parte” no “todo”. Um partido em permanência prolongada no poder escamoteia a realidade de “parte” que é e passa a exibir-se como todo. Hoje esta é nossa realidade, muito bom que esta leitura alerte os que dormem no berço esplêndido. Bom dia.
ResponderExcluirÉ necessário e urgente fazer mudanças. Na política repetir é aceitar as raízes se firmarem, depois é só corrupção.
ResponderExcluirAmei este chá de humildade. Seriam muitas e muitas toneladas.
ResponderExcluirQue nosso maior valor seja a democracia.
ResponderExcluirO eleitor precisa parar de negociar o voto e viver a democracia de cidadão consciente.
ResponderExcluirMuito bom. Uma ótima leitura.
ResponderExcluirPrecisamos urgentemente mudar, sacudir o mofo do ranso daqueles que no poder tratam seus eleitores como buchas de foguete, Somos o alvo para subirem seus degraus.
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