O homem sempre usa a inteligência para entender o que
acontece ao seu redor e, quiçá, prever o futuro, isto é, compreender a História.
Assim foi na antiguidade com Tucídides que quis entender as leis que a rege, na
Idade Média com Santo Agostinho descrevendo a presença da Providência nela, na
Idade Moderna Maquiavel procurou descobrir as leis da Política que a conduz, na
Idade Contemporânea Saint-Simon introduziu o ingrediente econômico e Augusto
Comte desenvolve a teoria dos Três Estados. Todos eles estenderam um olhar
transtemporal e supralocal. Além destes,
existem dezenas de outros. Hoje quero apenas me fixar num desses: Saint-Simon, que
estudou os períodos orgânicos e as crises na sociedade.
Conforme ele num período de época orgânica as sociedades
repousam sobre um conjunto de crenças e valores considerados válidos. As sociedades encontram uma justificativa para suas ações e limites
comportamentais. Há, por isso, uma legitimidade. E isto traz o equilíbrio
social. As pessoas encontram sua própria identidade no meio social. Os
comportamentos dos outros são previsíveis, assim como as próprias ações merecem
da sociedade uma aprovação. Então o mundo que rodeia as pessoas é considerado natural, isto é, é
assim por que deve ser assim.
Nos momentos de crise, porém, ocorre o inverso. Cada qual
acha que deveria ser diferente. Daí a desconfiança e o temor. O outro é visto
como um espião, ou inimigo. A sociedade é uma prisão. As instituições são vistas como grilhões que prendem.
Se tomarmos aleatoriamente como parâmetro três componentes da
convivência social – política, religião e
economia – pode-se aplicá-los a cada época e descobrir onde estava
assentada a normalidade ou o orgânico.
Na antiguidade as sociedades consideraram como válido as
cidades-estados, politeísmo e o escravismo. Na idade Média, império, o
catolicismo e o feudalismo. Na modernidade, os reinos, pluralismo cristão e o
comércio. Já no período contemporâneo temos o sistema representativo, a
liberdade religiosa e os primórdios da era industrial. E na atualidade?
Parece que vivemos o mais longo período e a mais aguda crise de
todos os tempos, isto por que perdemos o
referencial de valores. Concretamente nada mais tem valor real. Em política ainda temos o
sistema representativo, mas já não responde mais às demandas sociais. A
sociedade vive a era da informática, enquanto os políticos fazem discursos
vazios, para si mesmos e nem eles mesmos escutam ou levam a sério. Em religião
as crenças tornaram-se um self-service que cada um escolhe o que lhe agradar
mais. E em economia estamos diante de valores virtuais. São tantos bilhões, mas
a moeda não existe, pois é somente um número imaginário. Vivemos um
mundo virtual com a globalização da informação. Tudo é uma imagem virtual produzida a partir de números. A imagem se sobrepõe ao real. É como um brinquedo de
criança: faz de conta. “Faz de conta
que eu sou a mamãe, que você é papai, que a fulana é a tia...” Os valores deram lugar aos números. E não
são números sagrados, como queria Pitágoras, mas criadores de imagens, geradas por números.
O Eu não existe mais, tornou-se um número ou senha. A
família, um número de indivíduos convivendo no mesmo teto. A sociedade, um número x de habitantes.
Querem um exemplo? Para provar que existimos não basta nossa presença, temos
que apresentar o número de identidade. O próprio amor é uma imagem formada por números.
Diante de tal crise, onde buscar o equilíbrio? Todos
estamos sedentos de humanidade. Penso que seja através de um novo Renascimento,
isto é, voltarmos até onde nos desviamos - nos trocamos por números - encontrar
nossa identidade e a partir daí seguir. Só, então, encontraremos novamente o equilíbrio.
Meio triste esta realidade mas verdadeira.
ResponderExcluirAinda bem que crises um dia passam.
ResponderExcluirMundo virtual,viver fora da realidade,estamos nos tornando robôs...e a quem interessa?
ResponderExcluirNão temos volta,só fazendo um novo caminho.
ResponderExcluirEstamos sedentos de amor.
ResponderExcluirÉ verdade precisamos nos reencontrar para chegar ao equilíbrio.
ResponderExcluirÉ uma reflexão que dói porque, parece-me que o vazio para reencontro da nossa humanidade é cada vez mais longo.
ResponderExcluirTanta realidade me dói,como mudar ou voltar?
ResponderExcluirTalvez possamos encontrar o equilíbrio no fortalecimento da família,que mesmo em constante transformação ainda é o primeiro grupo ao qual pertencemos. É onde nos reconhecemos humanos,sociáveis,gente. Respeitando as regras de convivência estaremos aprendendo a importância do pertencimento,de ser parte desta pequena sociedade que levamos para nossa vida de adultos,muitas vezes reproduzindo ensinamentos e histórias de nossos pais. O mundo está em transformação,fomos esquecendo valores,rituais,fé. Não podemos voltar para mudar um tempo passado,mas podemos lutar para que o presente não seja sem esperanças,ainda há tempo para sentar na varanda,olhar o horizonte,jogar um bom papo fora e principalmente sentir que só o amor nos torna mais humanos e melhores.
ResponderExcluirPelo menos já sabemos que o capitalismo não supre todas nossas necessidades.
ResponderExcluirRenascimento não acredito,mas tenho fé em transformações espirituais.
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