Sociólogos, e estudiosos da Política, parecem convergir
para uma congênita associação entre: religião, política e partidos. Este
processo tem início em meados da Idade Média e início da Moderna. É visto como
a secularização dos pilares da religião. A religião não é mais vista como pilar
do controle social, função esta preenchida pelo direito. Aquele controle social
exercido pela religião a partir de uma crença interna foi substituído pela
força do Estado. O controle social foi substituído pela eficácia da força.
A religião, porém, deixou um componente na nova ordem: o
pluralismo. Este perpassa as instituições jurídicas provendo-as do princípio do
que pode e do que não pode. O direito, cuja maior parte é originária da
religião, deu origem ao princípio do pluralismo. Tudo aquilo que não proíbe, é
permitido. Este é o espaço do pluralismo, legado religioso cristão.
O inverso, em vez do pluralismo, teríamos o
totalitarismo, pois só seria permitido o
que fosse legal.
Alguns aspectos significativos do pluralismo:
1. Religião. O
cristianismo já nasceu plural. A Judeia dos primeiros tempos possuía inúmeras
crenças religiosas no seu seio. Pode-se destacar : saduceus, fariseus,
essênios, zelotes e seguidores de Herodes. Cada uma também formava partido.
2. Economia.
Eram inúmeras as atividades econômicas no tempo de Jesus. As mais
significativas eram agricultura, comércio e artesanato.
3. Moral. Cada
religião tinha sua própria moral. Da parte do Mestre não se conhecem
condenações desta ou daquela moral religiosa.
Embora outras religiões tenham a mesma origem que o
cristianismo, no entanto, foi no ocidente que encontrou terra fértil para o
pluralismo. Em outros lugares ou só em parte ou não se desenvolveu. Vejamos
alguns exemplos atuais de ausência de pluralismo. O caso fatwa (pronunciamento
oficial emitido por autoridade específica) que levou ao atentado Salman
Rushdie. Mesmo nos dias atuais o patriarca da Igreja Ortodoxa, Kirill, disse em
letras bem claras: “o ataque à Ucrânia é justificável em termos de uma
"guerra santa" contra os incrédulos ocidentais.”
É preocupante o íncubo dos populismos que se abrigam nos
grupos de cristãos radicais do ocidente que levam ao totalitarismo. Estes se
opõem ao modelo de sociedade individualista e ateia. Há uma teimosia e uma
resistência em abandonar as bases do cristianismo. O maior problema é que
resiste abandonar componentes de uma sociedade semirreligiosa e semileiga. Os
grupos radicais aproveitam-se ou para voltar às bases irracionais religiosas
pretendendo destruí-las de forma humilhante. Todos puderam ver no período do
Carnaval um Cristo arrastado pelas ruas do Sambódromo do Anhembi, em São Paulo,
desrespeitado e açoitado sem piedade. Ou Maria, Nossa Senhora, humilhada naquilo
que constitui o pudor íntimo da mulher.
Ser laico é manter-se equidistante tanto do conteúdo
religioso como do não religioso, mas nunca referir-se a ele com desprezo.
Parece que a mentalidade, o comportamento laico, não
consegue se desprender do conteúdo religioso. Por que esta insistência em
relacionar-se ao religioso. A sociedade já conseguiu através do direito poder
manter-se longe dos temas religiosos e, no entanto, insiste em buscá-los quando
se depara com questões aparentemente inexplicáveis como o faz o filósofo
esloveno Slavoj Zizek. Sugere que o desaparecimento da luta de classes chamou
de volta a questão religiosa. Com efeito, quando um determinado autor não
consegue encontrar uma resposta apela para a religião, não como explicação, mas
como acusatória. E nisso está o paradoxo. A religião que deveria ser o terreno
neutro da concórdia tornou-se a fogueira inquisitorial.
Nos dias atuais, quando tudo parecia pacificado –
religião longe da vida social- os conteúdos sociais com caráter racional e a
moral consensual embasando os comportamentos, surge no início do século XX o
filósofo alemão Walter Benjamin colocando novamente as cartas na mesa dos
conteúdos religiosos vestidos de outras roupagens. Benjamin afirma nada mais e
nada menos de que, o capitalismo é a nova religião que nos salva: pessoalmente
proporcionando um bem-estar e coletivamente o crescimento. Seu culto é puro,
sem dogmas e de interesse imediato. E o pendão que atrai e conduz a sociedade –
mesmo só como ideologia – é novamente o pluralismo. Mantendo-se como conteúdo
condutor o pluralismo é a tocha que reune a todos irmanados, os que concordam e
os que discordam, pois para discordar devem professar a pluralismo.
Se o estado falha, o povo procura segurança e busca a religião.
ResponderExcluirCapitalismo não responde mais as ânsias do vazio existencial.
ResponderExcluirMe parece que a luta de classes voltou, diferente, mais velada.
ResponderExcluirQue todos tenham a oportunidade de conhecer os ensinamentos de CRISTO, a verdade que liberta.
ResponderExcluirSempre acreditei que a força moral, tem na religião o suporte ideal.
ResponderExcluirConcordo, a única verdade é seguir os ensinamentos de CRISTO, sem decepções.
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