Continuando a alternância de postagens, o professor José
Maurício de Carvalho aborda uma questão já levantada neste espaço: o dinheiro
pode comprar tudo?
Os
valores e a imprensa
Os conflitos entre Israelenses e
Palestinos da faixa de Gaza (irmãos que se matam), a lembrança das Guerras do
Iraque e Afeganistão, os atentados terroristas em Nova York , Londres e
Madrid, além da violência que hoje em dia povoa o noticiário sobre São Paulo,
todos são episódios que nos colocam diante da quebra da moralidade. Há quem
argumente sem surpresa: o homem se mata desde que está na terra. E isto é
verdade, a moralidade é conquista íntima e não coisa da natureza. Contudo, em
outros tempos, não se tinha tanta consciência de que a vida humana é nosso
maior valor. Também não era claro que ideias divergentes sobre Deus não
justificam matar ninguém. E para este reconhecimento contribuiu não só os dois
milênios de cristianismo e outro tanto de tempo das religiões presentes entre
os homens, mas os dois mil e seiscentos anos de Filosofia. Todo este
reconhecimento converge para a dignidade humana consolidada na Carta dos
Direitos Humanos, em outros documentos da ONU e nas filosofias do Direito que
embasam as Cartas Constitucionais da maioria dos povos.
Além da violência um outro episódio
recente jogou pó de mico na mídia: a venda da virgindade, pela internet, por
uma jovem catarinense (reportagem da Veja
de número 47/2012). O assunto colocou em evidência a incomoda questão da venda
de tudo, num mundo que mergulhou, desde o último século, no materialismo e
hedonismo angustiado. Enfim, de repente a imprensa ficou tocada com a
prostituição, embora milhões de jovens se vendam diariamente. Até agora o fato
preocupava pouco. Mulheres vendem seus corpos há tanto tempo, apesar do fato
ferir a humanidade delas, como os filósofos ensinam desde a antiga Grécia.
Cristo, que não era filósofo, protagonizou um encontro maravilhoso com uma
prostituta, salvando-a de morrer apedrejada, mas orientou-a a não continuar a
vender o corpo. Muitas vezes é a miséria que leva as mulheres à prostituição e
no caso não faz sentido falar de desumanidade, pois é a sobrevivência que está
em jogo, a própria e a da família.
Dar-se conta, como novidade, de que nem
tudo em nossa existência pode ser colocado à venda é deparar-se com uma questão
tão velha como a humanidade. Entretanto se isto chama atenção agora este é um
bom momento para voltar ao assunto. Popularizou-se o dito que tempo é dinheiro,
mas só é no mercado. Tempo é o tecido de nossas vidas, é do que dispomos para
amar e construir o sentido de nossa existência.
Não custa recordar que, como ensinou
Max Weber em A ética protestante e o
espírito do capitalismo, o capitalismo floresceu associado à uma visão
religiosa de mundo. Portanto, marxistas de plantão, nada de culpar o sistema e
desviar a atenção das escolhas. A justificativa para o trabalho árduo e
quotidiano não era, no início dos tempos modernos, o enriquecimento, mas
completar a criação divina. E se o enriquecimento vinha ele era indício de
salvação. Porém se o dinheiro levasse ao luxo suntuário ou luxuria o sujeito
estava embarcado na primeira classe para o inferno.
Há muitas coisas que o dinheiro não
compra: a dignidade, a honestidade, a amizade, a veracidade e outros valores
fundamentais para a vida social. O dinheiro pode levar à indignidade, inverdade
ou a desonestidade, pois muitos valores não são assegurados pelo dinheiro. O
dinheiro não assegura, por exemplo, o respeito e a amizade, só a bajulação. O
respeito nasce na consciência. Quem precisa do dinheiro para respeitar o outro
não reconheceu nele dignidade e mostra sua própria vileza. A riqueza é um tipo de valor, ajuda a
melhorar a vida, mas não guia todas as relações entre os homens, pelo menos não
quando pensamos eticamente. E a moral não é descartável, mas o que firma o
tecido social. Mesmo que alguém pague um médico para fazer um procedimento
delicado ou ao psicólogo para tirá-lo da lama existencial o que garante, em
última instância, que o profissional dará o melhor de si é a sua consciência
moral.
Perfeito valeu.
ResponderExcluirNeste momento era tudo que queria ler.
ResponderExcluirDiria minha vó,tempos bicudos.
ResponderExcluirPrecisamos urgentemente rever nossos valores.
ResponderExcluirBons tempos onde a palavra dita valia um contrato sem se firmado,carimbado e tudo mais.
ResponderExcluirÉ vivemos uma crise,perdemos os valores.
ResponderExcluirBom,muito bom.
ResponderExcluirHá muitas coisas que o dinheiro não compra: a dignidade, a honestidade, a amizade, a veracidade e outros valores fundamentais para a vida social,eis a verdade dita com todas as palavras,professor.
ResponderExcluirPois é falar de moral,ética e todas regras que deveriam se perpetuar na sociedade sempre anima,vamos que caia em alguma terra fértil e germine,valeu a intenção.Quando se estuda moral aprende-se que é o comportamento humano no meio social,mas que se adquire e desenvolve pela educação.Eis ai a resposta para entendermos o que acontece e o que poderá acontecer no futuro.Afinal a educação está precária,as famílias deixaram de transmitir valores a seus descendentes,as regras,rituais,tornaram-se historias do passado.A menina se vendendo,uma família sem valores,uma sociedade decadente totalmente sem fronteiras e hipócrita que coloca em manchete tal absurdo para incentivar outras meninas venderem seus corpos.
ResponderExcluirA imprensa visa lucros,a virgem faz por dinheiro.Moral e ética?
ResponderExcluirO jornalista quer manter o emprego,a virgem pode fazer muitas plasticas para ajudar o ego dos inseguros e, assim ser uma mercadoria atrativa,os da imprensa visam sempre manchetes escandalosas,e o que?DINHEIRO.
ExcluirComplicado mesmo hein?
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