Desde que publicou o livro La Rebelión de las Masas, o filósofo espanhol José Ortega y Gasset colocou em discussão sua tese de que se vive uma crise de moralidade. Essa crise não significa que as pessoas estão menos propensas a fazer escolhas éticas, como uma leitura superficial pode sugerir. Em outras palavras, não significa que os políticos, os policiais, os agentes do Estado, as pessoas em geral de hoje são mais desonestas que as de ontem. Não é exatamente disso que se trata. Pode ser que o fenômeno indicado por Ortega esteja na raiz disso e ajude a explicar porque as pessoas estão menos atentas aos ideais éticos, mas a questão é mais profunda.
O
que parece explicar o enfraquecimento moral é uma fragilização dos controles do
Estado, um movimento que veio com o liberalismo conservador, uma onda que se
iniciou no final do século passado. O movimento foi liderado por Margareth Thatcher
e Ronald Reagan, a primeira
ministra inglesa e o presidente americano. Juntos articularam um programa
político que visava a redução do papel do Estado na vida da sociedade com um
agressivo programa de privatizações ancorado no chamado Consenso de Washington
que serviram de modelo para vários países, inclusive para o Brasil. Esse
projeto político pretende a redução da presença do Estado na economia, pela
valorização do mercado, conforme ensinava Friedrich Hayek. Esse projeto incluía
privatizações de estatais, redução de impostos diretos e sobre a propriedade e
aumento dos impostos sobre o consumo, combate a força dos sindicatos,
eliminação do salário mínimo e acabando com aquilo que ficara conhecido como
Estado do bem estar social, que ganhara força entre os estados democráticos
depois da crise de 1929.
O movimento
conservador no ocidente foi paralelo ao fim da URSS decorreu do fracasso das
reformas pretendidas por Mikhail
Gorbachev,
presidente e secretário-geral do Partido Comunista Soviético, eleito em 1985. A
tentativa de renovação do comunismo veio com medidas que ficaram conhecidas
como “Perestroika” e
“Glasnost”.
Essas reformas vieram com a tentativa de reduzir os gastos como o auxílio a
países comunistas como Cuba e Coreia do Norte, diminuir a presença de tropas
soviéticas em guerras setoriais, como a do
Afeganistão, e os custos da política armamentista. Foi uma
tentativa fracassada de tornar mais eficiente o controle estatal da economia.
Essas medidas aceleraram desavenças internas e não produziram o fortalecimento
da economia. O fim do socialismo real colocou em cheque toda a ação social do
Estado numa espécie de divinização do mercado.
De
modo geral o enfraquecimento dessa presença do Estado na sociedade afrouxou o
controle estatal sobre o mercado e os donos do capital (nacional e
internacional) corromperam os agentes públicos nos Estados onde a força da
organização estatal era menor. Em outras palavras a governança piorou em países
como o Brasil, mas pouco em lugares como a Noruega, Estados Unidos ou Canadá. E
quando se fragiliza o Estado, não como controlador da economia, mas como agente
confiável de controle social, há uma decadência dos costumes e o desrespeito a
ordem legal. O que ocorreu no Haiti é prova disso. O Estado praticamente acabou
em razão do grande desastre natural e da fragilidade das autoridades. A ONU
mandou para lá uma força militar internacional para assegurar o respeito às
leis que o Estado já não garantia.
Na
perspectiva individual, a moralidade é sempre resultado da escolha pessoal e
isso significa que o homem de ontem ou de hoje se coloca diante do dilema moral
toda vez que escolhe. O que Ortega observou é que estávamos num tempo onde o
compromisso com a excelência foi deixada de lado ou porque os homens não tinham
um conhecimento à altura do tempo ou se comportavam como criança mimada, que
quer coisas que sabe que não deve. Essa circunstância sugere que mesmo se a
governança do Estado melhorar e o controle sobre os agentes públicos for muito
eficiente, a sociedade permanecerá em crise moral se o homem contemporâneo não
reencontrar o caminho da valorização da excelência pessoal nas tarefas que tem
para executar. É essa a dimensão do desafio a enfrentar.
Realmente pensei, acertou o alvo.
ResponderExcluirPura verdade.
Como vc coloca é um grande desafio.
ResponderExcluirTalvez seja está verdade, se colocar como criança, o EU acima da coletividade.
ResponderExcluirComparar o homem de antes e o de hoje, as diferenças sao gritantes, no caratec.
ResponderExcluirA fragilidade das autoridades, a falta de ética, tudo corre solto, falta freio.
ResponderExcluirBem estar social só para os políticos, a farra com dinheiro público, o povo com migalhas, morrendo, sem Saúde.
ResponderExcluirFalar de moralidade, me causa sofrimento e e muita desilusão
ResponderExcluirOs homens se tornaram mercadoria, uma geração perdida pelas mãos dos donos do poder, idosos