Estando
recentemente na Andaluzia-Espanha para evento acadêmico não poderia deixar de
visitar, ainda que apressadamente, alguns lugares representativos da região. E
fui a eles com o olhar encantado do turista e crítico do estudioso. De um lado,
desejoso de conhecer elementos da presença árabe na região, em razão da
influência que deixaram na Península Ibérica em Portugal e Espanha e de outro,
querendo entender como os espanhóis mantêm esses monumentos grandiosos e o
significado que o turismo tem para eles.
Para
exemplo da presença árabe nada é mais representativo que o Palácio de Alhambra
(Calat al Hambra ou fortaleza vermelha), o magnífico monumento situado junto à
cidade de Goa e reconhecido pela Unesco, como patrimônio da humanidade, desde
1984. Este maravilhoso monumento foi edificado entre os anos de 1333-1391 pelo
sultão Yusut I e seu filho Mohamed V. Os reis de Castela tomaram a fortaleza um
século depois, em 1492, ano em que Colombo chegou à América. Portanto, um ano
de glória para a Espanha. O Palácio ainda conserva parte dos arabescos
originais em ouro, vermelho e azul, boa parte deles reconstituída em processos
de restauro bem conduzidos. No palácio vê-se a presença da água, em fontes e
canais muito importante na cultura árabe. Muita coisa foi feita no interior da
fortaleza posteriormente, inclusive um mosteiro. Unindo o magnífico conjunto de
edificações um maravilhoso jardim com canteiros e fontes. Como deles não havia
qualquer registro histórico fidedigno foram reconstituídos de modo a dar uma
ambiência próxima ao que seria o lugar. Também foram levantadas de novo as
torres que o exército de Napoleão Bonaparte explodiu. Todo esse ambiente
recomposto e maravilhoso remete à Idade Média e a ocupações posteriores.
Contudo, muito do que ali está é uma recomposição pura e simples, boa parte sem
qualquer purismo histórico, apenas para dar majestade ao que já é monumental.
Outro
conjunto de edificações que chama atenção é a Plaza de España em Sevilla, o
mais impressionante conjunto arquitetônico da cidade. Construída em 1929 para a
exposição ibero americana, a Plaza de España foi levantada em tijolo e cerâmica
em estilo neo-clássico e gótico, com um canal interior e semi-circular e quatro
pontes em estilo mourisco, tudo ornado por um jardim maravilhoso. Apenas para
lembrar os estilos arquitetônicos empregados neste conjunto de edificações
estavam quinhentos anos deslocado do seu tempo, como os jardins e fontes de
Alhambra (patrimônio cultural da humanidade) é uma reinvenção.
Felizmente
para os espanhóis, os milhares de turistas que visitam o monumento e deixam uma
fortuna da região não se colocam essas questões acadêmicas que muito encantam
as autoridades e técnicos preservacionistas no Brasil. E isso para não falar de
cidades inteiras que estão sendo reerguidas em outros países europeus apenas por
serem referência afetiva para os povos, mas que naturalmente depois de refeitas
irão arrecadar milhões de dólares anualmente. É uma boa lição a ser aprendida
se quisermos ter de fato um turismo na região que falha a pena.
Estava lendo e imaginando como deixamos de aproveitar as oportunidades. Somos um país de tantas belezas para serem preservadas.
ResponderExcluirAs torres são lembranças do poder.
ResponderExcluirAo turista a alegria da viagem, as novidades e fotos.
ResponderExcluirPara o estudioso creio que provoca em si sofrimento quando o conhecimento automaticamente o leva analisar a evolução da sociedade. Com certeza um dia a história contará como destruímos a natureza de nosso país.Nossos filhos e netos nos julgarão se souberem aproveitar para evoluir lutando pela sobrevivência de nosso patrimônio ambiental e cultural.
Uma bela e minuciosa REFLEXÃO.
ResponderExcluirTécnicos preservacionistas no Brasil, interessante ainda temos esperança se assim afirma teu artigo.
ResponderExcluirUm passeio muito legal.
ResponderExcluirSempre aprendemos nestas viagens.
As realidades diferentes, o olhar critico do conhecedor, observador e analista da realidade e da importância história do país que visita.
ResponderExcluirA maioria são visitantes deslumbrados que só pensam no consumismo e em si mesmo. Assim vai vazio e volta só com as malas cheias.
Arguta observação.
ExcluirReflexão de um viajante observador.
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