Quando se perde um ente querido da família costuma-se preservar o que deixou. Seu guarda-roupa, objetos pessoais, local de trabalho. Foi o que aconteceu com a filha Serena de Giulio Andreotti, falecido em 2013. Passados quatro anos animou-se a examinar o acervo de cartas enviadas e recebidas. Qual seu espanto quando descobriu entre as cartas um
romance inédito do pai. Imediatamente, ao saberem, as editoras se interessaram e o romance será publicado em dezembro deste ano pela Nave de
Teseo.
A importância do romance, intitulado, “Il Buono Cattivo” (O Bom Mau), reside na peculiaridade de ser ambientado no fragor da batalha do referendum sobre o divórcio na Itália, em 1974. De um lado o Vaticano contra e de outro um Parlamento e sociedade divididos a favor ou contra. Este fato histórico significava para a Itália ou continuar um estado quase confessional, e intimamente ligado aos desejos do Vaticano e de outro tornar-se um estado totalmente laico.
A importância do romance, intitulado, “Il Buono Cattivo” (O Bom Mau), reside na peculiaridade de ser ambientado no fragor da batalha do referendum sobre o divórcio na Itália, em 1974. De um lado o Vaticano contra e de outro um Parlamento e sociedade divididos a favor ou contra. Este fato histórico significava para a Itália ou continuar um estado quase confessional, e intimamente ligado aos desejos do Vaticano e de outro tornar-se um estado totalmente laico.
O romance assume importância, pois foi escrito, na época,
por alguém que foi um dos maiores líderes do partido da Democracia Cristã,
exerceu por sete vezes o cargo de Presidente do Conselho (primeiro ministro),
senador vitalício. Não escapou as acusações de Mani Pulite por associação com a
máfia, no entanto, a justiça não conseguiu condená-lo.
Na época, Andreotti, em que pese ser do partido
majoritário, o da Democracia Cristã e recém deixado o governo, não se envolveu
“cum ira et studio” na batalha do referendum sobre o divórcio que dividiu a Itália pelo SIM ou pelo NÃO. Preferiu
uma atitude sutil, moderada. Provavelmente, como político astuto, já sabia o
desfecho, ou previa. Farejava os sinais dos tempos, em que pese fosse católico
devoto e frequentador do Vaticano, via que a sociedade não pensava assim. Já
não era mais nos tempos de Alcide di Gasperi, o líder político-católico,
fundador da Democracia Cristã, perípdo no qual se dizia: Di Gasperi, na Missa, fala com
Deus e Deus fala com o padre. Por isso retirou-se estrategicamente e participou
a seu modo do confronto. Sem o fervor do líder do partido do Escudo Cruzado,
Gabrio Lombardi ,e muito menos deu ouvidos às profecias milenaristas de
Amintore Fanfani e outros líderes semelhantes da Democracia Cristã de braços
dados com o com alguns outros partidos. Encarou o pleito com frieza, ou por
desencanto ou por prever o resultado. Podia-se dizer que estava com os pés no
chão, sem ilusões.
No entanto, em que pese sua suposta indiferença e e
passividade, o fracasso não estava nos seus planos. A prova está no texto
encontrado, escrito no galope do desenrolar do processo eleitoral, abordando
questões ético-políticas, nas quais a Itália se engalfinhou ferozmente.
O enredo envolve uma pensãozinha no lago Como. Os
personagens: a patroa, a senhora Falconi e os hóspedes. O mais importante, o
advogado Pedro Paulo Santulo e o próprio narrador. Além de temas de tribunais
eclesiásticos aqui entram outros temas, tornando a narrativa cativante. A filha
de Andreotti, ao ler o romance testemunha que se pode “escutar” o pai, claro
nas idéias, ora benevolente, ora irônico, consigo mesmo e com os demais.
Na verdade Andreotti não estava de acordo com a consulta
popular. Achava que o assunto era ainda prematuro e que melhor seria
procrastiná-lo para melhor amadurecê-lo.
A Itália caminhava a passos rápidos rumo à laicização. Um
dos parâmetros que podia medir externamente a religiosidade era a participação
à missa dominical. Já se podia perceber o rápido declínio neste culto
religioso. Quanto ao uso de contraceptivos, o clero posicionou-se contrário. No
entanto, a taxa de natalidade diminuía a olhos vistos. Não menos dogmática era
a postura em relação ao aborto. Entretanto, os abortos clandestinos aumentavam
dia à dia, igualando-se aos nati-vivos. Mas a de maior repercussão, mormente
para a Democracia Cristã, foi a questão
do divórcio.
Em dezembro de 1970, num debate que durou aproximadamente cem horas, foi aprovada a lei da instituição do divórcio. Isso aconteceu graças à união dos deputados católicos aos deputados dos partidos laicos, desafiando, inclusive, a orientação do Vaticano. Amintore Fanfani, acreditando numa maioria do eleitorado católico, e, que fosse fiel às orientações do partido e da Igreja, propõe a abrogação da lei através de uma consulta popular. A Igreja, porém, parece que percebia melhor a tendência da sociedade despercebida pelo próprio líder Fanfani da Democracia Cristã. Até mesmo no interior do partido havia oposição ao referendum como foi o caso de Flaminio Piccoli. Diante da insistência da Fanfani pelo referendum, a direção do partido, em reunião de 9 de fevereiro de 1974 estabeleceu a posição do partido perante o referendum. Deveria votar pela abrogação da lei embora optasse por manter os temas religiosos fora da campanha eleitoral. Os argumentos contra o divórcio não deveriam ser de caráter religiosos mas de ordem social e civil. Além disso, se deveria manter a porta aberta ao diálogo com os católicos contrários à abrogação, ou os católicos do não. Decidiu-se, também, manter o atual governo bem como a aliança que o sustentava fora da contraposição. Para obter os votos necessários ao SI o governo e seus aliados, fizeram de tudo. O líder do do Partido Socialista italiano, Bettino Graxi, ao ser entrevistado em quem deveria votar dizia laconicamente: vão à praia. A abstenção favoreceria o Si. Mas nada adiantou.
Em dezembro de 1970, num debate que durou aproximadamente cem horas, foi aprovada a lei da instituição do divórcio. Isso aconteceu graças à união dos deputados católicos aos deputados dos partidos laicos, desafiando, inclusive, a orientação do Vaticano. Amintore Fanfani, acreditando numa maioria do eleitorado católico, e, que fosse fiel às orientações do partido e da Igreja, propõe a abrogação da lei através de uma consulta popular. A Igreja, porém, parece que percebia melhor a tendência da sociedade despercebida pelo próprio líder Fanfani da Democracia Cristã. Até mesmo no interior do partido havia oposição ao referendum como foi o caso de Flaminio Piccoli. Diante da insistência da Fanfani pelo referendum, a direção do partido, em reunião de 9 de fevereiro de 1974 estabeleceu a posição do partido perante o referendum. Deveria votar pela abrogação da lei embora optasse por manter os temas religiosos fora da campanha eleitoral. Os argumentos contra o divórcio não deveriam ser de caráter religiosos mas de ordem social e civil. Além disso, se deveria manter a porta aberta ao diálogo com os católicos contrários à abrogação, ou os católicos do não. Decidiu-se, também, manter o atual governo bem como a aliança que o sustentava fora da contraposição. Para obter os votos necessários ao SI o governo e seus aliados, fizeram de tudo. O líder do do Partido Socialista italiano, Bettino Graxi, ao ser entrevistado em quem deveria votar dizia laconicamente: vão à praia. A abstenção favoreceria o Si. Mas nada adiantou.
O resultado não podia ter sido mais desastroso para a
Democracia Cristã e seus aliados.. Os divorcistas, isto é, os partidários do “No”, pois não
queriam a abrogação da lei do divórcio, conseguiram 59,1%, sobre uma população
de 88% que compareceu à votação.
As conseqüências se fizeram sentir de imediato:
1. Divórcio entre a Democracia Cristã e Vaticano. Na prática, romperam relações.
2. O partido da Democracia cristã fracionou-se internamente.
3. A Democracia Cristã perde a maioria.
4. Vários filiados e políticos a abandonaram..
5. Perdeu-se a credibilidade nos valores do partido Democracia Cristã.
1. Divórcio entre a Democracia Cristã e Vaticano. Na prática, romperam relações.
2. O partido da Democracia cristã fracionou-se internamente.
3. A Democracia Cristã perde a maioria.
4. Vários filiados e políticos a abandonaram..
5. Perdeu-se a credibilidade nos valores do partido Democracia Cristã.
6. Os
políticos começaram a envolver-se em corrupção.
Uma grande história, os fatos são grandes.
ResponderExcluircom certeza vem ai, um romance histórico, vamos aguardar.
ResponderExcluirSem a interferência da igreja, acabaram-se os pecados, cada um responde por seus atos.
ResponderExcluirAs religiões estão perdendo espaço e poder, estão acabando estas prisões.
ResponderExcluirSe discute tanto questões como aborto, fico a pensar, será que temos direito de interromper uma vida?
ResponderExcluirUm documento não não deveria nos tornar propriedade de outra pessoa, as vezes vemos casamentos que são verdadeiras prisões.
ResponderExcluirQuestão política, sempre o jogo de interesses.
ResponderExcluirO divórcio acontece entre pessoas adultas, o aborto é contra a vida indefesa, sem voz.
ResponderExcluirConcordo, é um ato do desespero, negação de amor, uma vida interrompida,
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