O pensamento ocidental seguia sem significativas rupturas
até o século XVIII, uma trajetória que, iniciada com Aristóteles na antiguidade
e seguida por Santo Tomás na Idade Média. Quando se ingressa no período
moderno-contemporâneo começam as turbulências com Descartes e culmina com Kant
cujas raízes podem ser encontradas em Platão. O pomo da discórdia foi a
concepção gnosiológica, mais precisamente a questão da metafísica. O que conhecemos
e como conhecemos o mundo externo, inclusive nós, pois podemos ser objeto
de conhecimento de nós mesmos.
Certa vez um biólogo me disse: eu jamais quereria estudar
ciências humanas. Por quê? - perguntei. Por que nunca há nada definitivo. Qualquer
conteúdo sempre deve ser retomado desde o início. Os problemas sempre voltam à
tona. Nas ciências, há marcos de não retorno. É definitivo. Não há necessidade
de se estudar a história da física, da biologia e mesmo da matemática. Na
filosofia, porém, não há momentos de antes e depois. Sempre é agora, sempre a
questão é retomada embora tenha sido estudada anteriormente. Claro que o
conhecimento filosófico tem marcos também, mormente os valores, mas
diferentemente da ciência, são sempre questionáveis.
Vejamos o caso da dignidade da pessoa humana, valor este
surgido no período medieval. Este valor, no período, se restringia à concepção
de supremacia absoluta da pessoa. Era um valor sem permutas. Atualmente este
valor pessoa humana se estendeu ao direito – como proteção - na economia –
atribuindo um valor mínimo digno pelo trabalho – na administração – não
invadindo a esfera individual ou privada. O contínuo questionamento possibilita
o avanço e o resultado é seu aperfeiçoamento global. O conhecimento filosófico
é circular, pois todas as dimensões
progridem.
Já na ciência o avanço é linear. A ciência possui uma
trajetória traçada por uma linha reta que inicia num determinado ponto e
dirige-se ao ponto seguinte e este ao próximo.
Retomando, em filosofia uma das questões mais debatidas é
a relação sujeito-objeto. Foi o que precisamente fez Kant: contudo,invertendo a postura
gnosiológica.. Até então o objeto imperava soberano sobre o sujeito. Este
estava subordinado ao objeto. O princípio: nihil est intellecto quod prius non
fuerit in sensu, de Aristóteles (Nada há no intelecto que antes não tenha
passado pelos sentidos). Kant realizou a revolução copernicana. Em vez de os
objetos penetrarem na mente, são regulados pela mente. A mente lhes dá forma e
matéria. Por isso, se quisermos conhecer os objetos devemos primeiramente
conhecer a mente. É o que estabelece na Crítica da Razão Pura que estuda as
categorias, ou as propriedades de nosso conhecimento que reflete a realidade.
Daí que o princípio se inverte: nihil este in sensu quod prius non fuerit in
intelellecto (nada há no mundo real que antes não tenha passado pelo
intelecto).
As consequências de tais posturas são revolucionárias.
Tomemos, por exemplo, a questão do conhecimento de Deus, liberdade,
imortalidade. Pela metafísica anterior a Kant havia possibilidade de provar a
existência de Deus. Vejam as Cinco Vias de Santo Tomás. Com Kant, para chegar a
tais realidades, a mente deveria ter as categorias plantadas nela, tais como
infinito, eterno, todo-poderoso, imortal. Como a mente é destituída de tais
categorias não pode ter acesso a estes conhecimentos. Nossa mente está
aparelhada somente para conhecer o mundo sensível.
O pensamento de Kant é retomado em Hegel e este é pensado
por Marx. Até aqui o conhecimento da realidade provinha da observação da
experiência. Mas desde que se conhece a realidade pelo que está na mente então
podermos conhecer a realidade social e política nas categorias mentais. Basta
estudar o pensamento que se conhece o mundo social e político. A consequência é
a inversão, O conhecimento ao se deparar com a experiência constata que é imperfeita, multifacetada, tem avanços e recuos.Ao se dispensar a experiência, tem-se tão somente o que se crê que
sejam categorias mentais. Estas apresentam uma visão de mundo perfeito, uno, que conhece somente o rumo da perfeição. Tudo se encaixa, flui perfeitamente.O conhecimento é um mundo igualitário no qual as
diferenças são abolidas na aplicação prática. Uma organização política do topo
para as bases na qual são excluídas as divergências. O direito oriundo do
pensamento estatal através de seu representante. Partido único. Imprensa unívoca. A educação coordenada pelos ditames de ordens de dirigentes. Enfim, um projeto emanado do que se acredita que sejam as categorias da mente e, como resultado, uma visão que abrange a totalidade.
Felizmente o próprio Kant se deu conta e escreve outro livro dando a dica: Crítica da razão PRÁTICA. Aí tudo se recupera novamente: Deus, imortalidade da alma, ética e moral, liberdade, enfim o que vinha sendo praticado até seu aparecimento. No entanto, seu pensamento criou vida própria e as consequências todos conhecemos.
Felizmente o próprio Kant se deu conta e escreve outro livro dando a dica: Crítica da razão PRÁTICA. Aí tudo se recupera novamente: Deus, imortalidade da alma, ética e moral, liberdade, enfim o que vinha sendo praticado até seu aparecimento. No entanto, seu pensamento criou vida própria e as consequências todos conhecemos.
Muito interessante, conhecimento é tudo.
ResponderExcluirA filosofia tem respostas inquestionáveis,nos orienta.
ResponderExcluirNós não nos conhecemos, e não nos entendemos.
ResponderExcluirProcuramos conhecimento, devoramos livros de auto ajuda e temos medo de ficarmos sozinhos com nós mesmos. precisamos entender nosso EU.
A filosofia questiona, eu penso qual o proposito desta estrada que percorro.
ResponderExcluirKant revolucionou, melhor não tivesse discutido suas ideias, a ignorância as vezes é benéfica.
ResponderExcluirConcordo, todo dia me pergunto, quem sou eu? Se vim, volto para onde? Porquê? O tempo? Muito complicado.
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