Se
as ações humanas fossem pautadas somente pela racionalidade, liberdade e
vontade soberana haveria possibilidade limitada de progresso. Supondo-se que
o agir humano fosse igual a seres imaginários puros, como anjos caso
existissem, a realidade sempre permaneceria idêntica. A causa do progresso está
justamente na imperfeição, na possibilidade de erro e conserto, na reflexão
sobre o imperfeito. O ato perfeito não poderia causar outro ato mais perfeito,
senão o primeiro não seria perfeito. Por isso, a mudança, o progresso e
retrocesso, estão ínsitos à condição humana. Anjos, cujas ações são racionais
puras, livres de qualquer influência, quistos pelo que possuem de perfeição,
não conseguem progredir em
nada. Alguma religião afirma que o mundo transhumano tenha se
modificado em algo? Que a divindade tenha promovido uma perfeição, algum
melhoramento? Todas são unânimes em afirmar o pronto, acabado, imutável.
Poderia
alguém se perguntar qual desses mundos é melhor? Os protótipos da humanidade,
Adão e Eva, fizeram-se mesma pergunta. O que era melhor: o paraíso perfeito ou
a terra de espinhos e abrolhos? É melhor ser imutável ou mutável? Não conhecer
o erro e não praticá-lo ou conhecê-lo e poder cair nele?
O
progresso é fruto de nossos instintos auxiliados pela razão. Sem vaidade não
haverá ninguém que queira se sobressair aos demais. Sem orgulho não haveria alguém que quisesse mandar no maior número de pessoas possíveis. Sem
ganância não haveria ninguém que quisesse acumular mais do que pode consumir.
Sem luxúria não haveria ninguém que desse presentes a não ser a sua mulher. Sem gula,
não haveria centros de gastronomia, sofisticação de comidas e bebidas,
restaurantes afamados.
O
estado acima descrito leva á competição de todos contra todos. É o típico estado natural. É uma guerra sem armas de todos contra todos. Disso decorre uma pergunta: como será possível o progresso na
iminência da autodestruição?
É possível se pudermos estabelecer regras de convivência social e liberdade de ação individual. Em outras palavras, é possível se conseguirmos transformar os vícios individuais em virtudes públicas. É questão posta por Mandeville, e a resposta de Rawls. De um lado temos os vícios individuais impulsionadores do progresso e de outro lado temos a ética social garantindo a convivência pacífica.
É possível se pudermos estabelecer regras de convivência social e liberdade de ação individual. Em outras palavras, é possível se conseguirmos transformar os vícios individuais em virtudes públicas. É questão posta por Mandeville, e a resposta de Rawls. De um lado temos os vícios individuais impulsionadores do progresso e de outro lado temos a ética social garantindo a convivência pacífica.
Com
efeito, Bernard Mandeville, na conhecida Fábula das Abelhas descreve uma colmeia
em dois momentos: no primeiro, sob a égide do egoísmo privado e no segundo, sob
o império da virtude pública.
Enquanto
a colmeia era regida pelo egoísmo prosperava e todos os seus habitantes eram
felizes. Os vícios grassavam nesta comunidade. Os jurisconsultos se ocupavam de
manter a animosidade entre os litigantes, os médicos preferiam a reputação à
cura das doenças. Não se importavam com as pessoas, mas procuravam apenas
conquistar a simpatia das empresas farmacêuticas. Os religiosos apenas se
preocupavam em benzer a colmeia. Eram ignorantes, preguiçosos, avaros e
vaidosos. Os soldados, fugitivos da guerra eram cobertos de honras. Os que se
empenhavam na guerra perdiam um a um seus membros até que recebiam uma
miserável pensão. O rei da colmeia, uma vergonha. Os ministros do rei faziam de
tudo para enganar a coroa, sem falar que saqueavam descaradamente o tesouro.
Gastavam perdulariamente embora seus salários fossem mesquinhos. A justiça que se
gabava de ser cega, enxergava muito bem o brilho do ouro. A balança, de tanto
peso de presentes e propinas, havia pendido para um dos lados chegando a cair.
Os políticos do Brasil inverteram a Fábula. Os atores se apropriaram do resultado das virtudes públicas e as carrearam para vícios individuais. A ética social converteu-se em ética individual. E aí só prosperaram vícios individuais.
Os políticos do Brasil inverteram a Fábula. Os atores se apropriaram do resultado das virtudes públicas e as carrearam para vícios individuais. A ética social converteu-se em ética individual. E aí só prosperaram vícios individuais.
Bom demais,somos humanamente imperfeitos.
ResponderExcluirMas mesmo invertida a fábula,nós podemos mudar a história.
ResponderExcluirPoderíamos tecer teias sociais pensando sempre no coletivo,somos mais quando nos fortalecemos.
ResponderExcluirMuito bom,gostei professor.
ResponderExcluirConcordo,é um belo texto REFLEXÃO.
ResponderExcluirConcordo com esta afirmação:É possível se pudermos estabelecer regras de convivência social e liberdade de ação individual.
ResponderExcluirMuito bom. Ótimo para este momento de mais greves para próxima semana. CONVIVÊNCIA SOCIAL.
ResponderExcluirAs nossas diferenças são importantes no pensar coletivo.
ResponderExcluirGostei da profundidade da reflexão,mas palavras até me faltam,valeu.
ResponderExcluirTudo precisa ter medida certa,competição com ética vira sucesso.
ResponderExcluirMuito bom,Reflexão, realmente se é para pensar,seu olhar é instigante,mas valoroso e lógico, só chegamos até aqui porque somos seres totalmente diferentes com imperfeições, ambiciosos suficientemente para almejar o progresso.
ResponderExcluirE graças aos ditos pecados por soberba,inveja e outros assim considerados o mundo está vivendo o grande desenvolvimento.
Mas se o homem não fosse a luta,não teríamos as facilidades que hoje tornam nossos dias menos cansativos .Claro pagamos caro por tudo isto,enquanto alguns alimentam seu ego,outros abrem mão de prazeres e dividem seus inventos para alimentar sua ganância,mas somos moldados no capitalismo e,não vivemos e nem sobrevivemos sem garantir nossas necessidades.
O orgulho,a inveja,a ambição e muitos outros vícios trouxeram grandes benefícios para a humanidade como aprendizagem,evolução e mesmo o retrocesso. Se
somos seres em evolução lutando contra nossos defeitos chegará o dia que todos serão irmãos na convivência,imperfeitos,éticos e solidários.
Pensar,pensar isto tudo me cansa.Quero uma sombra e uma cacimba.
ResponderExcluirOs defeitos para uns são a causa de crescimento para outros.Mas éticos devemos ser.
ResponderExcluirAs pessoas dão o que tem,ética virou artigo de luxo.
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