O idealismo alemão foi uma das
manifestações do romantismo filosófico, existiram outras. No entanto, esse idealismo
foi o movimento romântico mais significativo e teve vínculos profundos com a
literatura romântica. Suas características marcantes foram: a crítica a uma
visão mecânica da natureza, que vinha do início da modernidade e a recusa da
consciência transcendental imóvel juntamente com a eliminação do dualismo mundo
em si/ consciência, ambas postas pelo kantismo.
O maior dos idealistas alemães foi Georg
Wilhelm Friedrich Hegel, cujas teses marcantes foram: a construção de um
sistema filosófico com a pretensão de englobar todo o real integrando uma
filosofia da natureza com a do espírito; o entendimento de que o real é captado
por uma dialética triádica, com tese, antítese e síntese e a compreensão que a
história registra os movimentos de uma razão absoluta no tempo.
Na História da Filosofia Contemporânea (São João del-Rei: UFSJ, 2014,
169 p.) pudemos apresentar Georg Hegel como cidadão de Stuttgart. Ele nasceu:
“em 1770, num momento importante da história da Europa. Em 1789 ocorreu a queda
da Bastilha, a fortaleza usada pelos reis de França para prender principalmente
os adversários do regime. Começava a Revolução Francesa que implantou a
República e eliminou o governo monárquico daquele país. O fato repercutiu em
toda Europa, e Hegel dizia que aquele era um tempo privilegiado para se viver.
Era um tempo de busca da liberdade e de maior igualdade entre as pessoas.” (p.
17)
No sistema hegeliano
vemos uma razão que passa por diferentes momentos em sua evolução até se
compreender como uma razão absoluta. Essa história foi detalhada pelo filósofo
num livro denominado Fenomenologia do
Espírito. Creio que a forma como Hegel descreve esse processo contribuiu
para considerá-lo um filósofo difícil. Como já comentamos a Fenomenologia: “não contempla apenas o
relato dos movimentos da consciência começando pela sensação e percepção, mas
traz a descrição de um longo processo de evolução da razão que culmina na
descoberta do Ser absoluto. Esse entendimento de que o Sujeito Absoluto é
histórico tem por pressuposto noção retirada de Schiller, para quem o que
tipifica propriamente o homem pode se modificar durante a história.” (id., p.
21)
O livro contempla uma
distinção entre conhecer e pensar que se tornará importante no desenvolvimento
da investigação filosófica que se seguiu a Hegel. “O conhecimento, ele disse, é
a apreensão dos objetos, é uma forma de referenciar as coisas. Pensar é mais
que isso, é apreender e descrever os conceitos das coisas. O domínio dos
conceitos é o espaço das ciências e sua linguagem. Contudo, o saber humano é
mais que o domínio dos conceitos, pois o conhecimento das coisas e sua
conceituação precisam de um saber absoluto que os fundamente. Hegel encontrará
esse fundamento na razão absoluta.” (Ibidem).
O ponto de chegada da
evolução da consciência universal é o Espírito Absoluto e sua criação mais elevada
é a Filosofia. É a essa questão que queremos dar atenção especial nesse texto,
isto é, ao vínculo entre uma razão que se descobre nos movimentos dialéticos da
História e a construção da Filosofia como o auge desse processo. O olhar que
Hegel dirigiu para esse movimento da razão tornou-se a base do que passou a ser
feito a partir de então pelo nome História da Filosofia, entendendo-se a forma
de narra-la como uma atividade mais ampla que a História das ideias. O próprio
Hegel explicou isso na Introdução à
História da Filosofia,
referindo-se à Filosofia como (4. ed., São Paulo: Nova Cultural, 1988): “a flor
excelsa, o conceito de espírito na sua totalidade, a consciência e essência
espiritual de todo o conjunto, o espírito do tempo como espírito presente e que
pensa a si próprio” (p. 121). A Filosofia não é, para Hegel, uma teoria sobre o
Absoluto, é sua forma superior de manifestação no mundo.
Um fato curioso, se a Fenomenologia do Espírito é um texto
difícil, a Introdução à História da
Filosofia é um livro tão genial, quanto simples. Hegel distinguiu Filosofia
e a História da seguinte forma: “Na História apresenta-se o que é mutável, o
que mergulha na noite do passado, o que já não existe; pelo contrário o
pensamento é vero e necessário.” (Id., p. 89). Dessa forma ele quis dizer que se
a História lida com coisas já acabadas, a Filosofia lida com uma Razão Viva,
ainda que passando por etapas de desenvolvimento.
Na sua obra sobre a
História da Filosofia, o Espírito Eterno, que Hegel nomeia de Absoluto, é a
base de tudo, do mundo, da história, enfim, de todas as realizações que estão
na terra (CARVALHO, 2014, p. 23): “Ele é que toca o processo e se manifesta no
espírito subjetivo e objetivo, assim como superou a alienação em que esteve na
natureza. Portanto, esse sujeito Absoluto é o fundamento do processo, do mundo
e do homem que os filósofos buscaram estabelecer desde a antiga Grécia. Tudo
quanto existe e a própria história estão nesse Absoluto, que é de onde tudo
provém. Está no Absoluto não como uma cadeira está na sala, um objeto num
determinado lugar, mas como parte de um Ser que tudo engloba e faz tudo dele
depender.”
Quando surge a
Filosofia, o Espírito atingiu a última etapa de sua evolução. No final da Fenomenologia do Espírito ele já explicara
que a derradeira etapa do desenvolvimento do Espírito é a descoberta do Ser
Absoluto. Esse ser absoluto não é definível como os demais seres, mas sua
existência é pura indeterminação. Ele não é isso ou aquilo, ele apenas É, diz
Hegel, acompanhando a fórmula usada no capítulo 3º do livro do Êxodo: Eu sou aquele que sou (versículo 14).
E a que conclusão esse
estudo da História e da Filosofia permitem? Que o sistema hegeliano se completa
com eles. E a Filosofia é o ponto de chegada desse sistema. Nessa Filosofia em
particular, o saber absoluto mostra-se como ser absoluto, o que faz da Lógica hegeliana uma Ontologia. Ao tratar do saber absoluto, o
filósofo chegou ao Ser Absoluto. A Lógica é o sistema da razão, o mecanismo do
raciocínio puro e da própria verdade. O conteúdo da Lógica é o saber puro, o pensamento, que coincide com a exposição
do ser absoluto como Ele é em sua essência: Eu
sou aquele que é, como mencionado acima. Todas as filosofias, ao longo do
tempo, contribuíram de alguma forma para esse processo, uma mais outras menos
importantes, mas todas integrando esse movimento único da Razão Universal em
seu eterno movimento.
A razão universal e o eterno movimento, um convite para sair do superficial.
ResponderExcluirA figura não passa simpatia, mas o conhecimento é uma grande contribuição a humanidade.
ResponderExcluirInteressante quando o assunto se aprofunda na evolução da razão.
ResponderExcluirMuito interessante.
ExcluirGrande mestre.
Um grande pensador e idealista, alemão.
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