domingo, 22 de outubro de 2017

MODERNIDADE DEIXOU PARA TRÁS A FRATERNIDADE. Selvino Antonio Malfatti.

















A implantação da modernidade deu-se sobre três pilastras: liberdade, igualdade e fraternidade. A liberdade para fazer suas próprias leis, a igualdade de todos junto às mesmas leis e a fraternidade seria um ethos que cimentaria a união.
 “O individualismo faz as almas desmoronarem. A sociedade nasce com o Nós”.  É o que afirma o presidente da Pontifícia Academia pela Vida, Monsenhor Vicenzo Paglia, no livro a Derrota do Nós, (Il Crollo del Noi).  Sua hipótese tem como fundamento uma passagem bíblica, do Genesis, que diz: “não é bom que o homem fique só”. Conforme ele, na modernidade foi esquecido o Nós, a base da convivência social e da fraternidade. Foi uma promessa que a modernidade acenou, mas não foi cumprida.
Não se pode dizer que a liberdade e igualdade tenham vingado plenamente, mas se pode constatar que a fraternidade é a mais prejudicada. Isto porque o Nós vem depois do Eu proprio. O Eu vem depois do Nós. Embora seja  gerado pelo Nós, O Eu faz parte do Nós, integra-o.
Estamos no processo de construção de um mundo global, mas o perigo está que lhe falte a alma. Deve haver uma razão para tamanha dimensão. Há uma profunda contradição nesta tarefa: o advento de um mundo global coexiste com a desintegração da sociedade de convivência, a forma associativa da vida, da família, da comunidade e da nação. O drama catalão está aí para confirmar o fenômeno. Assistimos a proliferação de um novo individualismo que direciona tudo para si mesmo. É como se um vírus tivesse infectado e desintegrado o estar juntos, a convivência.
Apesar de tudo a família ainda resiste, mas até quando? Como se pode perceber é dela que emergem as contradições, onde os liames se enfraquecem progressivamente. As pessoas casam não para construírem um futuro comum, porém casam-se para se realizarem a si mesmos, até que os laços se enfraquecerem e se rompem. A prova deste narcisismo é tão escancarada que se chegou ao absurdo de um homem ou, uma mulher, casar consigo mesmo. Vê-se que o objetivo do individualismo foi alcançado. Nem a família resistiu e teve que dobrar-se.
Conforme Paglia, Deus cria um ser perfeito, mas se da conta que é um ser solitário. Este foi um erro de Deus. Então redobra de cuidados e cria sua obra prima: a mulher. Diante dela Adão cai de joelhos. Estabelece a aliança de ambos, isto é, do homem e da mulher. Erige então seu plano Providencia, confia a eles não só a condução da família, mas toda história humana. Se esta aliança não estiver bem, a própria história estará mal.
Perguntado sobre a questão da imigração se a Igreja que a defende não perdeu a sintonia com a opinião pública, responde que cabe à Igreja defender o acolhimento, pois todos necessitam dos outros. Basta interpretar a Parábola do Samaritano, diz ele. À pergunta “quem é meu próximo”, responde que cada um deva ser o próximo do outro. E o próximo do próximo é o vizinho. É por isso que se deve acolher o imigrante. É o começo para cimentar o Nós. Se se recusar o irmão é como se numa casa o filho único não se aceita a presença de mais um. Temos que reinventar a proximidade, repartir com os vizinhos mais descartados, os periféricos, como diria o papa Francisco.
Paglia faz um convite para recompor o sentido da fraternidade entre os seres humanos, de todos os credos, raças, gêneros e lugares. É o aceno para instituir uma sociedade global alicerçada sobre o amor.


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