A implantação da modernidade deu-se sobre três pilastras:
liberdade, igualdade e fraternidade. A liberdade para fazer suas próprias leis,
a igualdade de todos junto às mesmas leis e a fraternidade seria um ethos que
cimentaria a união.
“O individualismo
faz as almas desmoronarem. A sociedade nasce com o Nós”. É o que afirma o presidente da Pontifícia
Academia pela Vida, Monsenhor Vicenzo Paglia, no livro a Derrota do Nós, (Il
Crollo del Noi). Sua hipótese tem como
fundamento uma passagem bíblica, do Genesis, que diz: “não é bom que o homem
fique só”. Conforme ele, na modernidade foi esquecido o Nós, a base da
convivência social e da fraternidade. Foi uma promessa que a modernidade
acenou, mas não foi cumprida.
Não se pode dizer que a liberdade e igualdade tenham vingado
plenamente, mas se pode constatar que a fraternidade é a mais prejudicada. Isto
porque o Nós vem depois do Eu proprio. O Eu vem depois do Nós. Embora seja gerado pelo Nós, O Eu faz parte do Nós, integra-o.
Estamos no processo de construção de um mundo global, mas
o perigo está que lhe falte a alma. Deve haver uma razão para tamanha dimensão.
Há uma profunda contradição nesta tarefa: o advento de um mundo global coexiste
com a desintegração da sociedade de convivência, a forma associativa da vida,
da família, da comunidade e da nação. O drama catalão está aí para confirmar o
fenômeno. Assistimos a proliferação de um novo individualismo que direciona
tudo para si mesmo. É como se um vírus tivesse infectado e desintegrado o estar
juntos, a convivência.
Apesar de tudo a família ainda resiste, mas até quando?
Como se pode perceber é dela que emergem as contradições, onde os liames se
enfraquecem progressivamente. As pessoas casam não para construírem um futuro
comum, porém casam-se para se realizarem a si mesmos, até que os laços se
enfraquecerem e se rompem. A prova deste narcisismo é tão escancarada que se
chegou ao absurdo de um homem ou, uma mulher, casar consigo mesmo. Vê-se que o
objetivo do individualismo foi alcançado. Nem a família resistiu e teve que
dobrar-se.
Conforme Paglia, Deus cria um ser perfeito, mas se da
conta que é um ser solitário. Este foi um erro de Deus. Então redobra de
cuidados e cria sua obra prima: a mulher. Diante dela Adão cai de joelhos.
Estabelece a aliança de ambos, isto é, do homem e da mulher. Erige então seu
plano Providencia, confia a eles não só a condução da família, mas toda
história humana. Se esta aliança não estiver bem, a própria história estará
mal.
Perguntado sobre a questão da imigração se a Igreja que a
defende não perdeu a sintonia com a opinião pública, responde que cabe à Igreja
defender o acolhimento, pois todos necessitam dos outros. Basta interpretar a
Parábola do Samaritano, diz ele. À pergunta “quem é meu próximo”, responde que
cada um deva ser o próximo do outro. E o próximo do próximo é o vizinho. É por
isso que se deve acolher o imigrante. É o começo para cimentar o Nós. Se se
recusar o irmão é como se numa casa o filho único não se aceita a presença de
mais um. Temos que reinventar a proximidade, repartir com os vizinhos mais
descartados, os periféricos, como diria o papa Francisco.
Paglia faz um convite para recompor o sentido da
fraternidade entre os seres humanos, de todos os credos, raças, gêneros e
lugares. É o aceno para instituir uma sociedade global alicerçada sobre o amor.
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