sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
ADEUS ANO VELHO... FELIZ ANO NOVO
Desde muito tempo a comemoração do novo ano, chamado de Ano Novo, possui uma longa tradição histórica e chegou até nós. Até onde sabemos, os babilônios foram os primeiros a introduzir este costume. Faz, por isso, mais de 4.000 anos. Na Babilônia a festa ocorria no início da primavera. Já os assírios, persas, fenícios e egípcios celebravam a data no mês de setembro.
Os romanos foram os primeiros a fixarem uma data no calendário, perdurando até sua queda em 476 d.C. O novo ano tinha início em 1º de março inicialmente, depois, a data passou para 1º de janeiro. A data definitiva no ocidente foi fixada pelo cristianismo, em 1582, através do calendário gregoriano.
No oriente com cultura diversa da cristã, as datas ainda variam. Na China, a festa acontece em fins de janeiro ou princípios de fevereiro. No Japão, aproxima-se do ocidente, comemorando de 1º a 3 de janeiro.
Os hebreus, que possuem calendário próprio, a comemoram em meados de setembro até o início de outubro. Já os islâmicos festejam o ano novo em meados de maio associado-a a fuga de Maomé de Meca para Medina, fixando esta data, 622, como o Ano Zero.
Cada país, atualmente, celebra a sua maneira o Ano Novo.
Itália: Conserva ainda muito do paganismo soltando fogos de artifício. Comem pé de porco e lentilhas. Reúnem-se, em Roma, em Piazza Navona, Fontana di Trevi, Piazza Del Popolo e outros locais.
Estados Unidos: Na capital Nova Iorque, o povo se concentra na Time Square, onde cantam, bebem, correm e gritam. Na contagem regressiva uma maçã gigante desce no meio da praça e explode à meia noite, espalhando balas e bombons, para alegria da garotada.
Austrália: Em Sydnei a festa começa três horas antes da meia-noite com queima de fogos. Primeiramente as pessoas assistem ao espetáculo e depois se recolhem às suas casas para passar a virada com a família e posteriormente retornam para as praças, clubes ou restaurantes.
França: A concentração principal é na Avenida Champs-Elysées, junto ao arco do Triunfo. Há queima de fogos, espumantes e sumos para crianças. Há ainda os que se hospedam em hotéis para a festa.
Inglaterra: Em Londres as festas são na maioria no ambiente familiar. Mas há concentração na praça Trafalgar Square com queima de fogos de artifício.
Alemanha: O principal local de encontro é no famoso Portal de Brandemburgo, próximo ao local do Muro de Berlim. Não há fogos, mas muita festa com música e bebidas.
Brasil: Milhares de turistas, nacionais e estrangeiros, bem como a população do Rio de Janeiro se concentram na praia de Copacabana. Toneladas e toneladas de fogos de artifício são queimadas, provocando um espetáculo feérico.
Em cada país, região, localidade acontecem as comemorações, cada um a seu jeito.
A TODOS: UM FELIZ NOVO ANO, COM MUITA...MUITA...ALEGRIA!
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
NATAL
NO DECORRER DESTE ANO, A TODOS QUE NOS VISITARAM, QUE LERAM AS POSTAGENS OU QUE FIZERAM COMENTÁRIOS, NOSSO MUITO OBRIGADO.
DESEJO, DE CORAÇÃO, UM FELIZ NATAL.
Como é NATAL vou brindar-vos com a singela narrativa de Lucas sobre o Nascimento de Cristo. O presépio e o Pinheirinho encontram-se na Praça Saldanha Marinho, em Santa Maria.
"José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor. O anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura. E subitamente ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia: Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência (divina). Depois que os anjos os deixaram e voltaram para o céu, falaram os pastores uns com os outros: Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou. Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura." (Lc,2)
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
NATAL COM. ELE.
4. O “São José” do Presépio
- Vou montar o presépio, disse minha esposa.
Abriu a caixinha onde estava guardado e começou a desencaixotar as peças. Logo em seguida me pergunta:
- Cadê o “São José?
- Deve estar aí, junto com as outras figuras, respondo.
- Não estou achando, insiste. Não dá prá ficar sem ele?
- Não. Todo mundo vai notar. José, Maria e Jesus não podem faltar no presépio.
Mas por que José não pode faltar no presépio?
A Bíblia não cita uma palavra sequer dele. O que se diz é que ele era “pai adotivo” e não que Jesus fosse “filho adotivo”. A idéia que passa é que o filho escolheu o pai para adoção. O que sabemos dele é pouco coisa. Em linhas gerais é o seguinte:
- Descendia de família real. A Bíblia menciona explicitamente este fato.
- Casou-se com Maria aos 30 anos. Esta é uma idade aproximada. Foi calculada com base com outros acontecimentos relacionados.
- Não se separou dela, embora soubesse que estava grávida, não dele. Isto também consta na Bíblia. José no seu íntimo resolveu abandonar Maria, mas em sonho, um anjo lhe pediu para que não o fizesse.
- Cumprir os rituais do judaísmo, como circuncisão de Jesus, levar a família para Jerusalém na Páscoa, purificação da esposa após o parto. Todos estes fatos têm comprovação bíblica.
- Era carpinteiro. Também está comprovado. A carpintaria ficava na própria residência. Ainda hoje se encontra a casa em Nazaré. Assemelha-se a todas as outras. Há o lance térreo e o subsolo. No primeiro ficava a peça onde trabalhava.
- Na comunidade todos o reconheciam como o pai verdadeiro de Jesus. Também há comprovação escrita, na passagem onde o povo perguntava: “não é este o filho do carpinteiro”?
- Salva Jesus de ser morto com outras crianças, fugindo com a família. Logo que Herodes soube do nascimento do menino, relatado pelos reis magos, editou um decreto mandando matar todos os meninos com menos de um ano. José, decide com Maria, fugir com o menino para fora do país.
- Morreu aproximadamente aos 60 anos, pouco antes de Jesus começar a vida pública. Esta é uma idade aproximada. Quando Jesus entra na vida pública, José não é mais mencionado, a começar pelas bodas de Caná.
Apesar de não ser mencionada uma palavra dele, é apresentado como marido exemplar, pai dedicado, trabalhador honesto, homem de fé.
Por tudo isso, o “São José” não pode faltar no presépio.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
NATAL.COM.ELE - Selvino Antonio Malfatti
3. Alegria
Uma das maiores virtudes cristãs é a alegria. Ser alegre é um estado de espírito que se conquista com continuado esforço pessoal. É predispor-se a receber bem uma pessoa, uma notícia ou acontecimento. As Sagradas Escrituras fazem muitas referências a esta virtude. Geralmente vem associada a alguma comemoração. A etimologia desta nos remete à lembrança conjunta, (cum-memorare). O próprio anúncio da encarnação do Salvador foi precedido pelo anjo convidando à alegria: alegra-te, Maria. Sempre que ocorrem boas novas há um convite à comemoração. Quando o Salvador nasceu, os anjos convidam os pastores a alegrarem-se: ...vos trago uma boa nova de grande alegria. Ao iniciar a vida pública, nas bodas de Caná, quando a alegria dos convivas estava esmorecendo, o mestre levanta os ânimos brindando-os com o símbolo da alegria, o vinho.
A alegria não significa ser espalhafatoso, volúvel, dar gargalhadas. A alegria verdadeira pode ser externada fisicamente de várias formas, como sorrisos, abraços, aperto de mão. Contudo é pelos olhos que ela mais se mostra. Por que estes refletem o estado da alma. Pelos olhos se pode ver se somos bem recebidos ou se recebemos bem. Se agrademos de coração ou alguém se mostra reconhecido. Se há perdão interno ou só exterior. Os olhos não mentem, são sinceros. Por isso que há a expressão: olhar nos olhos.
Várias condições materiais acompanham a alegria, como saúde, bem-estar, realização profissional e familiar. O dito popular de que “quando a pobreza entra pela porta a alegria sai pela janela”, evidencia o quanto é necessário preparar-se para ter boa qualidade de vida e ter alegria. Há algumas tristezas que não podemos evitar, e nesse caso somente os heróis conseguem ser alegres na adversidade. Às condições materiais acompanham as espirituais como educação, a preparação profissional e mesmo a religião.
Todos os vícios e defeitos são inimigos da alegria. Mas o maior de todos é o rancor, por que leva direto à tristeza. Evidentemente se não gostamos de alguém não podemos, de uma hora para outra, amá-lo. Mas podemos simplesmente deixar de pensar nele e com isso não guardar raiva.
A alegria no Natal pode ser comemorada de forma simples, mas sem deixar de fazer. Reunir a família e os amigos. Trocar pequenas lembranças, preparar algo para beliscar, servir uma bebida. Se possível uma música ou canção natalina. Não é a ceia que faz a alegria, mas a alegria que faz a ceia. A alegria é a melhor decoração da festa de Natal, por que ela é de coração.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
NATAL.COM.ELE – Selvino Antonio Malfatti
Moisés de Michelangelo
A Utopia de Morus
2.RESPEITO
É normal que o diferente nos cause repulsa. Que um cristão não goste de um judeu, que um judeu não goste de um muçulmano, que um muçulmano não goste de um hindu. Mas, embora seja normal, não significa que tenha que ser assim, ou pior, por causa disso agredir a pessoa diferente ou mesmo querer destruí-la. Foi o que aconteceu com o império romano em relação aos cristãos. Foram caçados como ratos e martirizados. Não foi diversa a atitude dos nazistas em relação aos judeus. Mas o que mais impressiona é que, virado o jogo, o agredido se comporta da mesma forma que o antigo agressor: intolerância total.
No período do ano 30 até 395, da era cristã, os cristãos conviveram com os romanos, na clandestinidade. São, portanto quatro séculos de existência não oficial do cristianismo durante o qual os cristãos foram considerados fora da lei. Não tinham qualquer influência na política, educação, moral, direito e cultura do império romano. Nesse período o cristianismo somente existia na esfera privada e íntima. Se e alguém se atrevesse declarar-se cristão era morto. O império era politeísta, inclusive o próprio imperador era considerado um dos deuses.
O que aconteceu nesses quatrocentos anos? Infelizmente pouca coisa se sabe, pois quando cristianismo assume o poder manda queimar tudo o que pudesse evocar o império romano e a cultura herdada dos gregos. Os templos dedicados aos deuses ou foram destruídos ou dedicados aos santos ou à divindade cristã. As festas pagãs foram substituídas por alguma comemoração cristã. Pouco a pouco eram apagados os registros romanos e gregos e, em seu lugar, colocavam-se registros cristãos. Santo Agostinho no seu livro A Cidade de Deus e a Cidade dos Homens, não tem dó daquela cultura, em que pese ser ele um autêntico greco-romano. Quando o império cai e os cristãos são acusados pelos pagãos de terem facilitado sua queda, Agostinho simplesmente diz que aquilo não tinha importância, pois a grei dos eleitos estava salva.
Foram necessários que transcorressem mais de mil anos, isto é, de 395 a 1453, para se dar conta do que havia sido feito e resgatar o que sobrou daquela cultura. Foi obra do Renascimento. A partir daí nasce uma nova consciência: respeito ao diferente.
Isto não significa que o cristianismo foi um mal e teria sido melhor o politeísmo romano. Não, ao contrário, foi um bem imenso para a humanidade. O problema foi ter-se destruído, soterrado ou queimado a cultura anterior. O próprio cristianismo se deu conta disso e em parte a resgatou. Os renascentistas continuaram cristãos, mas quiseram aproveitar aquilo que de bom emergiu do mundo pagão. O Davi ou Moisés de Miguel Ângelo são heróis cristãos sob a forma pagã. Ele valeu-se da escultura grega para exaltar um valor cristão e assim outros, como Morus, que na Utopia imita a República de Platão. Na literatura, Alighieri e Camões imitavam os literatos gregos e romanos.
O respeito pelo pensar do outro é uma das maiores virtudes cristãs, ensinada e praticada pelo Mestre. Todas as pessoas têm o direito de ter sua religião, ideologia, modo de vida, desde que não queiram impor aos outros, isto é, desde que respeitem o diferente. Ninguém pode ser considerado o único verdadeiro. Evidentemente que faltar com a ética não é ter um pensamento discordante. Neste caso é infringir as normas, legais ou morais. O mesmo mestre que intercedia: “perdoai por que não sabem o que fazem”, munia-se de um chicote e expulsava do templo seus profanadores. E fazia isto para exigir respeito para aqueles que queriam orar.
A Utopia de Morus
2.RESPEITO
É normal que o diferente nos cause repulsa. Que um cristão não goste de um judeu, que um judeu não goste de um muçulmano, que um muçulmano não goste de um hindu. Mas, embora seja normal, não significa que tenha que ser assim, ou pior, por causa disso agredir a pessoa diferente ou mesmo querer destruí-la. Foi o que aconteceu com o império romano em relação aos cristãos. Foram caçados como ratos e martirizados. Não foi diversa a atitude dos nazistas em relação aos judeus. Mas o que mais impressiona é que, virado o jogo, o agredido se comporta da mesma forma que o antigo agressor: intolerância total.
No período do ano 30 até 395, da era cristã, os cristãos conviveram com os romanos, na clandestinidade. São, portanto quatro séculos de existência não oficial do cristianismo durante o qual os cristãos foram considerados fora da lei. Não tinham qualquer influência na política, educação, moral, direito e cultura do império romano. Nesse período o cristianismo somente existia na esfera privada e íntima. Se e alguém se atrevesse declarar-se cristão era morto. O império era politeísta, inclusive o próprio imperador era considerado um dos deuses.
O que aconteceu nesses quatrocentos anos? Infelizmente pouca coisa se sabe, pois quando cristianismo assume o poder manda queimar tudo o que pudesse evocar o império romano e a cultura herdada dos gregos. Os templos dedicados aos deuses ou foram destruídos ou dedicados aos santos ou à divindade cristã. As festas pagãs foram substituídas por alguma comemoração cristã. Pouco a pouco eram apagados os registros romanos e gregos e, em seu lugar, colocavam-se registros cristãos. Santo Agostinho no seu livro A Cidade de Deus e a Cidade dos Homens, não tem dó daquela cultura, em que pese ser ele um autêntico greco-romano. Quando o império cai e os cristãos são acusados pelos pagãos de terem facilitado sua queda, Agostinho simplesmente diz que aquilo não tinha importância, pois a grei dos eleitos estava salva.
Foram necessários que transcorressem mais de mil anos, isto é, de 395 a 1453, para se dar conta do que havia sido feito e resgatar o que sobrou daquela cultura. Foi obra do Renascimento. A partir daí nasce uma nova consciência: respeito ao diferente.
Isto não significa que o cristianismo foi um mal e teria sido melhor o politeísmo romano. Não, ao contrário, foi um bem imenso para a humanidade. O problema foi ter-se destruído, soterrado ou queimado a cultura anterior. O próprio cristianismo se deu conta disso e em parte a resgatou. Os renascentistas continuaram cristãos, mas quiseram aproveitar aquilo que de bom emergiu do mundo pagão. O Davi ou Moisés de Miguel Ângelo são heróis cristãos sob a forma pagã. Ele valeu-se da escultura grega para exaltar um valor cristão e assim outros, como Morus, que na Utopia imita a República de Platão. Na literatura, Alighieri e Camões imitavam os literatos gregos e romanos.
O respeito pelo pensar do outro é uma das maiores virtudes cristãs, ensinada e praticada pelo Mestre. Todas as pessoas têm o direito de ter sua religião, ideologia, modo de vida, desde que não queiram impor aos outros, isto é, desde que respeitem o diferente. Ninguém pode ser considerado o único verdadeiro. Evidentemente que faltar com a ética não é ter um pensamento discordante. Neste caso é infringir as normas, legais ou morais. O mesmo mestre que intercedia: “perdoai por que não sabem o que fazem”, munia-se de um chicote e expulsava do templo seus profanadores. E fazia isto para exigir respeito para aqueles que queriam orar.
sábado, 27 de novembro de 2010
NATAL.COM.ELE – Selvino Antonio Malfatti
1. As Virtudes natalinas.
O Natal de 2010 se aproxima. Proponho, conjuntamente com freqüentadores e opinantes, a refletirmos alguns aspectos importantes deste evento para nós cristãos. Agradeço a colaboração e disponho o espaço a quem quiser colaborar.
O Natal nasceu no seio da humildade.
Primeiramente, os pais de Jesus, descendentes de Davi - família real – não se revoltam contra o Edito de recenseamento do Imperador Cezar Augusto o qual os obrigam a ir de Nazaré a Belém. Além da distância, aproximadamente 150 Km, era dezembro, período de frio intenso naquela região e Maria grávida na eminência de parto. Para enfrentar tal sacrifício teriam consciência que era para ser cumprida a profecia de o Salvador nascer em Belém?
Em segundo, como não encontram vaga em hospedaria – em hotel nem falar pois estavam lotados por causa do recenseamento – o único local disponível foi uma gruta não muito distante da cidade de Belém. Nelas, os animais eram colocados à noite, para se abrigarem do frio e os pastores passavam com eles a noite, aproveitando a exalação de seu calor e a fogueira comum. A caverna onde José e Maria estiveram tem aproximadamente uns cem metros quadrados e uma altura suficiente para as pessoas se locomoverem de pé. José e Maria, com certeza, se acomodaram num canto mais retirado, porque necessitavam de privacidade, pois tinha chegado o momento de Maria dar a luz. Ainda hoje lá se encontra o “berço” onde colocaram Jesus, marcado com uma estrela dourada. É uma pedra chata sobre a qual espalharam palhas e estenderam panos. Aqui também não há reclamações contra a vontade divina. Certamente muitos de nós, nestes casos, diríamos: se Tu queres que sejamos os guardas de Teu filho, ao menos nos dê as condições!
Em Belém, no inverno, à noite, em poucas horas a temperatura atinge graus baixíssimos, inclusive pode nevar. Não foi diferente naquela noite de dezembro. O bebê recém-nascido precisou do bafo dos animais para se aquecer. Todos tiritavam de frio. Apenas algumas palavras eram balbuciadas ao ouvido. As pessoas encostavam-se umas às outras para se aquecerem esperando o dia chegar. Naquela noite um silêncio gelado pairava sobre a colina, possível de se ouvir anjos cantando “Gloria in excelsis Deo”.
Lá em baixo a cidade de Belém fervilha de gente vinda de toda parte. As praças encheram-se de música. Pessoas importantes desfilavam pelas ruas ou simplesmente passeavam. Soldados romanos, a cavalo, as patrulhavam. Nas sinagogas vendia-se e comprava-se de tudo. Era um verdadeiro centro comercial. Os sacerdotes não se importavam, alguns incentivavam, porque recebiam também sua porcentagem. Cada viajante queria tirar as despesas da viagem. Parentes distantes se encontravam, abraçavam-se e davam-se presentes. A cidade estava em festa: música, dinheiro, pessoas importantes, roupas finas e quentes, lucro, venda e consumo.
Naquela noite aconteciam dois “natais”. O do estábulo, humilde e devoto e o da cidade orgulhoso e arrogante. A festa da cidade era a comemoração de seu “natal”, o regozijo da soberba. No estábulo, o silêncio da oração, pastores humildemente cantavam com os anjos a chegada do Salvador. Era Natal dos humildes de coração.
Nas comemorações de nosso Natal, às vezes me pergunto: onde está Ele, o homenageado? Tem música, presentes, bebidas e comidas, mas Ele, onde está? Será que não estou no lugar errado? Cadê simplicidade, devoção, oração?
sábado, 20 de novembro de 2010
CARIDADE E FÉ - Selvino Antonio Malfatti
O cristianismo – mormente o catolicismo – ficou obcecado demais com a idéia de culpa e do pecado. Com isso retrancou-se e vive mais na defesa do que no ataque. O pecado tornou-se a preocupação permanente e por isso fez como aquele que recebeu um dinheiro, guardou-o ciosamente, não investiu, para depois entregá-lo integralmente a seu dono, mas sem multiplicá-lo. Este fenômeno de valorização do pecado foi tão impactante que, inclusive o Decálogo, originariamente afirmativo, foi transformado em negativo, isto é, em vez de dar ênfase ao fazer, foi transmudado em não fazer.
Então, um dos componentes da senciência humana, a culpa, passou a ocupar o lugar central no agir do dia a dia. O policiamento deu lugar à caridade.
A orientação central focou-se na ofensa original e conseqüentemente a de uma culpa original, as quais seriam a fonte de todas as ofensas e culpas posteriores. Mas disso nasceu o problema e não a solução. Se a causa de todas as culpas é a primeira ofensa, transmitida à posteridade, mas da qual ninguém é culpado, porque então ser culpado? Insistir nessa idéia levou à esterilização das boas ações que possibilitariam o aperfeiçoamento moral não só dos indivíduos, como de toda sociedade.
O sentimento de ofensa e culpa de origem foram tão incutidos que outros aspectos foram descurados, mormente a caridade. A conseqüência do não fazer foi a proibição e daí resultou um discurso humanitário e uma prática autoritária. Onde se fala em obras de misericórdia? Propiciar alimento (material e espiritual) a quem necessita? E isto é muito abrangente. Quanta vez se presenciou instituições cristãs despedirem sem dó nem piedade funcionários sem darem a mínima satisfação. Isso acontecia, muitas vezes, logo após celebrações religiosas onde se condenava veementemente a prática capitalista. E outras obras como: saciar a sede, alcançar vestimentas, dar abrigo aos sem teto, cuidar dos doentes, visitar os presos, acompanhar os sepultamentos, ninguém mais fala.
E as obras espirituais? Quem se recorda delas? Ainda têm validade? São eficazes para o aperfeiçoamento moral? Ainda é válido dar um bom conselho, ensinar, estender a mão ou abraçar um aflito, perdoar as ofensas, ter paciência com os pecados do próximo, orar pelos outros?
O sentimento de culpa, objeto maior da pregação doutrinária ainda hoje ocupa bom espaço, em que pese a substituição, em alguns caos, da pregação de ódio dos que não têm contra os que têm.
O sentimento de culpa faz parte da natureza humana e não de uma ofensa originária. O homem quer progredir, melhorar, aperfeiçoar-se tanto materialmente como moralmente. Como nunca consegue a perfeição, mas somente pequeno progresso, sente que poderia ter feito mais e melhor. Isto leva ao sentimento de culpa que o acompanha sempre. E como isto é imanente à natureza humana é, portanto, originário. Para amenizar este sentimento, as obras de caridade, decorrentes da fé, devem passar a ocupar o lugar central e não o pecado, a ofensa, a culpa. Disso resulta que a verdadeira fé leva à caridade e esta perdoa, compreende e não agride.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
ROMARIA E FÉ -- Selvino Antonio Malfatti
Em Santa Maria, no centro do Rio Grande do Sul, neste dia 14 de novembro, será realizada a 67ª Romaria Estadual da Medianeira. É um evento que tem por foco central a fé em Nossa Senhora Medianeira. O tema fé destaca-se e é sobre ele que faremos uma reflexão.
O que faz centenas de pessoas deixarem seus lares e viajarem quilômetros e quilômetros para enfrentarem uma procissão, ao sol ou à chuva? O que faz outras “caminharem” de joelhos percorrendo ruas da cidade? O que faz fecharem os olhos, levantarem as mãos e rezarem com toda força de suas almas? A FÉ!
Mas o que é este sentimento exclusivamente humano? O que é a fé? Como nasce ou aparece? O que faz em nós?
Quando se dá conta descobre-se crendo. Há uma fé que se absorve ao natural. Sem que se perceba passa a fazer parte da vida. Ela penetra na alma através do leite materno, do ambiente familiar e social. Esta fé não se adquire, nasce-se com ela. É uma fé sem ruptura, pacífica. As decorrências e conseqüências seguem um fluxo normal dentro do meio que se vive. É uma fé de Santo Tomás, de São Francisco.
A outra se origina do conflito. Há um passado que precisa ser sepultado para poder dar espaço a ela. Esta fé nasce da violência consigo mesmo e com o meio. A partir da opção pela fé passa-se a queimar os antigos deuses e adorar o que se queimou no passado. É uma fé de São Paulo, de Santo Agostinho.
Há então duas direções: uma da fé para a razão e outra da razão para a fé. Geralmente quando se chega à fé pelo segundo caminho, ao da razão para a fé, esta não se a perde jamais. O primeiro caminho, o da fé para a razão, é aquele que mais leva a perda da fé. Pelo segundo, a razão sente-se insatisfeita, inquieta, frustrada pelas respostas da razão às questões existenciais. Pela primeira, a razão se sente quase traída pelas soluções propostas pela fé à razão. A razão que busca a fé dificilmente voltará atrás, mas a fé que busca a razão às vezes retrocede e se torna descrente ou ao menos sente mais dificuldade para conciliar razão e fé.
A fé é a transposição da incerteza do fenômeno para a certeza da verdade. A razão é a dúvida da certeza perante o fenômeno. A fé faz a passagem daquilo que é apenas uma hipótese, uma aparência, um indício para uma certeza. A razão se nega a atravessar o mundo do fenômeno e acatar a certeza. A certeza para a razão nunca existe a não ser a certeza da incerteza. A fé faz a passagem e após ela encontra a razão. A razão não encontra a fé, mas esta encontra a razão. A fé é uma antinomia da razão, mas a razão não o é da fé.
Feita a transposição da razão para a fé, tudo se torna mais fácil. A mente parece iluminar-se e a razão passa a perscrutar com infinita liberdade as magnas questões da ciência. A discussão atual, por exemplo, sobre a origem do universo através do Big Bang foi antevista por Santo Agostinho há quase dois mil anos: a ausência de tempo e espaço antes da criação. Tudo era nada e Deus não fazia nada e não preparava o inferno para os descrentes, como alguns queriam brincar com questões tão sérias. Se a fé precede a razão cronologicamente, a razão, posteriormente, fundamente cientificamente a fé. E enquanto houver fé, haverá esperança de caridade.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
DIA DE FINADOS E A CRENÇA NA VIDA - Selvino Antonio Malfatti
No próximo dia 2 de novembro estaremos celebrando o Dia de Finados. Este dia enovlve três questões fundamentais 1º Os que acreditam numa vida após a morte. 2º Os que acreditam numa vida após a morte e ressurreição dos corpos. 3º Os que não acreditam numa vida após a morte.
Cada religião, ou mesmo cultura, dá ênfase a algum desses aspectos, na lembrança dos falecidos. Desse modo, o Dia de Finados passa a ser uma esperança de vida de alguns e um fim para outros.
No judaísmo a discussão centrava-se sobre a ressurreição. Havia duas correntes: a dos saduceus que não acreditavam na vida futura e a dos fariseus que criam e tinham certeza sobre a ressurreição dos mortos. Ainda hoje, quem contempla a cidade de Jerusalém, pode observar a quantidade de túmulos ao redor dela, cujos mortos aguardam a ressurreição.
O catolicismo, como continuador da fé judaica, optou pela ala dos fariseus seguindo os ensinamentos de seu mestre. No século V, surge a prática de dedicar um dia no ano aos mortos e depois no século X, foi estabelecido oficialmente o Dia de Finados.
O Islamismo não crê na ressurreição dos mortos, mas numa vida futura, sim.
Entre as religiões menores, umas encontram sentido, outras não. O espiritismo, por exemplo, entende que é apenas crendice o Dia de Finados. O corpo é considerado um santuário onde alma morou mas que depois de cumprir sua função é colocado num depósito, o cemitério.
Dentre os pagãos, trazemos o enfoque dado pelos antigos atenienses, um de nossos ancestrais culturais. Nada melhor do que a descrição feita por um adversário de Atenas, o espartano Tucídides. Percebe-se que o destaque não é morte ou a vida após a morte, mas a vida dos cidadãos atenienses
Conforme este autor, os atenienses costumavam celebrar, às custas do erário público, os ritos fúnebres das primeiras vítimas da guerra. Os ossos ficavam expostos em lugar público durante três dias e o povo trazia oferendas para seus parentes. No último dia eram trazidos ataúdes, um para cada tribo. Os ossos eram postos no ataúde de sua tribo. Havia ainda um ataúde vazio destinado aos soldados desaparecidos. A esta cerimônia todos podiam comparecer: cidadãos, estrangeiros e as mulheres das famílias dos defuntos. No mausoléu do subúrbio mais belo da cidade eram enterrados os mortos da guerra. Após o sepultamento, um cidadão, escolhido pelos seus pares, ficava encarregado de discorrer sobre os mortos. Numa dessas celebrações falou Péricles, filho de Xântipos.
Diz ele que o ato supremo de um cidadão consiste achar melhor defender-se e morrer que ceder e salvar-se. Nesse instante, o cidadão joga na ação o que ele tem de mais precioso em si que é sua vida. Em todo o discurso, no entanto, Péricles enfatiza que a vida, por mais belo que seja o dom, sem a honra e liberdade de nada vale. O início de seu elogio principia mostrando que os atenienses receberam aquele império dos antepassados como homens livres e que por isso agora muitos estão dando sua mais preciosa dádiva, a própria vida. Péricles nunca deixa de associar vida e liberdade. Para tanto, conforme ele, esta vida livre, organiza-se politicamente sob um regime democrático, isto é, de igualdade entre os cidadãos Perante a lei todos são iguais e a ascensão aos postos de mando não se dá por pertencer a esta ou àquela classe, mas pelo mérito. Por outro lado, a pobreza não é motivo para alguém não prestar serviços a sua Cidade. Todos os cidadãos participam do governo da cidade como homens públicos, não importando sua condição privada. Vivemos, conforme diz Péricles aos atenienses, em liberdade e igualdade. Além disso, os atenienses procuram melhorar as propriedades para que elas dêem mais conforto e alegria. A riqueza não é usada para alguns se vangloriarem, mas como oportunidade de agir e melhorar. A pobreza não é uma desonra, mas não tentar evitá-la é que desonra o cidadão.
Com certeza, o Discurso Fúnebre de Péricles, narrado pelo historiador Tucídedes é um dos mais belos e eloqüentes testemunhos de fé desta vida, porque para os gregos, a vida após a morte não era nada prazerosa.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
ELEIÇÕES PARLAMENTARES – Brasil 2010. Selvino Antonio Malfatti
FONTE: Jornal Zerohora, Porto Alegre, 5/10/2010, p. 21
Em sociedades livres – denominadas democráticas – o primeiro e mais importante poder é o legislativo, representado pelo Parlamento. Isto porque, em primeiro lugar, é dele que se originam os demais poderes e as normas que regem toda sociedade. Em segundo, porque em seu bojo estão presentes e representados os anseios da sociedade. Sendo assim, refletir a composição do Parlamento é entender a vontade da comunidade. Evidentemente que esta vontade não é imutável e nem mesmo infalível. A História nos mostra muitos exemplos de volta atrás das suas decisões coletivas.
Os parlamentos são constituídos por um número expressivo de representantes, de deputados e senadores. Eles estão ligados a partidos políticos, os quais, por sua vez, são como empresas de ofertas de interesses para sociedade. E os representantes são porta-vozes dos partidos perante a sociedade. O Parlamento, portanto, é uma caixa de ressonância da vontade popular. Sua composição é o resultado da oferta dos partidos e a demanda da sociedade. Os parlamentares eleitos são aqueles mais bem sucedidos neste mercado.
A oferta de interesses por parte dos partidos engloba dois aspectos igualmente significativos: o primeiro, o conjunto de interesses, o que se oferta, e segundo, a estratégia de como irá atingi-los, como atingi-los. Geralmente o segundo aspecto é descurado, não entendido, ou mesmo disfarçado. Um partido, por exemplo, pode oferecer emprego para todos, mas sem dizer como atingirá este objetivo ou mesmo se é possível atingir. Seria o mesmo que o negociante prometer que haveria alimento para todos sem dizer que tipo de alimento e nem como consegui-lo.
As eleições legislativas no Brasil em 2010 mostram tendências e sinais da vontade popular através dos partidos e eleitos. Vários interesses e várias estratégias foram oferecidos à sociedade nas eleições legislativas deste ano. Analisarei o critério ideológico de maior ou menor intervenção do poder nos vários componentes da vida social: economia, educação, cultura, saúde e outros. Imaginando um espaço contínuo, poder-se-ia dividi-lo em partidos de centro ( como PMDB), de direita (como PRB) e de esquerda (como PC do B). O centro é a postura de quem defende que o poder só deve intervir para regular ou corrigir. O resto a própria sociedade o fará. A direita, no seu extremo, pretende que o poder não intervenha nunca e em nada. Da mesma forma, a extrema esquerda quer que o poder faça tudo. Tanto a extrema direita como a esquerda, na medida em que abandonam as posições radicais, se aproximam do centro. Isto constitui o espaço ideológico. Minha reflexão vai centrar-se no espaço ideológico dos partidos que constituem o centro no Parlamento Brasileiro atual e próximo.
No Senado, em relação à composição anterior, registrou-se uma pequena variação de ideologia. Os partidos de centro, de centro-direita e de centro-esquerda diminuíram de forças. O PMDB aumentou um pouco, o PSDB, baixou bastante. O DEM perdeu consideravelmente. O PT aumentou significativamente, mas não tanto que pudesse compensar as perdas do PSDB e do DEM. Nesta eleição o centro perdeu nove senadores em relação à composição anterior. Os demais partidos próximos ao centro praticamente ficaram no mesmo resultado, com variações mínimas, ora aumentando ora baixando. O mesmo ocorreu com os partidos mais à direita ou à esquerda.
Em síntese no Senado o grande vencedor foi o partido de centro por excelência, o PMDB.
Na Câmara dos Deputados registrou-se uma mudança um pouco maior. Na legislatura anterior o centro tinha 284 deputados e nesta ficará com 263. Perdeu, portanto, 21 deputados, os quais foram para partidos ou para mais à esquerda ou mais à direita. Evidentemente não em números tão expressivo que pudessem abalar o centro. O partido que mais cresceu, foi o PT e o que mais perdeu foi o PMDB. Também perderam deputados o PSDB e DEM, o primeiro, seis e o segundo treze.
Em síntese, o grande vencedor na Câmara dos Deputados foi o PT, partido de centro-esquerda.
Pode-se, portanto, concluir que quem comandará o executivo, terá alguns problemas para alcançar maioria através de alianças visto que qualquer dos candidatos - Serra (PSDB) ou Dilma(PT) - é de centro. Se vencer o PT o apoio do PMDB não bastará, por isso deverá voltar-se para a extrema esquerda coligando-se com vários pequenos partidos. Se vencer o PSDB terá problemas ainda maiores, principalmente na Câmara, pois boa parte do PMDB está apoiando o partido adversário.Deverá, então, voltar-se para pequenos partidos tanto de direita como de esquerda. Resta saber qual o critério para as alianças: ideológico (como foi com Fernando Henrique Cardoso) ou pecuniário (como é do atual Luís Inácio da Silva - Lula).
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
20 DE SETEMBRO- da realidade ao mito. Selvino Antonio Malfatti
Os rio-grandenses, alcunhados de gaúchos, pertencentes a uma área dos pampas, localizada no sul do Brasil, Argentina e Uruguai estiveram extra-oficialmente desligados do Brasil de 1835 a 1845, portanto, 10 anos.
Não se pode buscar somente causas econômicas para este fato, mas procurar ver-se este movimento num contexto bem mais amplo. Podemos destacar alguns aspectos, nenhum deles determinante nem exclusivo.
O sul do Brasil, mormente o Rio Grande do Sul, teve uma colonização, entendida como ocupação humana, por parte da metrópole portuguesa peculiar. Por muito tempo seu território pertenceu, no todo ou em parte, à Espanha e não a Portugal. Por isso estava mais ligado aos “castelhanos” do que aos lusos. A presença dos espanhóis ocupava intensamente o Rio Grande do oeste até o centro, mais precisamente do sul até Santa Maria. O exemplo mais típico foram as Missões dos padres jesuítas espanhóis as quais envolveram os índios contra as tropas portuguesas, e no final, por estas massacrados . Por isso, o Rio Grande do Sul identificava-se mais com os platinos- uruguaios e argentinos - do que com o centro do país, naquele período identificado com Rio de Janeiro e São Paulo. Por isso o Rio Grande buscou identificar-se mais com seus vizinhos do que seu próprio país.
Outro aspecto importante é a questão ideológica. A linha predominante liberal no Rio Grande do Sul era a vertente francesa, devido à influência platina, enquanto oficialmente no país predominava a vertente inglesa, influenciada pela Inglaterra, tradicional aliada de Portugal. A linha inglesa objetivava uma monarquia constitucional, enquanto a francesa tinha tendência republicana. Por isso, foi proclamada a República do Piratini.
Outra discrepância do Rio Grande era a atividade econômica. Enquanto o centro e nordeste do Brasil dedicavam-se quase exclusivamente ao cultivo da cana de açúcar e ao café, o sul explorava o charque, da mesma forma que seus vizinhos, Uruguai e Argentina. O governo central não teve sensibilidade para perceber este fato e taxava de tal sorte o charque que a importação se tornava mais barata que a produzida pelo Rio Grande. Daí a revolta dos gaúchos.
Por último, a insurreição rio-grandense não foi unânime e nem mesmo majoritária. A revolução foi levada adiante por alguns líderes, como Bento Gonçalves da Silva, Davi Canabarro, Antonio da Silva Neto e do italiano Giuseppe Garibaldi, este a mando de líderes da unificação italiana fazendo desta província do Brasil um campo de experimentação para a futura revolução que eclodiria no seu território.
Após dez anos de lutas, graças à habilidade do comandante das tropas brasileiras, Duque de Caxias, depuseram-se as armas pacificamente. O que os revoltosos conquistaram? Nada mais do que já tinham antes da revolução.
No entanto, a partir de então operou-se a transmutação. Os líderes começaram a ser em exaltados , as tradições, os ideais, os hinos, as vestimentas - bombacha, botas e lenços -, os costumes foram divinizados. Passou-se a comemorar a data 20 de setembro, data do início da revolta, com festas, desfiles, cavalgadas, atos cívicos, churrascos e outros atrativos. Adotou-se vestimenta oficial - a bombacha - hino, Centro de Tradições Gaúchas, linguajar. A data, pouco a pouco, pela ação compacta dos meios de comunicação, saiu da esfera do real e passou para o mito.
Não há nada de errado. Tão somente nasceu o mito em cima de uma realidade prosaica.
sábado, 11 de setembro de 2010
CULPA E SENTIDO DA VIDA – Selvino Antonio Malfatti
Quem se aventurar na busca da resposta do que é o homem e qual o sentido de sua vida entrará num labirinto que só a muito custo conseguirá sair. Mas o que mais estupefaz é encontrar na história, desde os mais remotos tempos, o fenômeno da culpa acompanhando o homem, dificultando ainda mais encontrar o sentido para a vida. Se houvesse uma causa de culpa, o assassinato de alguém, por exemplo, até é compreensível. Mas quando a culpa for sem causa, como acontece com o homem? Desde que o homem teve consciência de si, sentiu-se culpado.
E o pior, quando a culpa atribuída excede o ato que a poderia ter causado, como é o caso da parábola do Pecado Original. Por que a humanidade toda, desde os tempos iniciais e até os finais, haveria de sofrer pelo simples fato de o primeiro homem e a primeira mulher haverem desobedecido? Por que toda a humanidade deveria ser castigada, por um motivo fútil, isto é, por haverem os primeiros seres humanos dado uma “mordida na maçã”? Por causa disso, deveria toda a humanidade, por todo o sempre, “comer o pão com o suor de seu rosto, sofrer e morrer”? Há uma desproporção entre o “pecado” e o castigo. Além do mais, não lhes havia sido dito que seria este o castigo caso desobedecessem. Há algo incompreensível nessa história. Penso, mesmo, que até agora não se entendeu o sentido da parábola, e por causa disso, a resposta para o sentido da vida continua em aberto.
Com o ônus da culpa nos ombros é muito difícil encontrar o sentido da vida. Pois, sem se libertar da culpa como encontrar um sentido para a vida?
Todo pensador que quiser encontrar o sentido da vida terá que optar por buscar a resposta no próprio ser humano ou fora dele. Ele sabe que a opção é excludente, pois se escolher uma descartará a outra e vice-versa. Este é o momento em que a dúvida se impõe diante dele de forma perturbadora. Escolher entre a razão ou optar pela luz da fé. A dúvida é a não certeza, mas também a não incerteza sobre alguma coisa. Ela é muito abrangente. Pode-se duvidar se deve ou não ir ou vir, de aceitar ou não aceitar, de concordar ou não concordar. Implícito à dúvida há sempre um dever de fazer, de sentir, de concordar.
A opção de buscar o sentido da vida fora de si levará invariavelmente a uma religião e com isso o homem abdica de sua autodeterminação. Se escolher em buscar o sentido da vida dentro de si, o sentido será aquele que ele lhe der. Basta escolher e seguir? E se houver conflito de escolhas entre duas ou mais pessoas? Se minha escolha prejudicar a escolha de outro? Quem será o culpado: eu ou o outro?
Com isso voltamos ao ponto inicial. Culpa X sentido.
sábado, 4 de setembro de 2010
PÁTRIA
Quem de nós não sonha em morar um tempo no exterior ou mesmo lá passear? Realmente é bom. Conhecem-se outros costumes, outra cultura, ou forma de pensar e agir. Mas isso tudo é no começo. Daí a pouco se começa a procurar canais que falem português e não se acha. Procura-se uma comidinha que se tem vontade, e não se acha. Amigos, começa-se pensar nos amigos. Ligar? É muito caro. Tem o MSN ou Orkut, mas os horários não combinam. O deslumbramento vai se esvaindo...e a saudade apertando. Então, então se começa contar os meses, os dias, as horas para voltar. E a volta, que ânsia, o avião não chega nunca. E quando chega: VIVAAAAAA! Que alegria, que felicidade, que alívio! No Brasil, enfim!
Imagine quem, por dever, está longe dela! Nossos pracinhas no Haiti, os familiares de nossos embaixadores, nossos estudantes se aperfeiçoando profissionalmente no exterior. Todos vivem com o coração angustiado.
E o que pensar, então, daqueles que perderam a Pátria? O povo hebreu, por exemplo, depois que Jerusalém foi tomada pelos romanos permaneceu 2.000 anos vivendo sem Pátria. Os países do leste europeu, conquistados pela Rússia, depois da 2ª Guerra, amargaram mais de 40 anos sob o domínio estrangeiro. É só falar com algum húngaro, polonês, tcheco, eslovaco, alemão oriental para ouvir a dor e o ódio que sentem daquele período! Não deve ser outra a reação dos povos que atualmente abrigam tropas estrangeiras em suas pátrias. Exército estrangeiro é sempre presença estrangeira, quer seja para proteção, quer para dominação.
A mais deplorável situação, porém, é ser arrancado de sua Pátria e ser transformado em escravo em pátria alheia. Embora ainda não tivessem propriamente uma Pátria, apenas grupos tribais, foi o que aconteceu com os africanos no século XIX. Eram levados em navios negreiros em condições piores que animais para os Estados Unidos, Ásia, Brasil e dezenas de países para trabalharem e morrerem como escravos.
Estas são algumas reflexões que vieram nesta Semana da Pátria brasileira. A Pátria não se descreve, se sente. E se sente quando se está privado dela, longe, com vontade de estar nela. A Pátria está em nós como sangue, como pensamento, como vontade. Cada um de nós é a Pátria.
sábado, 28 de agosto de 2010
A CORRUPÇÃO POLÍTICA VISTA PELOS CIENTISTAS DA POLÍTICA - Selvino Antonio Malfatti
Para concluirmos nossas reflexões sobre a corrupção política trazemos algumas considerações dos cientistas da política.
Para a cientista da política Amy Gutmann não bastam eleições democráticas ou que os eleitos tenham sido preferidos pela maioria para haver honestidade na política. Após a eleição entram dois elementos que influem na corrupção política. O primeiro diz respeito à elite política. Trata-se da convicção de impunidade no sentido de que não será identificada, baseada na idéia de que o cidadão comum não entende de política. A elite política, confiante nesta visão, pensa que pode fazer o que bem entende para satisfazer seus interesses. O segundo elemento diz respeito ao cidadão: a apatia. Este está convencido que a elite política é incontrolável. Ele tem a sensação de que nada adianta falar ou fazer para impedir a elite política de fazer o que pretende. Disso decorre que de um lado temos a arrogância da elite política e de outro, a apatia do cidadão. O antídoto para ambos será uma educação democrática envolvendo compreensão, conhecimento e empenho na política. Para a elite política a educação é aquela transmitida por Kant quando afirmou que a condição absoluta para qualquer ação ética é seu caráter público e sua transparência. Se a ação não puder ser exposta à luz do sol ou vista publicamente então será necessariamente uma ação corrupta. Toda ação pública democrática deve necessariamente ser transparente e pública para que seja ética.
Max Weber encontrou na corrupção política uma explicação ética. Como sociólogo, economista e cientista político, ele percebeu porque e como ocorreria a corrupção na política.
Weber teoriza sobre duas categorias que atuam na política e que podem ser objeto de corrupção. Os funcionários e os políticos profissionais. Para ambos aponta para duas esferas distintas, a pública e a privada. O funcionário público é um burocrata que apenas administra o público completamente desvinculado de sua propriedade privada. Este tendência levou à formação de um corpo de trabalhadores intelectuais – burocratas especializados – que exercem as funções públicas independentes das flutuações político-partidárias. Desenvolvem, inclusive, um espírito corporativo, em que pesem os outros defeitos, impera o espírito de integridade. Eles se tornam uma blindagem contra as investidas de políticos corruptos. “Se tal sentimento de honra não existisse entre os funcionários, estaríamos ameaçados por uma corrupção assustadora e não escaparíamos ao domínio dos filisteus” (WEBER, 99).
Para os profissionais da política Weber acena com a ética. Para ele corrupção e ética são termos antitéticos, contraditórios. Qual a possibilidade da ética na política ou qual o antídoto da corrupção? Weber responde pelo equilíbrio do profissional da política em três pontos fundamentais: a paixão, o sentimento de responsabilidade e o senso de proporção. O profissional da política deve crer numa causa, ele precisa de uma paixão. No entanto, isto não pode se tornar algo absoluto, não pode transformar esta paixão numa ética de convicção. Por isso, leva em conta as conseqüências e disso decorre o senso de responsabilidade. Para atingi-lo é preciso ponderar todas alternativas até encontrar a devida proporção. Sinteticamente, o político profissional afasta a corrupção e imprime a ética na política quando equilibrar duas diretrizes: a convicção e a responsabilidade, de tal sorte que a responsabilidade atenue a convicção e esta impulsione a responsabilidade.
O filósofo Norberto Bobbio desenvolve a idéia das transformações e limites dos sistemas democráticos. Constata que sobre as democracias pendem as espadas dos interesses particulares, da persistência e insistência das oligarquias e a contínua necessidade da educação dos cidadãos. Nestes elementos residiriam as fontes da corrupção. Evidentemente não pensaria em eliminar os interesses e as oligarquias, mas contê-los nos limites da lei. Quanto à educação para a cidadania deveria começar na mais tenra idade dentro da família, estender-se na escola, amadurecer na universidade e praticar pelo resto da vida.
sábado, 21 de agosto de 2010
DOIS CENÁRIOS DE CORRUPÇÃO - Selvino Antonio Malfatti
Milão - a Tangentopoli
Brasília - a Mensalópolis
É impressionante a semelhança da corrupção política no Brasil com a que ocorreu na Itália na década de Noventa e do Brasil na Primeira década deste século. É uma cópia fiel da outra. A italiana teve como cenário a cidade de Milão e do Brasil a capital Brasília. Lá foi a cobrança de propinas (tangenti) e aqui o mensalão.
Mas há também diferenças: lá um a um foram levados aos tribunais e aqui um a um se esquivou da justiça. Lá quase todos perderam os cargos e foram para a cadeia, aqui “renunciaram”, mas permaneceram onde estavam. Lá o partido foi fechado, aqui disputa a eleição presidencial.
O funcionamento do esquema era praticamente igual. Há um partido patrocinando a corrupção. Os membros deste partido aplicam o golpe da propina, na Itália e no Brasil os políticos recebem o mensalão, dinheiro de origem criminosa. Vejamos com o funcionava no Brasil.
O fator desencadeador das condições de corrupção potencial em corrupção real foi uma contingência de o Partido do Governo necessitar da maioria parlamentar. Era preciso fazer alianças, pois o partido não fizera a maioria nas eleições e precisava da maioria parlamentar para o executivo governar. Para se obtê-las teria que buscar consensos, geralmente em torno de um programa de governo com o qual os partidos aliados concordariam. As alianças podem assentar sobre vários critérios, geralmente em torno de ideologias ou fisiologias. O recurso lançado mão pelo Partido foi o fisiológismo, isto é, a compra e venda de votos ou critério pecuniário. Este é o mais simples e o mais conveniente, pois, tendo a chave do cofre, basta abrir, retirar o dinheiro e pagar. Da parte dos partidos, por sua vez, para se colher cargos e vantagens eleitorais, o programa e a ideologia são jogados na lixeira, como acontece com o maior partido do Brasil em termos parlamentares que abdica inclusive de uma candidatura própria. Com certeza o critério do convencimento ideológico seria muito mais demorado e desgastante e nem sempre de eficiência garantida. O pagamento em dinheiro propiciava uma liquidez rápida, imediata e eficiente.
Com a adoção deste critério, a compra dos votos para se ter a maioria parlamentar, a prática pouco a pouco se ramificou para os mais diversos setores e atingiu as hierarquias governamentais: desde o presidente até o mais humilde cabo eleitoral. Participaram deste esquema políticos, funcionários públicos, empresários, banqueiros e dirigentes, autoridades federais, estaduais e municipais. A corrupção estendia-se desde a lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, propinas, até peculato. O conjunto destas ações de desvio de recursos públicos para particulares e compra de apoio político, concretizada pela partilha de cargos e pagamento periódico e permanente em quantias pecuniárias para políticos constituía o denominado “mensalão”.
Neste cenário a organização da corrupção possui uma hierarquia desde a base até o topo. Os diversos atores estão interligados entre si por um sistema de “lealdade” e dependência mútua. O corrupto local depende do corrupto central, e vice-versa para que a empresa do crime possa continuar a existir e dar lucro. Na base da organização estão os cabos eleitorais locais, intermediadores entre as diversas esferas da organização. Há uma íntima correlação entre a carreira eletiva e os cargos burocráticos do partido ou partidos. Neste sistema os cargos burocráticos amiúde são ocupados por pessoas sem qualquer especialização profissional. Como os cargos eletivos são muito onerosos e pouco lucrativos preferem então se incrustar nos cargos burocráticos os quais, embora não lhes dêem status, dão-lhes dinheiro ou outros privilégios sem necessitar expor-se publicamente. Estes burocratas somente aceitam um lugar no Parlamento se for acompanhado de um alto cargo. Um dos aspectos positivos de ser parlamentar, do ponto de vista dos burocratas, é que os deputados gozam de imunidade parlamentar, com a qual podem fazer vários tipos de negócios.
Uma vez estruturada a rede de corrupção a tendência é desenvolver uma dinâmica própria e autônoma. Neste sentido podemos considerar dois tipos de relações: a vertical, da base ao topo e vice-versa; e a horizontal, da célula-mãe a outras células e vice-versa. Quanto à tendência da base para o topo, significa que os políticos locais selecionam seus padrinhos superiores através de alguns critérios. Primeiramente o apoio tem que ser amplo e forte. Um deputado sem força política de nada lhes adianta, da mesma forma, um deputado sem uma ampla rede de apoio também pouco ajuda. De modo que o critério é a influência e a eficiência. Daí que, criado o húmus da corrupção na base, a tendência é expandir-se para o alto. A condição é sempre a garantia da impunidade, daí que, quanto mais refratário for o superior à impunidade, melhor o será para o inferior, e quanto mais pode render em termos de retribuição tanto melhor.
No entanto, há o reverso. Os superiores corruptos também escolhem sua base de apoio. Neste caso a escolha recai sobre o perfil do intermediador, com qualidades como pragmatismo, os que não representam riscos, o volume de séqüitos e o grau de confiabilidade. Em poucas palavras, deve ser eficiente e confiável.
A célula-mãe da corrupção é o Partido, aval principal do sistema. A partir dele a corrupção se estende às outras organizações contaminando as demais instituições: o poder, a economia, a educação, a segurança, enfim, todo o organismo fica infectado. Neste caso, só extirpando a fonte da corrupção. É o que fez a Itália: fechou a partido.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
CORRUPÇÃO E POLÍTICA DA CONVENIÊNCIA - Selvino Antonio Malfatti
No nosso artigo anterior vimos que no Brasil há um descompasso entre as aspirações éticas da sociedade e o comportamento dos políticos. Isto aconteceu justamente com um partido, eleito com promessa de ética na política, também se transvia. O que teria acontecido com este partido ao assumir o poder? Ele que tanta esperança havia despertado na sociedade brasileira? Por que abandonou a ética originária e migrou para outra? Praticamente todos os partidos se envolveram em crimes contra a ética política, mas por que logo este? Os demais partidos são apenas aliados ao Partido do governo. Ele é o timoneiro do barco do Estado e os demais são ajudantes.
Novamente, o problema ético não só persiste como se agravou, pois, mal assume o poder, desvia-se daquilo que se comprometeu e a sociedade aprovou. Por que isto sói acontecer na prática política brasileira? Haverá outro componente não visível à sociedade?
Pensamos que a teoria weberiana sobre sentido da ação humana, conjugada com a teoria das formas de dominação, pode lançar luz sobre a questão. Conforme Weber a ação humana pode ter quatro sentidos:
1° Ação racional tendo presente uma verdade, avaliada sob a luz da razão como um fim em si e escolhida sem qualquer tipo de coação. Neste caso há uma perfeita sintonia entre o ser buscado e a razão.
2º Ação racional tendo presente um valor, avaliado sob a luz da razão como um bem em si e escolhido sem qualquer tipo de coação.
3º Ação sentimental tendo presente uma emoção, avaliada pelo sentimento como uma sacralidade e escolhida de conformidade com a satisfação.
4º Ação tradicional tendo presente um costume, avaliado tradicionalmente como eficaz e escolhido sob a égide repetição.
Quanto às formas de dominação ou nas formas de legitimação do domínio, Weber apresenta três formas puras:
1° A tradicional se refere aos costumes sagrados dos ancestrais. É o “ontem eterno” sacralizado na tradição. Este, na forma mais pura, o aparelho estatal confunde-se com a vontade pessoal do governante. Não se estabelece uma distinção do governante e da pessoa física de quem o governa. É o patrimonialismo pelo qual bem público se confunde com o privado.
2° A carismática baseada no dom pessoal, na unção, no dom da graça conferido a alguém.
3° A legal baseada na força da lei. Há regras pré-estabelecidas e universalmente válidas. É o domínio exercido em virtude da lei.
A sociedade imprime na ação um sentido valorativo, isto é, ético. Evidentemente que em muitas situações este valor tem cunho sentimental ou mesmo tradicional. Isto é secundário. A elite política, por sua vez, ao assumir o poder pensa em termos patrimoniais, isto é, identifica o que é do Estado com seu patrimônio particular. Desse modo entende que pode apossar-se do bem público em proveito próprio, isto é, a corrupção é considerada legítima. A partir de então o agir do governante se pauta pela conveniência como magistralmente ensina Nicolau Maquiavel. Cada governante é um genuíno “Príncipe”.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
PAI- Selvino Antonio Malfatti
Qual o pai que ainda não se emociona ao saber que iria ser pai? Abraça e beija a esposa, conta para os amigos, ri sozinho. Enxerga-se com o filho nos braços, de mãos dadas com ele, conversando, brincando...
Relembra quantas madrugadas acordado, altas horas de noite, indo à farmácia para comprar uma chupeta... procurando um médico para o filho, cochilando sentado ao lado do berço, de minuto em minuto pondo a mão na testa, para ver se a febre baixava...
Que alegria! Já estava na idade de ir para o colégio, notas baixas, chamadas, temas uniforme, livros, cadernos, iniciação religiosa. Que loucura! Passou. Fim da infância. Adolescência. Agitação, amigos, festas, brigas, perigo constante, chave do carro, onde guardar? Madrugadas adentro esperando chegar. Só depois, conseguia dormir. Jovem, faculdade, depois emprego, namoro...
Pelas pinceladas a cima se vislumbra a missão de um pai na condução do filho à maturidade da vida. Ele paulatinamente insere este novo ser humano nas diversas dimensões da vida: familiar, escolar, cultural, profissional, religiosa e assim por diante. Na família, com mãe e irmãos. Há toda uma adaptação de idades, gênios, preferências e mesmo de sexo. Não é o mesmo tratar com um irmão ou com uma irmã. Pai ou mãe, amigos ou amigas. Com irmão mais velho ou mais novo. Introvertido ou extrovertido. Cada um é único e como tal deve ser considerado.
O grupo de amigos, quem são? O que gostam e fazem? Onde se divertem e quais as preferências. Através dos amigos o filho vai se expandindo, se desprendendo do grupo familiar para inserir-se na sociedade. É questão vital acertar neste momento. Qualquer erro pode levar ao desastre todo o esforço noutros setores.
As diversas etapas da vida do filho: criança, adolescente, jovem e adulto. Como lidar com cada idade, quais os desafios, problemas, anseios?....E quando começa uma fase ou quando termina outra? Um desastre tratar um jovem como criança ou uma criança como jovem. Além disso, cada sexo tem progressões diferentes.
A inserção cultural é outro problema que todo pai enfrentará com dúvidas. Qual o melhor colégio? Público, privado? Por quê? Além disso, deverá levar em conta a preferência do filho. Um está mais à vontade num colégio público e por isso aproveita mais. Outro em privado e conseqüentemente seu rendimento será melhor.
A questão profissional é crucial. O que é melhor para o filho? O pior é que muitas vezes se pensa que algo é bom, mas não é do agrado do filho e o contrário acontece. Pensa-se que o filho não gosta de algo e é isto que quer.
E a dimensão religiosa? Como fazer? O que fazer? Ou não fazer? São dúvidas realmente existenciais que afetam o ser e o agir de cada pai.
E no aprendizado econômico? Fazer conciliar a honestidade pessoal com a habilidade econômica? É preciso ensinar que se deve agir corretamente, mas fazê-lo perceber as ciladas que o espreita e saber se livrar delas. É a lição bíblica: sede simples como as pombas, mas espertos como as serpentes. Ou em termos laicos, usar a força do leão e a esperteza da raposa.
Ser pai, penso que um pouco é isto. Sinto que a figura do pai está em baixa. Basta ver a propaganda comercial. Não chega nem aos pés de outros eventos afins...Por que? Não sei. Soube recentemente de uma escola que aboliu a Comemoração do Dia dos Pais...alegando que pai é um conceito autoritário, dominador e anacrônico. Será? Ou talvez justamente esteja faltando mais presença do pai, mesmo sem a palmadinha?!!!
sexta-feira, 30 de julho de 2010
ÉTICA x CORRUPÇÃO- Selvino Antonio Malfatti
O caso brasileiro é um modelo de persistência teimosa de corrupção e ao mesmo tempo esperança na ética:
1º Só para exemplificarmos nos dias atuais, a partir da década de oitenta e subseqüentes, quando foi substituído o segmento militar pela sociedade civil: após quase três décadas de poder militar, a sociedade consegue substituir a classe política militar, acompanhada de várias denúncias de infrações éticas, por outra classe, a civil, que se dizia comprometida com a ética.
2º Tendo como pano de fundo a ética, foi feita uma reforma Constitucional, a qual pensava-se, garantiria um comportamento ético da classe política. Na primeira eleição o eleitorado consagra alguém que se dizia comprometido com os princípios liberais e pureza ética, mas logo em seguida se envolve com corrupção, comércio de votos, caixa-dois e outros desvios e acaba perdendo o mandato.
3º Na eleição subseqüente a sociedade busca alguém identificado com a ética e com as aspirações populares, oriundo não das fileiras liberais, mas da ideologia socialista. Novamente a classe política eleita se delineará como o mais típico divórcio entre a ética da sociedade e a ética do agir político.
Quem avalizou foi um partido nascido no seio da Teologia da Libertação e que deu seus primeiros passos pela mão da Igreja Católica. Propunha uma revolução ética quando chegasse ao poder nacional: agiria estritamente dentro da ética prometida e aprovada pela sociedade. Ao que chamava de governos corruptos contrapunha um governo de honestidade, contra o capital explorador uma justiça do trabalho, contra a presença maléfica estrangeira uma soberania nacional. Contra a democracia burguesa, a democracia participativa, contra o descaso com o funcionalismo, uma justa remuneração, contra o mercado, um Estado regulador, contra as multinacionais, só empresas nacionais. Um governo de honestidade e de justiça promoveria a felicidade dos menos favorecidos com emprego, educação, saúde e habitação. Tal programa, impregnado de conteúdos ético-morais, paulatinamente foi recebendo o “sim” da sociedade brasileira: municípios, estados e finalmente a federação. Originariamente, para manter sua pureza ética, não aceitava coligar-se com nenhum outro, considerando-se o legítimo guardião da ética.
Originariamente, para manter sua pureza ética, não aceitava coligar-se com nenhum partido, considerando-se o legítimo guardião da ética. No entanto, pouco a pouco se aproxima de outros partidos afins e finalmente, para dissipar todos os temores coliga-se com um partido de ideologia liberal, o qual indica o vice-presidente. A sociedade confiou e deu seu consentimento elegendo o candidato. Ao assumir o poder, porém, necessitando da maioria parlamentar, dispensa a proximidade ideológica e coliga-se com qualquer partido que lhe dê apoio. A maioria foi formada de partidos de esquerda moderada e radical, bem como de direita e de centro-direita. Para se conseguir maioria ou apoio parlamentar cada congressista passou a ter um valor pecuniário: uns mais, outros menos e uma significativa parcela inegociável.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
GUERRA À CORRUPÇÃO, SEM MEDO E SEM TRÉGUA - Selvino Antonio Malfatti
Iniciou-se já o período de campanha eleitoral. E desta vez temos uma novidade: A FICHA LIMPA. Isto significa que não poderia haver candidato condenado por um colegiado de juízes. É um avanço. Mas por que a corrupção é tão endêmica no Brasil? Vejamos:
1. Há corrupção quando há condições. Diz o ditado que a ocasião faz o ladrão.
2. Embora não haja condições, mas também não há restrições.
3. Embora haja restrições legais, mas são tão brandas que ninguém se importa em ser condenado.
4. Ausência de uma ética. O condenado continua a sentir-se à vontade embora acusado de corrupto.
Penso que a terceira seja a mais significativa. Em alguns países a acusação de corrupção leva ao suicídio. No Brasil à reeleição. O acusado não sente vergonha da esposa, filhos e dos amigos. Até elogios de admiração recebe de alguns pela “esperteza”.
Gostaria de iniciar uma reflexão sobre a ética na política. Para tanto, vamos estabelecer alguns parâmetros.
1º A corrupção não é de nenhum partido, somente ações de pessoas.
2º Nenhum partido terá mais ações corruptas que outro.
3º A análise é puramente ética, sem acusações ou xingamentos.
Como seria um ideal de ética e política? Esboçar um modelo que conjugue ética e política talvez teoricamente não seja tão difícil. Já vários pensadores o fizeram com sucesso, tais como Platão, Aristóteles, Espinoza e outros. Também já foi proposto ignorar simplesmente aspectos éticos na política e neste caso pode ser citado Maquiavel como protótipo. Da mesma forma, há propostas que desconhecem, ou querem desconhecer, a especificidade da política propondo modelos puramente éticos. É o caso do fundamentalismo muçulmano. O problema reside na relação prática entre ética e política.
As aspirações políticas da sociedade e o comportamento ético da classe política podem estar em desacordo. A sociedade, sensível aos apelos éticos, responde positivamente, mas a classe política pode andar na contramão: promete ética na política, mas age de maneira antiética ou tem uma ética diversa daquela que sua sociedade quer.
No caso da sociedade brasileira temos diante de nós um contexto político típico recorrente do descompasso entre a ética da sociedade e a ética da classe política. O problema maior, e por isso difícil de ser sanado, é que o desacordo provém após a consulta popular. Quando a classe política se apresenta ao eleitorado, exibe uma proposta ética. A sociedade dá seu consentimento, mas tão logo a classe política inicia seu o agir político, desvia-se da proposta avalizada pela sociedade e passa a praticar sua própria ética. Então, a sociedade, frustrada, desinteressa-se pela vida pública e retira-se para a sua vida privada. E continua o divórcio entre a ética da sociedade e o agir da classe política.
Este contraste, sociedade e classe política, é recorrente na experiência política universal. Na década de Noventa destacam-se nos governos: Brasil, (Fernando Collor de Mello), Venezuela, (Carlos Andrés Pérez), Peru, (Vladimiro Montesinos e Alberto Fujimori), Argentina, (Carlos Menem), México, (Carlos y Raúl Salinas de Gortari). Na Europa, Itália, (Mani Pulite ou Tangentopoli), Alemanha, (Helmut Lohl), França, (Fraçois Mitterrand), Espanha, (PSOE) entre outros.
No próximo encontro vamos analisar o caso brasileiro em particular.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
ÉTICA E CULTUTURA - Selvino Antonio Malfatti
José Maurício de Carvalho, professor da Universidade Federal de São João Del Rei, escreveu um livro intitulado: ÉTICA. Dividiu-o em duas partes. Na primeira faz a gênese da ética e seu desenvolvimento no ocidente e no Brasil. Constata como Michele Frederico Sciacca que a cultura ocidental é fruto da confluência das culturas grega, judaico-cristã e romana, cada qual contribuindo com valores específicos. O resultado foi a valorização da pessoa humana, o estado de direito e a democracia.
Da Grécia antiga adveio valor a democracia, da judaico-cristã a pessoa humana e dos romanos o estado de direito. Evidentemente, este resultado levou séculos para se combinarem, conforme Carvalho.
Para José Maurício, cada época possui seus valores e estes se concretizam na cultura. Desse modo os valores não podem ser reduzidos ao relativismo e nem serem tomados de modo absoluto. Eles são culturais, isto é, enquanto não houver razão para serem abandonados, são mantidos. Por isso, os valores são enquanto devem ser.
A cultura nasce do homem histórico. Ela é o reflexo da organização hierárquica da atribuição de valores de cada grupo. José Maurício vale-se de Miguel Reale, para o qual alguns valores se cristalizam de tal sorte na cultura que eles passam praticamente a serem permanentes. Entre estes o mais destacado no ocidente é o valor da pessoa humana, seguido pela democracia e estado de direito e atualmente a ecologia.
Na segunda parte, Carvalho aborda questões pontuais da ética, buscando a fundamentação nos grandes pensadores contemporâneos. Como item inicial traz ao debate a questão da escolha. Reconhece que o homem constitui-se pela sua herança genética, influência do ambiente social e suas próprias escolhas. Nenhuma delas pode ser reduzidas a qualquer uma das demais mas, em cada homem elas se realizam de modo peculiar fazendo com que cada um seja único. Carvalho enfatiza a questão da escolha pessoal, pois somente esta é propriamente sua. É que no momento da escolha que entram os valores. As duas, escolhas e valores, constroem a o cerne da personalidade. Mas não é somente este aspecto que tem significação. Deve-se juntar o resultado das ações ou escolhas para o presente o mesmo para o futuro, inclusive após a existência do indivíduo. Por isso, deve-se acrescentar à escolha, a responsabilidade, como aponta Hans Jonas.
Conforme Carvalho, as escolhas éticas emergem do dia a dia na luta contínua do homem para sobreviver. Neste ambiente cria cultura, significando a organização gnosiológica, elaboração artística, seleciona valores. Os valores são experiências bem sucedidas as quais passam a valer para toda sociedade. E eles permanecem enquanto forem válidos. O conjunto desses valores bem sucedidos cristalizou-se em bens culturais, nascidos e mantidos pela sociedade. Por isso, os valores éticos originaram da sociedade como um consenso sobre sua validade. É nisso que a ética se distingue da moral. A sociedade cria determinados modos de pensar, agir e sentir. A reflexão sobre estes costumes fazendo um balanço racional sobre sua pertinência constitui a ética. Por isso, se poderia dizer que enquanto valor efêmero de uma sociedade, os costumes, seria a moral. Em contrapartida, enquanto valor permanente – sem significar absoluto e eterno – é a ética. Se lançássemos mão de uma metáfora, a moral seria a pedra bruta e a ética uma pedra polida.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
A FÉ - Selvino Antonio Malfatti
A fé opera “milagres”: pode superar doenças, passar por obstáculos instransponíveis, salvar, “vencer” a morte.
Na história, à fé foram atribuídas muitas realizações. Dentre elas a de ser responsável pela formação de nações, como é o caso da Polônia e da Hungria. Esta última comemora sua identidade nacional ligada à figura de Santo Estevão, o primeiro rei e santo da Hungria.
A fé é um desses sentimentos indefiníveis. Instala-se ao natural. Quando se dá conta faz parte da vida. Ela penetra na alma através do leite materno, do ambiente familiar e social. Esta fé não se adquire, nasce-se com ela. É uma fé sem ruptura, pacífica. As decorrências e conseqüências seguem um fluxo normal dentro do meio que se vive. É uma fé de Santo Tomás, de São Francisco.
A outra se origina do conflito. Há um passado que precisa ser sepultado para poder dar espaço a ela. Esta fé nasce da violência consigo mesmo e com o meio. A partir da opção pela fé passa-se a queimar os antigos deuses e adorar o que se queimou no passado. É uma fé de São Paulo, de Santo Agostinho.
Há então duas direções: uma da fé para a razão e outra da razão para a fé. Geralmente quando se chega à fé pelo segundo caminho, ao da razão para a fé, esta não se a perde jamais. O primeiro caminho, o da fé para a razão, é aquele que mais leva a perda da fé. Pelo segundo, a razão sente-se insatisfeita, inquieta, frustrada pelas respostas da razão às questões existenciais. Pela primeira, a razão se sente quase traída pelas soluções propostas pela fé à razão. A razão que busca a fé dificilmente voltará atrás, mas a fé que busca a razão às vezes retrocede e se torna descrente ou ao menos sente mais dificuldade para conciliar razão e fé.
A fé é a transposição da incerteza do fenômeno para a certeza da verdade. A razão é a dúvida da certeza perante o fenômeno. A fé faz a passagem daquilo que é apenas uma hipótese, uma aparência, um indício par para uma certeza. A razão se nega a atravessar o mundo do fenômeno e acatar a certeza. A certeza para a razão nunca existe a não ser a certeza da incerteza. A fé faz a passagem e após ela encontra a razão. A razão não encontra a fé, mas esta encontra a razão. A fé é uma antinomia da razão, mas a razão não o é da fé.
Feita a transposição da razão para a fé, tudo se torna mais fácil. A mente parece iluminar-se e a razão passa a perscrutar com infinita liberdade as magnas questões da ciência. A discussão atual, por exemplo, sobre a origem do universo através do Big Bang foi antevista por Santo Agostinho há quase dois mil anos: a ausência de tempo e espaço antes da criação. Tudo era nada e Deus não fazia nada e não preparava o inferno para os descrentes, como alguns queriam brincar com questões tão sérias. Se a fé precede a razão cronologicamente, a razão, posteriormente, fundamente cientificamente a fé. E enquanto houver fé, haverá sempre esperança de caridade.
A FÉ
sexta-feira, 2 de julho de 2010
PEDRO, CHEFE DA IGREJA - Selvino Antonio Malfatti
No dia 29 do mês de junho os católicos celebram a festa de São Pedro, considerado o líder dos apóstolos e o primeiro papa. Inicialmente chamava-se
Cefas que quer dizer “pedra” em aramaico. A chefia da Igreja se deve ao que Mateus escreveu no seu Evangelho.
- Tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus" (Mt. 16: 18-19).
A casa de Pedro fica perto do Lago de Genesaré - também chamado Mar da Galiléia – Atualmente há somente as ruínas das paredes, feitas de pedras. Por cima dela, e preservando-a, foi feita uma moderna construção com igreja, museus e outras atividades. Inicialmente era apenas uma casinha em forma octogonal, mas com o crescimento da importância de Pedro foram feitas mais construções ao seu redor, de modo que, pelos conceitos da época, se tornara pouco a pouco uma mansão.
Quem sai da casa de Pedro e vai ao lago percorre aproximadamente uns 200 metros. Ao se chegar às margens, há uma clareira entre os arbustos e uma pequena entrada com algumas pedras salientes e lajes. Era ali que Pedro deixava seu barco depois da pescaria. Foi nesse local que Jesus apareceu aos apóstolos, após a ressurreição e perguntou a Pedro se ele o amava. E a cada resposta positiva, Jesus lhe dizia:
- Apascenta minhas ovelhas.
Na terceira vez Pedro encheu os olhos de lágrimas. Era a confirmação de seu primado.
O papa João Paulo II, ao visitar o local, também comoveu-se e as lágrimas correram-lhe no rosto e disse aos acompanhantes:
- Este é o local mais bonito da Terra Santa!
Quem olhar à frente, tem um lago sereno, com ondas quase imperceptíveis. Do outro lado elevam-se as colinas de Gola, à esquerda o Rio Jordão entrando no lago e à direita perde-se a vista no horizonte. Parado, escutando o nada. Passa de leve a brisa pela face. E se olha, se escuta, se sente uma coisa boa perpassando pelas veias. E se olha, se escuta, se escuta, se olha.
É emocionante!
quinta-feira, 24 de junho de 2010
GIULIA, FELIZ ANIVERSÁRIO - Selvino Antonio Malfatti
GIULIA
Era uma tarde fria. Todos na rua se apressavam para chegar à casa, esconder-se do frio junto à lareira ou ao fogão à lenha.
Giulia, eu estava lá com tua mãe e o irmãozinho, o Nani. Este não parava: corria, chutava bola, pulava pelos móveis. Tua mãe ralhava com ele:
- Nani, daqui a pouco me acertas uma bolada na barriga...
Que nada. Tudo a mesma coisa.
Pensava comigo mesmo:
- Hoje vamos nos recolher cedo.
De repente o Nani diz que quer ir à festa junina do colégio.
- Meu Deus, que loucura, pensei. Tu estavas prestes a nascer. Tua mãe com aquele barrigão.
Fomos. Era um povaréu que não terminava mais. A música não tinha nada a ver com festa caipira. Era um rock de rebentar os tímpanos. Teu irmão corria no meio do povo, se perdia, eu corria a atrás. E tua mãe carregando aquele barrigão. Uma hora cheguei para ela e disse.
- Vamos embora.
- Não, está cedo. Estou me divertindo - dizia ela.
Eu começava a ficar agoniado. Sabe, tu poderias nascer a qualquer momento, lá no meio da multidão. Felizmente daí a pouco se resolveu e fomos para casa.
Mal chegáramos, tua mãe disse que estava sentindo alguma coisa. Então eu disse:
- Pegue as trouxas e vamos embora. Mal deu para chegar ao hospital. Rapidamente tua mãe foi encaminhada para a sala de parto. Tua mãe queria esperar outro dia. Eu sabia por quê. Era 24 e tua mãe não queria que nascesses neste dia.
- Pura bobagem - pensei comigo.
Quando virou a meia-noite ela disse:
- Agora, a hora que quiserem.
Eu fui para casa pedindo para que me chamassem quando estivesse na hora. Não me chamaram e só de manhã soube que tinhas nascido quando liguei para o hospital. Fui correndo para lá. Lá estava tua mãe e tu. Olhei para ti. Eras linda como ainda és hoje. Te peguei nos braços e disse:
- Seja bem vinda, Giulia.
Após dar os parabéns à mãe, saí e fiquei me perguntando:
- Por que os netos são tão caros aos avós?
Penso que, no fundo, seja uma compensação por não termos sido os pais que queríamos ter sido e não pudemos. A natureza nos dá os filhos na pior fase da vida. É o momento mais crucial da refrega pela sobrevivência. Eles chegam quando temos tudo para fazer e tudo ao mesmo tempo. É a profissão para desempenhar, crescer e subir. É o patrimônio a ser adquirido. É a adaptação da vida matrimonial. São os parentes, os compromissos sociais, presentes, padrinhos, festas. Neste burburinho nascem os filhos. Gostaríamos de estar com eles, vê-los crescerem, falar, caminhar, pensar. Mas não há tempo. Temos que andar senão nos atropelam. Para eles sobram apenas migalhas. Não é isto que os pais querem, mas são obrigados a isto e, por paradoxal que seja, para o bem dos próprios filhos. Eles vão precisar de alimento, vestuário, saúde, educação, lazer, um lar confortável. Mas se não criarmos as condições para isto, não poderemos dar nada disto a eles. Então nos lançamos à luta com tudo, de corpo e alma, e como conseqüência, aos filhos, as sobras. Desejaríamos dar-lhes carinho, presença, convivência. Mas não é muito que sobra não.
Com os netos, tudo isso já temos. Então podemos nos tornar pai ou mãe que sempre quisemos ser e não pudemos. A chegada do neto é como se a natureza, de repente, voltasse para trás e nos desse um filho, agora com todas as condições: estabilidade de econômica e patrimonial, problemas familiares resolvidos, paz muita paz. O neto é este filho de novo. Mas lembremo-nos: ele é apenas a alegria de filho, não filho. Por isso, ele terá que passar tudo aquilo que - como nós - nossos filhos passarão, para depois eles também terem a recompensa dos netos. Não nos é lícito permitir aos netos aquilo que proibíamos aos nossos filhos, como dormir sem banho, comer sem lavar as mãos, acender todas as lâmpadas ou acender e apagá-las, ficar discando no telefone, riscar a parece com lápis ou caneta, gritar quando as pessoas estão falando, interromper as conversas dos adultos e outras “artes”. Também não nos é permitido assumirmos o papel dos pais e exigirmos dos netos tudo o que exigíamos dos filhos. O máximo que podemos fazer é calar e no nosso interior apoiarmos os pais a agirem como convém.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
BEM VINDOS, AMIGOS! - Selvino Antonio Malfatti
Uma criança sorrindo. Um beijo da mãe. Um abraço do pai. Um enlace da namorada. Um aperto de mão. O que tudo isso evoca em nós? A alegria. E o que nos torna plenos de júbilo? A amizade. A amizade tem o poder de despertar em nós a alegria. Até nos momentos mais tristes podemos sentir alegria se estamos com amigos. A amizade esquece a pobreza, fortalece no sofrimento, perdoa a ingratidão. Mesmo quando nos despedimos de um ente querido, se estivermos rodeados de amigos, podemos sentir a tristeza envolta na alegria. Amizade e alegria são dois sentimentos que se irmanam, se completam. São almas gêmeas que querem estar sempre juntas.
Quando sentirmos a cadência da amizade, a alegria irrompe aos borbotões no coração. Dispara quando ouvimos a voz do amigo. A amizade pode nos elevar aos céus, imaginar uma humanidade irmanada, um mundo se dando as mãos e entoar a sinfonia de Ode à Alegria de Beethoven ou um Va Pensiero de Verdi. A amizade nos desprende desta terra, nos deixa levitando no espaço, voando com o pensamento como se não tivéssemos corpo. A amizade é o mais belo presente que alguém pode receber. Ela vale por toda sabedoria, todos os dons, todas as riquezas. Ela enche de todo coração. A amizade não necessita de mais nada, ela é completa em si, ela dá alegria.
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