quinta-feira, 15 de julho de 2010
ÉTICA E CULTUTURA - Selvino Antonio Malfatti
José Maurício de Carvalho, professor da Universidade Federal de São João Del Rei, escreveu um livro intitulado: ÉTICA. Dividiu-o em duas partes. Na primeira faz a gênese da ética e seu desenvolvimento no ocidente e no Brasil. Constata como Michele Frederico Sciacca que a cultura ocidental é fruto da confluência das culturas grega, judaico-cristã e romana, cada qual contribuindo com valores específicos. O resultado foi a valorização da pessoa humana, o estado de direito e a democracia.
Da Grécia antiga adveio valor a democracia, da judaico-cristã a pessoa humana e dos romanos o estado de direito. Evidentemente, este resultado levou séculos para se combinarem, conforme Carvalho.
Para José Maurício, cada época possui seus valores e estes se concretizam na cultura. Desse modo os valores não podem ser reduzidos ao relativismo e nem serem tomados de modo absoluto. Eles são culturais, isto é, enquanto não houver razão para serem abandonados, são mantidos. Por isso, os valores são enquanto devem ser.
A cultura nasce do homem histórico. Ela é o reflexo da organização hierárquica da atribuição de valores de cada grupo. José Maurício vale-se de Miguel Reale, para o qual alguns valores se cristalizam de tal sorte na cultura que eles passam praticamente a serem permanentes. Entre estes o mais destacado no ocidente é o valor da pessoa humana, seguido pela democracia e estado de direito e atualmente a ecologia.
Na segunda parte, Carvalho aborda questões pontuais da ética, buscando a fundamentação nos grandes pensadores contemporâneos. Como item inicial traz ao debate a questão da escolha. Reconhece que o homem constitui-se pela sua herança genética, influência do ambiente social e suas próprias escolhas. Nenhuma delas pode ser reduzidas a qualquer uma das demais mas, em cada homem elas se realizam de modo peculiar fazendo com que cada um seja único. Carvalho enfatiza a questão da escolha pessoal, pois somente esta é propriamente sua. É que no momento da escolha que entram os valores. As duas, escolhas e valores, constroem a o cerne da personalidade. Mas não é somente este aspecto que tem significação. Deve-se juntar o resultado das ações ou escolhas para o presente o mesmo para o futuro, inclusive após a existência do indivíduo. Por isso, deve-se acrescentar à escolha, a responsabilidade, como aponta Hans Jonas.
Conforme Carvalho, as escolhas éticas emergem do dia a dia na luta contínua do homem para sobreviver. Neste ambiente cria cultura, significando a organização gnosiológica, elaboração artística, seleciona valores. Os valores são experiências bem sucedidas as quais passam a valer para toda sociedade. E eles permanecem enquanto forem válidos. O conjunto desses valores bem sucedidos cristalizou-se em bens culturais, nascidos e mantidos pela sociedade. Por isso, os valores éticos originaram da sociedade como um consenso sobre sua validade. É nisso que a ética se distingue da moral. A sociedade cria determinados modos de pensar, agir e sentir. A reflexão sobre estes costumes fazendo um balanço racional sobre sua pertinência constitui a ética. Por isso, se poderia dizer que enquanto valor efêmero de uma sociedade, os costumes, seria a moral. Em contrapartida, enquanto valor permanente – sem significar absoluto e eterno – é a ética. Se lançássemos mão de uma metáfora, a moral seria a pedra bruta e a ética uma pedra polida.
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