Estamos cercados, encurralados, andamos de um lado para outro
sem achar um lugar para ficar como os habitantes de Gaza. Estamos rodeados de
guerras: Ucrânia-Rússia, Israel-Hamas, Irã-Israel. As guerras estão lá, mas
estão aqui. Estamos no meio delas. Somos escudos, pontarias indefesas. Para onde vamos? Qual o caminho?
Não é feio, nem antiquado voltar. Um dos exemplos mais
clássicos e contundentes de voltar para melhorar foi o Renascimento no final da
idade média. O homem tinha tomado um atalho, deixado tudo para trás e chegou
num beco sem saída. Dante sintetiza numa palavra “la diritta via era
smarrita": (o caminho verdadeiro estava apagado) - Canto I do Inferno. Diante
disso as lideranças humildemente se perguntaram: onde nos desviamos?
A resposta saltou aos olhos:
- abandonamos tudo o que até então havia sido conquistado
pelos: egípcios, romanos, gregos, hebreus. A decisão:
- Voltemos e retomemos o caminho certo.
E o que encontraram que havia sido abandonado? O humano.
E atualmente estamos de novo perdidos. Na Idade Média, no
afã de procura do divino, esqueceu-se o humano. E agora? Conforme Hannah Arend,
em “Vita Activa” o esforço para libertação do homem da “prisão terrena”. O
cristianismo fala na terra como “vale de lagrimas” e os filósofos no corpo como
“prisão da alma”. Até então, porém, nunca havia sido mencionado como “terra
prisão do homem”. Diz Arend: “Renunciamos a Deus, que era um Pai celestial e,
como pai, dialogamos com a mãe Terra". Na mesma linha apontam as
experiências de criar seres superiores, evidentemente libertos da terra.
Passados setenta anos do Sputnik o firmamento tornou-se uma autoestrada cheia
de satélites, mais de 7 mil, orbitando sobre nossas cabeças.
E no que deu a civilização? Guerras e ameaças, invasões,
crises econômicas e degradação dos costumes, que podem acabar com uma hecatombe
mundial. Pode, porém, acabar de outra maneira, menos grandiosa, mas não menos
fatal. O excesso de bem-estar.
Uma fatia da população vive satisfeita, sem preocupações.
Comida em abundância, ausência de problemas. A única preocupação é com o máximo
de lazer. Trabalho? Nada. Estudos? Para quê? Argumentam:
- Não consenti para nascer. Agora que sustentem.
Celulares garantem comunicação imediata e com quem agrada.
Nem mesmo a saúde se escapa. Se o médico discordar troca o médico.
É um novo mundo que se aproxima como um asteroide prestes a
chocar-se contra a civilização atual e destruir tudo. E a apatia toma conta das
últimas gerações. As salas da internet é o mundo virtual criado com total liberdade para mutilar,
estuprar e matar num delírio coletivo. E novamente a pergunta: onde nos
perdemos.
É verdade que há uma diminuta população jovem que não nasceu
em berço de ouro, nem extrema pobreza. São jovens comuns que tem pais,
professores e outros orientadores que mostram o caminho não com palavras, mas
vivência, que encaram os desafios. Não por suas próprias forças, mas com elas e
com apoio de alguém, ou de algo, enfrentam as dificuldades e as vencem. Fui
voluntário de grupos de apoio a familiares de dependentes químicos. Constatei
que conseguia vencer quem tinha uma família que apoiasse e uma religião que lhe
desse um sentido superior. Era preciso a conjunção de dois fatores: a família e
a religião. A família poderia ser um amigo, um professor, um psicólogo e a
religião um motivo supramaterial, algo espiritual, um ideal.
Nesta linha a volta ao verdadeiro caminho, o renascimento ético-moral da sociedade atual, necessita de uma análise crítica do contexto contemporâneo. É preciso encontrar a “vera via” que foi “smarrita”. Hoje o verdadeiro caminho foi substituído por aparências, consumo, prestígio social. O verdadeiro caminho são os valores universais do amor, compaixão, responsabilidade pelo outro e respeito à vida. O caminho apagado é o relativo, o descartável. Seu oposto é o caminho objetivo, duradouro, enraizado na verdade e na consciência. Não se pesa por “likes” ou o quanto é útil, o bem que proporciona a cada um. O caminho verdadeiro é o bem autêntico que nasce da empatia, da escuta e da ação desinteressada, não de atitudes feitas por obrigação ou autopromoção. O novo Renascimento:
A VOLTA À INTERIORIDADE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário