terça-feira, 2 de setembro de 2025

O CAMINHO. O VERDADEIRO. Selvino Antonio Malfatti





Estamos cercados, encurralados, andamos de um lado para outro sem achar um lugar para ficar como os habitantes de Gaza. Estamos rodeados de guerras: Ucrânia-Rússia, Israel-Hamas, Irã-Israel. As guerras estão lá, mas estão aqui. Estamos no meio delas. Somos escudos, pontarias indefesas. Para onde vamos? Qual o caminho?

Não é feio, nem antiquado voltar. Um dos exemplos mais clássicos e contundentes de voltar para melhorar foi o Renascimento no final da idade média. O homem tinha tomado um atalho, deixado tudo para trás e chegou num beco sem saída. Dante sintetiza numa palavra “la diritta via era smarrita": (o caminho verdadeiro estava apagado) - Canto I do Inferno. Diante disso as lideranças humildemente se perguntaram: onde nos desviamos?

A resposta saltou aos olhos:

- abandonamos tudo o que até então havia sido conquistado pelos: egípcios, romanos, gregos, hebreus. A decisão:

- Voltemos e retomemos o caminho certo.

E o que encontraram que havia sido abandonado? O humano.

E atualmente estamos de novo perdidos. Na Idade Média, no afã de procura do divino, esqueceu-se o humano. E agora? Conforme Hannah Arend, em “Vita Activa” o esforço para libertação do homem da “prisão terrena”. O cristianismo fala na terra como “vale de lagrimas” e os filósofos no corpo como “prisão da alma”. Até então, porém, nunca havia sido mencionado como “terra prisão do homem”. Diz Arend: “Renunciamos a Deus, que era um Pai celestial e, como pai, dialogamos com a mãe Terra". Na mesma linha apontam as experiências de criar seres superiores, evidentemente libertos da terra. Passados setenta anos do Sputnik o firmamento tornou-se uma autoestrada cheia de satélites, mais de 7 mil, orbitando sobre nossas cabeças.

E no que deu a civilização? Guerras e ameaças, invasões, crises econômicas e degradação dos costumes, que podem acabar com uma hecatombe mundial. Pode, porém, acabar de outra maneira, menos grandiosa, mas não menos fatal. O excesso de bem-estar.

Uma fatia da população vive satisfeita, sem preocupações. Comida em abundância, ausência de problemas. A única preocupação é com o máximo de lazer. Trabalho? Nada. Estudos? Para quê? Argumentam:

- Não consenti para nascer. Agora que sustentem.

Celulares garantem comunicação imediata e com quem agrada. Nem mesmo a saúde se escapa. Se o médico discordar troca o médico.

É um novo mundo que se aproxima como um asteroide prestes a chocar-se contra a civilização atual e destruir tudo. E a apatia toma conta das últimas gerações. As salas da internet é o mundo virtual  criado com total liberdade para mutilar, estuprar e matar num delírio coletivo. E novamente a pergunta: onde nos perdemos.

É verdade que há uma diminuta população jovem que não nasceu em berço de ouro, nem extrema pobreza. São jovens comuns que tem pais, professores e outros orientadores que mostram o caminho não com palavras, mas vivência, que encaram os desafios. Não por suas próprias forças, mas com elas e com apoio de alguém, ou de algo, enfrentam as dificuldades e as vencem. Fui voluntário de grupos de apoio a familiares de dependentes químicos. Constatei que conseguia vencer quem tinha uma família que apoiasse e uma religião que lhe desse um sentido superior. Era preciso a conjunção de dois fatores: a família e a religião. A família poderia ser um amigo, um professor, um psicólogo e a religião um motivo supramaterial, algo espiritual, um ideal.

Nesta linha a volta ao verdadeiro caminho, o renascimento ético-moral da sociedade atual, necessita de uma análise crítica do contexto contemporâneo. É preciso encontrar a “vera via” que foi “smarrita”. Hoje o verdadeiro caminho foi substituído por aparências, consumo, prestígio social. O verdadeiro caminho são os valores universais do amor, compaixão, responsabilidade pelo outro e respeito à vida. O caminho apagado é o relativo, o descartável. Seu oposto é o caminho objetivo, duradouro, enraizado na verdade e na consciência. Não se pesa por “likes” ou o quanto é útil, o bem que proporciona a cada um. O caminho verdadeiro é o bem autêntico que nasce da empatia, da escuta e da ação desinteressada, não de atitudes feitas por obrigação ou autopromoção. O novo Renascimento:

 A VOLTA À INTERIORIDADE.


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