De um modo geral os seres não são autossuficientes. Isto significa que os seres por mais perfeitos necessitam nuns dos outros. É consagrada a alegoria do corpo humano que desde a antiguidade mostra com clareza as dependências mútuas. Manêncio Agripa narra que membros do corpo (mãos, boca, dentes, etc.) rebelaram-se contra o estômago, achando que este só recebia e nada fazia. Mas, sem alimentá-lo, eles próprios enfraqueciam, percebendo então que o estômago devolvia ao corpo, transformado, aquilo que recebia. O próprio Manêncio explica aos plebeus que Roma é um corpo no qual cada membro contribui com o todo e dele recebe o necessário.
Esta metáfora de uma cidade pode ser aplicada a sociedades globais como países, blocos gentílicos e continentes. Dentro de um país há uma interdependência econômica e política. Uns se dedicam à agricultura, outros à indústria, outros ao alinhamento social. Assim como os órgãos de um corpo dependem uns dos outros para manter a vida, também as sociedades apresentam interdependência em diferentes níveis. No plano global, países, blocos regionais e continentes trocam bens, tecnologias e conhecimentos, formando uma rede de dependência mútua. Dentro de um mesmo país, setores como agricultura, indústria e serviços sustentam-se reciprocamente e precisam de alinhamento social e político para funcionar. Essa visão microscópica — de que cada parte cumpre um papel indispensável para o todo — ajuda a compreender tanto as relações internacionais quanto as estruturas internas de uma sociedade e do concerto das sociedades globais. E isto ocorre mutuamente. Quando uma parte falha o todo se ressente e procura novamente buscar o equilíbrio.
Já Nicolau Maquiavel aborda em o “Príncipe” autonomia e dependência. Alerta para o fato de que um governante que dependa de outros é vulnerável. Significa que possui um flanco desprotegido e pode ser atacado e ferido. Por isso deve se livrar da dependência através de tratados, fortalecer as instituições e obter o apoio do povo. Para garantir sua autonomia evite compromissos com outros a não ser que sejam vantajosos.
O contexto político global patenteia uma nova situação. Até o momento a dependência se fazia na procura, na compra. Eram dependentes os países que precisavam comprar. Agora dependentes são os que precisam vender. Os novos dependentes dependem dos outros não para adquirir o que precisam, mas para vender o que produzem. Se os compradores aceitam a compra mediante um preço razoável o inter-relacionamento é pacífico e tácito. Quando os compradores impõem restrições na compra, como taxas, os dependentes precisam vender, rompe-se o equilíbrio e cria-se uma situação de extorsão. No caso brasileiro as exportações para seu maior comprador, os Estados Unidos, girava em torno de 10%, aceita tacitamente. Com o novo presidente Donald Trump a taxação subiu para 50% rompendo o equilíbrio das relações comerciais entre Estados Unidos e Brasil. A reação foi buscar novas formas de equilíbrio, no caso novos mercados. Como os países europeus também foram atingidos pelas taxações dos Estados Unidos, sul-americanos e europeus resolveram negociar. O Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) estabeleceram um acordo comercial. Em cerimônia realizada no Rio de Janeiro, neste mês, representantes do Mercosul e da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) assinaram um acordo de livre comércio que promete revolucionar as relações comerciais entre os blocos. Ambos sentiram-se vantajosos. As vantagens de ambos: O acordo concede livre comércio a quase 99% das exportações de produtos agrícolas e industriais brasileiros para os países da EFTA.
Eliminação de tarifas: A EFTA eliminará 100% das tarifas de importação para produtos industriais e pesqueiros do Mercosul.
Impacto no Brasil: Estimativas indicam um impacto positivo no PIB brasileiro e um aumento significativo nas exportações e nos investimentos até 2044. O acordo ideal seria com a União Europeia, mas sofre resistências dos agricultores franceses. O pleno equilíbrio ainda não foi atingido, mas alentou para normalidade. O Brasil deixou de ser totalmente dependente, pois agora tem mercado comprador. Falta a autonomia. esta alcançada com acordo Mercosul-UE, ou revogação das taxas com os USA.
Incrível, perfeito.
ResponderExcluirClareza para apreendermos.
Em todas as relações comerciais é importante este equilíbrio, que se mantém com tratados éticos.
ResponderExcluirPelo artigo, muito bem explicado.
ResponderExcluirO que pensamos que poderia ser prejudicial à nosso País, nesta briga de taxação, abriu novas parcerias, isto é muito bom.
Podemos dizer, tudo depende do olhar.
ResponderExcluirAs vezes as perdas trazem ganhos inesperados, abertura para outras parcerias.
E assim o comércio funciona, se alguém não compra, outros comprarão, tudo é negociável, é preciso buscar novos parceiros.
ResponderExcluirSempre haverá vendedores e compradores, O importante é saber negociar, as vezes falta competência.
ExcluirAutonomia total e impossível.
ResponderExcluirMas muita dependência, é perigoso.
Um povo dependente acaba por ser escravo.
ResponderExcluirUma negociação deve ser de igualdade, não submissão.
Questão atual de nosso país, nem sempre temos negociadores, bons técnicos especialistas .
ResponderExcluirE tudo vira confusão.
Concordo, ninguém virá especialista por ser doutrinado em um partido político, isto é visão limitada,
ResponderExcluirÉ preciso ser humilde para se reconhecer incapaz de assumir comando do que não entende.