sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O acirramento da violência. José Mauricio de Carvalho

 



O dia 25 de novembro pretende dar visibilidade à violência contra a mulher. A ONU escolheu esta data porque foi nesse dia, no ano de 1960, que o ditador da República Dominicana Rafael Trujillo torturou e executou as irmãs Mirabal: Pátria, Teresa e Minerva. No último dia 25 a ONU divulgou dados assustadores da violência contra a mulher, mostrando que se trata de um comportamento infelizmente espalhado pelo mundo, tendo havido 85 mil assassinatos de mulheres em 2023, uma a cada dez minutos. Na Europa é onde a violência é menor, mas também está crescendo nesses últimos anos.

No Brasil a situação não é nada confortável, havendo o Ministério das Mulheres divulgado uma pesquisa feita em outubro deste ano com uma amostra representativa da população brasileira. Ela revela que 20% das mulheres relataram que já haviam sido agredidas ou ameaçadas de morte por companheiros e/ou ex-companheiros. A tendência de agravamento do quadro identificado pela ONU no mundo também se verifica em nosso país. O que explica esse aumento da violência?

Algumas razões são apresentadas nesses estudos, há, geralmente, motivos culturais relacionados à crença na submissão da mulher. Há o crescimento dos divórcios pedido por mulheres que buscam a independência financeira e profissional. Há uma crescente preocupação feminina com o êxito e carreira profissional a interferir em relacionamentos. Essa situação inserida num tempo em que a independência financeira e autonomia feminina são estimuladas em diversas partes do planeta, cria tensões nas sociedades mais conservadoras. Por detrás da violência há também uma leitura anacrônica de morais religiosas que submetem as mulheres a rígido controle de costumes, regras que nasceram em outro momento histórico e de uma interpretação machista da vontade de Deus. Enfim, são muitos os motivos para a violência, inclusive a pequena importância que as polícias atribuem às denúncias e queixas das mulheres contra ex parceiros.

Sem deixar de considerar a correção dessas explicações, devemos ir mais fundo recordando que a criatura humana, o que não exclui as mulheres, é instintivamente agressiva. Os maiores estragos são de responsabilidade masculina, pois o homem é, geralmente, fisicamente mais forte que a mulher. No entanto, o controle da agressividade é um dos desafios de nosso tempo, quando diversas sociedades assistem ao crescimento da violência também contra idosos e crianças, contra o pobre, as minorias e o estrangeiro. Enfim, a violência vem crescendo em função de dificuldades variadas que inclui o aumento das guerras regionais, da perseguição ao diferente e da procura de melhoria de vida pelas populações mais pobres.

Isso significa que o aumento da violência contra mulher é parte de um quadro geral do aumento da violência pelo mundo, pelo atual crescimento de um tipo de pensamento que se auto intitula conservador, com pautas radicais que apontam para a derrota da vida civilizada, da racionalidade iluminista e dos propósitos de paz e progresso visíveis na belle époque. A desconsideração da razão e dos esforços por pautar a vida nos seus limites, tem aberto as portas para todo tipo de violência, inclusive a praticada contra a mulher, as crianças e velhos. E, nesse mundo, quando mais se considera normal a violação das normas e leis em geral, maior a violência contra os mais fracos. Pois quem não tem limites no controle dos instintos é uma ameaça para a sociedade. E a despreocupação com a violência cresce na mesma proporção que se reduziu: o ensino das humanidades, da educação não tecnológica, do respeito às normas de uma moralidade ética.

Enfim, a violência contra a mulher é parte de um tempo que assiste ao crescimento das outras formas de brutalidade, todas alimentadas pela intolerância de um conservadorismo que atinge os fracos do mundo, o pobre, o estrangeiro, o diferente, as minorias, etc. Violência que precisa ser combatida como forma de reestabelecer uma sociedade mais fraterna e comprometida com as boas causas.

 

9 comentários:

  1. Um assunto bem complexo, a violência trás dor e sofrimento.

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    1. Hoje tanto homens como mulheres estão sofrendo violências, de várias formas.
      O homem acaba não denunciando a violência que sofre.

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  2. As causas são muitas, quando a violência explode são as mágoas, o medo e o sofrimento.
    No casal falta diálogo, respeito e muitas vezes honestidade em relação aos sentimentos.

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  3. É um assunto muito interessante e discutível.

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    1. Complicado, quem cria meninos?
      São mulheres.

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  4. A questão cultural ainda é muito forte, o homem é que manda.

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  5. Nos tempos atuais caminhamos para mudanças nos relacionamentos, homens e mulheres caminham lado a lado, ficam juntos porque querem construir família.

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  6. A violência sempre existiu, nos dias de hoje está visível.
    Dispomos de estatísticas, pesquisas, delegacia para atender às mulheres, as redes sociais fazem parte deste aparato de condições com uma infinidade de recursos para classificar as diversas formas de violência.

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    1. Sempre escutei histórias de violência, ficavam escondidas, eram os segredos de famílias.
      Hoje sabemos das tristes histórias, não contadas, que destruíram emocionalmente muitas pessoas.

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