A modernidade consagrou a nova ciência e a técnica
como grandes feitos. Essa nova ciência se tornaria crescentemente importante,
fornecendo ao homem tanto a sensação de maior controle da vida, como as bases
de um novo humanismo, pautado na experiência sensorial e conhecimento racional.
Deus passou a ser concebido como grande matemático universal ou um programador
que fazia o universo funcionar como um grande relógio. Em outras palavras vemos
emergir, especialmente entre os empiristas (iluministas britânicos) e entre os
enciclopedistas (iluministas franceses) um humanismo laico. Assim, entre os
séculos XVI e XVIII, durante quase três séculos ganhou força o racionalismo,
especialmente a razão experimental. Isso quer dizer que embora a fé religiosa
continuasse importante, as categorias para se referir a ela caíram em desuso e
essa crença perdeu relevância na compreensão do mundo. Foi o que levou Martin
Buber a referir-se à modernidade como o tempo do eclipse de Deus.
O ponto de chegada da modernidade foi Immanuel Kant,
que apontou o caminho da superação dos impasses do cartesianismo, aproximando a
razão experimental dos movimentos internos da razão. A Crítica da Razão Pura foi a obra magistral onde ele apresentou uma
forma de conhecimento denominado sintético
a priori, no item VII da introdução da Crítica
da Razão Pura (São Paulo: Nova
Cultural, 1987, p. 36). Esse conhecimento reunia os dados da experiência com
uma nova maneira de compreender a razão. Dessa forma, o mundo não era
simplesmente transposto de dentro para fora da consciência, nem amarrado a ela
por uma mágica divina, mas resultado da atividade da consciência. Essa solução
epistemológica de Kant valorizou a vontade e propôs uma nova forma de
metafísica, comparada à revolução copernicana no prefácio da segunda edição da
obra (id., p. 14). O resultado foi igualmente a abertura de uma nova senda para
o humanismo, concebida sobre a vontade e esse pensamento meta-empírico
utilizado para explicar a arte e as criações humanas. E assim, ao explicar as
razões para a validade das ciências, ao propor a autonomia da vontade e ao
estabelecer uma nova visão da história, Kant plantou as bases de uma nova forma
de pensar.
Kant é considerado o mais brilhante pensador da
modernidade por solucionar os impasses do subjetivismo cartesiano (resolver o
debate entre racionalistas e empiristas), defender de forma inquestionável a
atividade criadora da razão individual (iluminismo), e ainda deixar aberta a
investigação sobre valores e história, natureza e beleza. O tripé presente em
sua obra: a capacidade criadora da razão, a valorização da vontade como
responsável pelas ações humanas e o historicismo, é a base do romantismo. O
movimento teve vertentes literária, estética e filosófica. Dessa forma, os
princípios teóricos do romantismo embasam uma nova visão de história,
literatura, arte e filosofia. E, da mesma forma que o iluminismo teve
características próprias no seu desenvolvimento na França, Portugal, Alemanha,
Inglaterra, etc., o romantismo filosófico teve diferenças nas formulações
tradicionalistas e mais próximas do catolicismo na França, Itália, Portugal e
Espanha e no conhecido idealismo alemão. Em todas essas concepções românticas encontramos
a mesma valorização da religiosidade e de seus mistérios, da força
incontrolável da natureza, da história e do papel importante do passado como tecido
da vida. O movimento alimentou o compromisso humano com uma dimensão profunda e
desconhecida do homem, combateu a vida medíocre, e alimentou os sentimentos presentes
nos grandes feitos românticos e na apreciação estética. Por isso o romântico,
homem apaixonado, é capaz de grandes sacrifícios por tudo aquilo que o
apaixona.
A reunião desses temas forjou um dos mais
importantes movimentos filosóficos da tradição filosófica: o idealismo alemão.
Entre seus principais representantes os herdeiros diretos de Kant: Fichte,
Schelling e Hegel. Esses autores preservam do kantismo o valor da razão, da
história, da vontade, mas reorganizam a meditação de modo a eliminar aquele
dualismo que Kant deixara entre o fenômeno (id., p. 33): “o objeto
indeterminado de uma intuição empírica”, e a coisa-em-si ou nõumeno (aquele
restante incognoscível que a metafísica antiga e medieval tentou apreender).
Afinal, se o mundo era o que a consciência pensava ser, então a razão se
identificava com a realidade, o que é real é o racional. Se não era apreendido
pela razão individual, o era por aquela forma presente em toda a humanidade,
uma razão absoluta, diria Hegel. E aqui novamente a herança de Kant, se o
filósofo das Críticas concebeu um
sujeito transcendental, como sendo a forma comum de pensar de todos os homens, o
produto dessa subjetividade era uma razão universal completa e histórica,
alimentada de forma poderosa pela vontade. Está aí a base do idealismo alemão. Seu
resultado foi o entendimento de que aquilo que se chama realidade é o resultado
do pensamento e, de certa forma, cria a realidade na medida em que tudo o que
existe é produto da atuação da razão. Dessa forma, como sintetizaria Hegel, o
principal representante desse idealismo, o mundo é racional. Racional porque a
razão cria o mundo (o concebe como fruto da razão histórica), compreende a
natureza (com a ciência) e impõe lhe impõe valores.
O movimento realça a vida concreta contra a
compreensão de homem abstrata do iluminismo e olha para a realidade mesma do
homem na história, que fornece os elementos para compreensão de cada época. O
romantismo também destaca as produções espirituais da humanidade organizadas em
diferentes grupos nacionais, encontrando no folclore e histórias populares uma
espécie de alma dos povos, elementos estruturais de sua alma. É no romantismo
que surge a ideia de uma filosofia da história, trabalhada inicialmente por
Johann Herder, um ex-aluno de Kant e vizinho de Goethe. Esse último é o maior
expoente do humanismo estético. O poeta e filósofo Friedrich Schiller é quem
melhor sintetiza arte, literatura e filosofia partindo da ideia de intuição
estética da obra de Kant e concebendo o homem como a união de liberdade e
determinismo, razão e instinto, individual e universal, com conceitos que se
sintetizam na dialética hegeliana de síntese dos opostos. Nesse processo os
instintos devem ser elevados e educados e não condenados como fez Kant na Fundamentação da Metafísica dos costumes.
Deus o grande programador,dono da vida.
ResponderExcluirTodas as verdades levam ao Criador.
ExcluirAí estão os resultados do eclipse de DEUS.
ResponderExcluirMuito interessante.
ResponderExcluirUm grande estudo para nossa aprendizagem.
Ótima aula, é muito bom sempre apreender, valeu.
ResponderExcluirEstá tão completa esta explanação, agradeço pela boa vontade de ensinar.
ResponderExcluirNossa homenagem aos professores deste blog, sempre nos ajudando a crescer em conhecimento.
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