A contagem do tempo em anos é a forma
humana de melhor identificar o que passou e colocar os fatos na ordem em que
ocorreram. É mais simples localizar e ordenar os acontecimentos dessa maneira, situando-os
nos séculos e lugares do mundo. Contudo, a celebração de cada novo ano no
calendário solar mostra que vivemos no tempo com os olhos e a esperança no
futuro. Já houve época em que a esperança era alimentada por ilusões. Hoje
estamos mais maduros, não podemos nos iludir de que esperança se separe do
compromisso de fazer boas escolhas e realizar com qualidade nossos trabalhos.
Quando avaliamos que a vida é produto das escolhas, temos que assumir com
responsabilidade a criação do futuro. O que vem não é mera continuidade ou
repetição do passado.
Se a vida é um que fazer contínuo, isto é,
proceder escolhas todo tempo em meio à insegurança desse processo, então viver
é olhar o horizonte. Olhar o futuro a partir de qual ponto? Do presente pessoal
e do da sociedade. Escolhe-se, especialmente, pelo que se projeta além desse
presente, pelo que dá sentido a ele, pelo que lhe enche de esperança.
Entretanto, se o futuro não é continuação do já vivido, não se pode sonhá-lo
sem considerar nossa história, sem o impacto e a incorporação do passado.
O ano novo virá para nós com novas realizações,
novas pessoas, novas tecnologias, novos conhecimentos, novas criações, novas
crenças, enfim, muitas coisas novas. Mas esse mundo antevisto nos sonhos de
esperança não é produto do acaso, ele é criação do homem iluminado por um
projeto. E que mundo é esse a surgir na esperança de hoje? É um mundo capaz de
vencer a violência das cidades, de assegurar dignidade a crescente número de
pessoas, de superar guerras e revoluções como solução para as diferenças
políticas. Violência que cresce quando queremos uma vida mais rápida do que ela
pode ser experimentada, quando aspiramos mais coisas do que somos capazes de
adquirir e o mundo de fornecer, quando perdemos o afeto nas relações e o
sentido da dignidade no trato com as pessoas. O presente vivido na pressa, dirigida
para o consumo ansioso e sem obrigação da excelência numa vida autenticamente
nossa, é tempo de violência, de corrupção, de drogas, de insatisfação e de gozo
irresponsável.
Não quero apenas desejar um feliz ano
novo, é necessário pedir que todos o construam mais próximo de nossa esperança,
realizando responsavelmente seu trabalho, vivendo relações pessoais mais
iluminadas pela amizade e benevolência, descobrindo o significado particular e
o sentido da própria vida.
E se reconheço que a vida que me anima é
semelhante, mas não igual a dos animais que diariamente estão à minha volta, se
essa diferença dos outros seres vivos nasce da fé e esperança em Deus, não
importa o nome de Deus ou a forma como Ele seja cultuado, então a obrigação de
renovar o mundo, aquele compromisso mencionado no parágrafo anterior, ganha uma
outra justificativa. Nessa fé nasce um pacto não só com a humanidade presente
em cada homem, mas com Deus que espera nossa colaboração para fazer o sol
nascer, todos os dias, sobre um mundo melhor. Então toda história da humanidade,
que não está além dos fenômenos experimentados, torna-se transfigurada e
iluminada pela esperança capaz de vencer a insegurança, a ruína, a angústia e a
morte.
Façamos um 2014 feliz, pois não se
justifica a esperança que não nasce do reconhecimento da dignidade humana e da
responsabilidade pessoal pela construção de um futuro melhor. Pois esperança
não é otimismo ou ingenuidade, esperança é responsabilidade, é esforço
consciente para mudar o futuro, dedicação ao que nos distingue dos outros
entes.