1. Modelos
de Teodiceias
O pensamento religioso de Max Weber tem como pano de
fundo as Três Formas da Teodiceia. As
teodiceias são grandes construções teóricas que tentam encaixar toda realidade
existente dando-lhe coerência e sentido. São como as teorias, no entanto sob o
ponto de vista religioso. Para Weber existem três grandes modelos de
teodiceias:
1º O Dualismo. É uma das formas mais difundidas e existe
em diversas religiões. O zoroastrismo talvez fosse o modelo mais perfeito desta
forma de teodiceia. O conteúdo religioso contempla a dualidade entre o bem e o
mal religioso. Nesse sentido há o puro e o impuro. O deus do bem e o do mal, o
virtuoso e o pecador. O problema é que esta crença ou teodiceia envolve uma
contradição. Há um deus que possui seus poderes limitados por um rival. A ideia
de salvação, através de um Salvador, como na teodiceia cristã, avançou esta
concepção para a vitória do bem. Para os bons ficaria reservado o céu e para os
maus o inferno. O responsável pelo inferno é uma criatura subordinada ao Deus
do céu. O Deus do céu, superior, castiga o deus do inferno com todos os seus,
condenando-os ao sofrimento infinito e eterno.
2º Predestinação. Nessa teodiceia se acredita que o homem
é incapaz de conhecer qualquer desígnio de Deus. E por isso nada de bom pode fazer,
cabendo a Deus a liberdade de escolher quem quer para a salvação. O condenado é
um réprobo que merece este castigo e nada pode reclamar.
3º Salvação universal. Esta crença se poderia encontrar
na religiosidade dos intelectuais indianos. A autorrealização do homem está
garantida na salvação universal.
2. A
Ética das Religiões Mundiais
Weber propõe, como hipótese, que a confissão religiosa
cria uma ética e esta influi tanto na atividade como no desempenho econômico.
Ele a denomina genericamente de “ética econômica”. Pensa que o que anda nas
consciências tem eco na economia. Há, por isso, conforme ele, um imbricamento
entre religião, ética e economia. Isto não significa que uma economia seja
exclusivamente determinada pela religião. Não significa, igualmente, que uma
determinada ética produzirá sempre a mesma atividade econômica e nem mesmo que
uma determinada atividade econômica só pode adaptar-se a uma determinada ética.
Em cada sociedade, com uma determinada religião há
camadas sociais. Entre estas camadas sociais há uma que se sobressaia e
influencia a religião mais que as outras e, consequentemente, tem mais peso
ético e em decorrência também é preponderante na economia. As grandes religiões
mundiais também tinham uma determinada camada que era mais significativa que as
outras.
1º confucionismo e
taoismo era a ética dos prebendários, cuja educação literária provocava o
racionalismo secular. Quem não pertencia a esta camada culta não tinha
influência. A ética desta camada determinou o modo de vida dos chineses para
sua própria camada e das demais. Esta camada distribuía o poder dentro da
sociedade. Determinava o papel do imperador e das províncias. As funções dos
mandarins (burocratas). O universo era visto como uma ordem eterna – Tao.
Desenvolveu através de Lao-tsé uma mística que evoluiu para a magia e como
consequência impediu o surgimento de práticas racionais.
2º hinduísmo e budismo. Era praticado por casta
hereditária de letrados, que, embora não tivessem cargos, atuavam como
conselheiros ritualistas e espirituais para indivíduos ou comunidades. Era uma
sociedade de castas, as quais formavam uma ordem hierárquica, cujo topo era
ocupado pelos brâmanes. Depois vinham os guerreiros, comerciantes, agricultores
e por fim os trabalhadores. O intercâmbio entre as castas era proibido.
Acreditavam na reencarnação e como todas as religiões orientais eram místicas.
Os brâmanes constituíam um centro em torno do qual gravitava toda a organização
social. Os brâmanes, educados nos Veda, era o estamento plenamente aceito. Mais
tarde surge outro estamento, não brâmane, que passou a competir com eles. O
budismo era constituído por monges contemplativos, mendicantes e errantes. Eram
considerados membros integrais das comunidades religiosas. Os demais eram
considerados inferiores, objetos e não sujeitos de religiosidade.
3º O islamismo. Inicialmente uma religião de guerreiros
cujo objetivo era conquistar o mundo. Eram como os cruzados cristãos, mas sem o
seu ascetismo sexual. Em torno do século VII d.C, surgiu o misticismo
maometano, cujo resultado foi um simbolismo complexo.
4º judaísmo. Após o exílio, os hebreus perambularam como
um povo pária, isto é, o único vínculo era o Deus comum, Javé. Com a elaboração
de uma lei sacerdotal, levada adiante pelos levitas, juntamente com a pregação
dos profetas, abriu espaço para um caráter prático e ético, expurgando as
crenças de magias que grassavam no meio do povo. Durante a Idade Média
conseguiu que uma camada de intelectuais que imantava os diversos grupos
esparsos pelo mundo. Esta camada representou a intelectualidade
pequeno-burguesa, racionalista, mas quase proletária.
4º O cristianismo. O cristianismo - pensa Weber- iniciou como uma doutrina de artesãos, jornaleiros itinerantes. Permaneceu sempre como uma religião urbana e cívica.
Em todos os períodos manteve este caráter: antiguidade, Idade Média e Época
moderna. A cidade do ocidente, diferente de todas do mundo da
época, com um corpo de cidadãos, foi o palco do cristianismo. A ética pregada era privação, do ascetismo. A verdadeira vida vinha após a morte.
É muito interessante. Boa informação, imagine a verdadeira vida após a morte.
ResponderExcluirExcelente lembrança do amigo Selvino Malfatti acerca destes textos de Weber, tão atuais para melhor compreendermos a complexidade deste mundo globalizado, em que as religiões, na sua versão globalizada, fazem parte da trama.
ResponderExcluirObrigado, meu mestre. Seu comentário valoriza o artigo.
ExcluirInteressante, mas acho que se aproximam muito dos partidos políticos.
ResponderExcluirGostei muito. parabéns.
ResponderExcluirDualismo perdurou na Igreja Católica?
ResponderExcluirEra Deus do bem e diabo.
Concordo um pouco. Mas a vida é aqui e agora.
ResponderExcluirQuem procurar outro entendimento, deixa a vida passar.
Interessante. Boa leitura.
ResponderExcluirO Deus do céu, superior, castiga o deus do inferno com todos os seus, condenando-os ao sofrimento infinito e eterno. (Muito legal, esses deuses)
ResponderExcluirAs religiões e ética, interessante nem sabia que existia uma história.
ResponderExcluirVê só, sempre a economia ditando as regras, até nas religiões.
ResponderExcluirCaro comentarista. O pensamento de Weber é o inverso: a ética ditando a economia. Leia Economia e Sociedade ou O Espírito do Capitalismo.
ExcluirO QUE SE QUER EXPLICAR É QUE UMA RELIGIÃO ENGENDRA UMA ÉTICA A QUAL PODE INFLUIR EM COMPORTAMENTOS CULTURAIS, POLÍTICOS E ECONÔMICOS.
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