A escritora e pensadora Anna Meldolesi, italiana, publica
o livro: Il Millenario senso Del Pudore
(O Milenar Senso de Pudor), no qual discute os conceitos de tabu, censura e
contradições da nudez, fazendo um balanço entre convenções e hipocrisias
humanas.
O livro mereceu um comentário de Pierluigi Battista no
Jornal Corriere. Conforme Battista a escritora entende que quando o ser humano
estava coberto por uma pele natural, mais ou menos há três milhões de anos, um
milênio a mais ou a amenos, não faz diferença. Neste período a humanidade não
tinha qualquer preocupação com o senso de pudor e, portanto, estava isenta
desta tortura causada pela nudez.
Afirma que o pudor é ambíguo, dispersivo e mesmo
intimidante. Vejamos: as mulheres vão à praia de biquíni, mas jamais sairiam de
casa de roupas íntimas em que pese partes visíveis sejam as mesmas. Com os
homens acontece o mesmo. Na praia também usam sungas ínfimas, mas jamais
sairiam de casa de cuecas. O livro de Meldolesi analisa precisamente esta
dicotomia: como é permitida uma forma de vestir-se num determinado ambiente e
em outro a mesma forma é considerado ataque ao pudor? Milhares e milhares de anos
se passaram, nos quais a nudez não foi objeto de críticas. Mas ultimamente,
desde Eva Herzigova, como uma reencarnação de nossa primeira progenitora
juntamente com seu companheiro Adão, a nudez ficou escondida atrás de uma folha
de parreira.
O intrigante em Meldolesi é de saltar o arco temporal de
milhões de anos para o decênio. Esta mudança ocorreu de repente. Poucos anos
faz que o topless era considerado o máximo da afronta e impudência.
Como surgiu o senso de pudor? A escritora explica com
argumentos biológicos. Quando as mulheres começaram a preferir homens menos
peludos para procriar àqueles cobertos de pelos nasceu também uma cultura de
ocultar seu próprio corpo. A partir deste momento nasceu o costume de se
fabricarem roupas e sentir vergonha quando fosse desnudado.
O senso de nudez causou nos seres humanos muitas coisas
boas, mas também ruins. Entre as primeiras se podem citar a moda, a arte, os
tecidos e uma elaboração cultural. Mas criou também coisas ruins como neuroses,
angústias e frustrações. Modificou os critérios de beleza e alimentou tabus.
Despertou construções de teorias filosóficas, mas fez nascer sistemas
repressivos e libertários. A nudez criou a censura. Fez surgir comportamentos
narcisistas e, amparada na tecnologia, exasperou o exibicionismo.
A autora Meldolesi enfatiza a velocidade com que o senso
de pudor está se modificando não só entre decênios, mas de quinquênio e de ano
para ano. Qualquer parte do corpo, de mulher e de homem, pode ser motivo de
propaganda comercial ou erótica. O corpo, despojado do pudor, se tornou objeto
de exploração em qualquer dimensão da atividade humana. A mudança de senso de
pudor modificou a língua, o léxico e riqueza mesma do vocabulário. Em alguns
idiomas mais, outros menos. Até mesmo palavras novas surgem como no inglês que
distingue “naked” significando nudez natural, inocente, pura. “Nude” é
encontrada na arte, na artificialidade, na estilização. “Bare”, por sua vez, quer dizer
qualquer coisa descoberta. A transformação do conceito de nudez ocasionou uma
mudança cultural vertiginosa que não necessita mais de milhões de anos, mas no
máximo de décadas.
Em que pesem os méritos da escritora, comentados por Battista no jornal Corriere, teceria algumas observações a título de colaboração.
A antropologia não apresenta fatos de mulheres (fêmeas) escolherem seus parceiros (machos). O que se conhece é que os machos dominavam as fêmeas e com elas se acasalavam.
Também não há indícios de que estes primitivos se acasalavam para procriar. O objetivo era satisfazer o instinto sexual e disso decorria a procriação. Entre os primitivos habitantes da América não havia homens peludos, no entanto, cobriam "suas vergonhas" e o senso de pudor inexistia ou era muito tênue.
Em que pesem os méritos da escritora, comentados por Battista no jornal Corriere, teceria algumas observações a título de colaboração.
A antropologia não apresenta fatos de mulheres (fêmeas) escolherem seus parceiros (machos). O que se conhece é que os machos dominavam as fêmeas e com elas se acasalavam.
Também não há indícios de que estes primitivos se acasalavam para procriar. O objetivo era satisfazer o instinto sexual e disso decorria a procriação. Entre os primitivos habitantes da América não havia homens peludos, no entanto, cobriam "suas vergonhas" e o senso de pudor inexistia ou era muito tênue.
Penso que a explicação puramente biológica do pudor de
Meldolesi, comentada por Battista, é incompleta e limitada. Não significa que não tenha acontecido. No
entanto, parece-me que a inserção de um conteúdo cultural o tornaria mais completo. Por exemplo, de um
modo geral em sociedades onde a religião se impôs sobre todos os membros e
condenava a nudez havia o senso de pudor. Assim aconteceu com o judaísmo,
islamismo e cristianismo, entre outras. Onde a religião se absteve de levar em
conta a nudez, como nas mitologias e politeísmo antigos, ou fetichismo dos
primitivos habitantes da América o senso de pudor foi secundário e em
consequência a nudez deixava de ser problema.
Logo, é preciso levar em conta outras condicionantes que não sejam somente as biológicas.
Logo, é preciso levar em conta outras condicionantes que não sejam somente as biológicas.
Muito interessante, nunca tinha pensado assim.
ResponderExcluirConcordo tudo a ver com a religião, como cobrir as vergonhas.
ResponderExcluirAcho que a escritora não terminou o assunto.
ResponderExcluirAfinal devem se milhares de explicações para analisar.
Acho que mais pela submissão as meninas desde pequenas aprendiam a cobrirem o corpo.
ResponderExcluirParece que a escritora trás assunto um pouco fora de tempo. Logo estaremos mostrando as vergonhas.
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