Quando o ISIS (Islamic State of Iraq and ash-Sham)
iniciou suas atividades em 2003, o novo milênio estava nascendo em meio a sonhos
de paz, deixando para traz um século com duas Guerras Mundiais e o genocídio de
seis milhões de judeus. E desde então as bombas do ISIS explodindo nas cidades
ocidentais, os assassinatos e sequestros de pessoas de outra fé, as decapitações
de ocidentais, tornaram o grupo temido e o século XXI um novo tempo de brutalidade.
Não há novidade na brutalidade, o homem sempre foi um animal perigoso. O ISIS
tem contribuído, com louvor, para manter viva a consciência dessa brutalidade,
demonstrando com o uso da violência extrema e da irracionalidade completa a
face mais perversa de nossa animalidade. E a disposição cega para a guerra e o
sacrifício demonstrada por seus membros tem na raiz a interpretação radical da
lei religiosa islâmica e o desconhecimento da noção de pessoa humana. E não
parece que as ações do grupo consigam mais do que promover o medo e o pavor da
maioria do povo da região. Diante dos atos criminosos dessa minoria fanática, as
pessoas da região fogem apavoradas do regime de terror, lançando-se ao mar bravio
em embarcações sem segurança. Preferem a morte no mar, os desafios de uma vida de
miséria na Europa, colocam em risco a segurança de mulheres e filhos para não ter
de suportar a tirania de uma vida na escravidão. É esse Deus e essa fé que
oferecem aos homens e mulheres da região. É essa a vida que consideram seja
boa.
Sem reconhecer
a dignidade da pessoa humana, eles tratam os homens como fieis e infiéis,
ficando o segundo grupo subtraído de qualquer respeito humano. Aliás, a forma
como aplicam a lei religiosa aos fieis também não revela respeito. Ao lado de
interesses políticos anacrônicos
(implantar um califado), esses homens veiculam a imagem de um Deus rigoroso e
perverso, que submete os fieis ao mais restrito controle, ministra punições
severas ante o descumprimento das regras religiosas.
Além de não demonstrarem qualquer interesse por estudos
teológicos que acenam para um Deus misericordioso, o diferencial do grupo é o
completo desrespeito à condição humana. Essa realidade parece o aspecto mais
importante que vivem, o completo desrespeito à dignidade humana que foi reconhecida
nos direitos humanos e ainda antes na consciência ética do ocidente. Ações como
as conduzidas pelo ISIS demonstram que eles estão fora do consenso que levou à
criação dos direitos humanos, mas especialmente que desconhecem o caminho
percorrido pela filosofia ocidental nos últimos quinhentos anos. E reforçam a
consciência do que a ignorância e ausência de reflexão filosófica podem
provocar. Sem Filosofia não se reconhece o valor do esforço para a perfeição,
não se entende o sentido da liberdade com responsabilidade e que não se toca no
essencial: a humanidade do outro pede para tratá-lo com o mesmo respeito com
que desejaríamos ser tratados. A situação é ainda mais grave para quem diz ter uma
fé que nos identifica como criaturas do mesmo Deus, qualquer que seja o nome
pelo qual o cultuemos.
A brutalidade e a ignorância são contrárias à
condição humana, humanidade significa dignidade ou valor. A realidade humana veiculada
pelo cristianismo e difundida entre os povos europeus na Idade Média acabaram
reconhecidos pela consciência humana como conquistas importantes. Pensadores
como Kant e a maioria dos filósofos ocidentais reconheceram o caráter racional
da moralidade cristã e do valor da pessoa.
O desconhecimento dessa tradição provoca um grande
mal ao convívio humano no momento em que a humanidade caminha para construir
relações globais na economia, desenvolve modos parecidos de vida e estabelece
novos padrões de convivência. Nesse novo milênio nada parece mais valioso do
que ensinar que a raiz da moralidade é o valor da pessoa humana. Só as bombas
não acabarão com o ISIS é necessário mostrar porque eles merecem ser
combatidos. Estamos diante de desafio de popularizar a Filosofia e a
racionalidade já que temos lições diárias de para onde leva a ignorância e a
irreflexão.
E estamos no seculo vinte um, será que podemos nos achar humanos?
ResponderExcluirSempre o desconhecimento e a ignorância faz do convívio humano uma guerra constante, ainda não aprendemos que nascemos para apreender a ser feliz.
ResponderExcluirÉ o conceito de felicidade é relativo, pessoas deixam de serem felizes, porque acostumaram e vivem o sofrimento.
ExcluirParabéns muito bem explicado tudo que muitas vezes ignoramos.
ResponderExcluirO homem sempre foi um animal perigoso, concordo, sinto não saber mas podemos modifica-lo, talvez adestra-los.
ResponderExcluirSabe que estão adestrando os humanos ao cria-los para virarem bombas. Muito triste.
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