A República respousa sobre a virtude - Montesquieu
O
assalto contra a Petrobras que ocupa diariamente nossos noticiários, envolvendo
empresários inescrupulosos, burocratas oportunistas, políticos sem espírito
público e partidos convertidos em máquinas de roubar a coisa pública, é um
triste capítulo da história da República. Não é o único e provavelmente não
será o último. De um lado, há a própria condição humana afeita a benefícios sem
esforço, num clima que ganhou força nas últimas décadas. Vivemos um tempo que
Ortega y Gasset denominava tempo das massas, isto é, um tempo de direitos sem
deveres. E a essa realidade soma-se uma tradição patrimonialista que não
diferencia bens públicos de particulares, de modo que o cidadão se apropria
para o próprio uso de coisas públicas sem pudor. Tanto a noção de massa quanto
o patrimonialismo não possuem base moral sólida, capaz de assegurar o respeito
à coisa pública e a democracia liberal.
No
entanto, há fatores circunstanciais que agravaram essa base moral frágil na
qual nos assentamos. A estrutura partidária, com dezenas de agrupamentos de
aluguel que foram constituídos com a única finalidade de favorecer seus
criadores, é um exemplo. Sem mexer nela, com governos formados pela coligação
de muitos partidos, agremiações sem qualquer afinidade programática, sem
sólidos programas, sem fidelidade partidária, teremos um governo que leiloa
cargos e oferece benefícios em troca do apoio parlamentar. Chegamos ao absurdo
de termos dois representantes dos dois maiores partidos do governo disputando a
Presidência da Câmara e falando em autonomia do Congresso. De que autonomia
falavam? Se é a independência do Poder Legislativo isso é matéria
constitucional sobre a qual não há dúvida. Se
independência é do governo e do seu programa de atuação, como parece
ser, isto é completo absurdo, pois os partidos eleitos o foram para cumprir o
programa partidário. Os deputados de um partido são solidários aos colegas da
administração, pois formam um mesmo grupo ideológico. Um sistema parlamentar
talvez corrigisse tais absurdos.
Outro
fator que contribuiu para o botim contra a Petrobras é o mal funcionamento do
Estado. Quando o Estado funciona mal, suas instituições ficam fragilizadas: as
forças militares não protegem as fronteiras, a polícia não prende os bandidos,
o judiciário não julga, as leis não são respeitadas, cria-se um clima de
insegurança jurídica e sensação de impunidade que favorece toda a sorte de mal
feitos. De bandidos armados a bandidos do colarinho branco, todos apostam na
fragilidade do Estado. Como entender a ação de bandos que assaltam bancos com
fuzis automáticos e dinamites, numa triste rotina que afronta os órgãos de
segurança e de inteligência do Estado? Os bandidos do colarinho branco, por sua
vez, assaltam como podem, na mesma volúpia do enriquecimento rápido e sem
trabalho.
Há
ainda a fragilidade da educação, com uma escola mal cuidada e professores
desprestigiados. Sem um sério programa cultural, que inclua uma boa escola, sem
a educação cidadã, que ensina a respeitar a coisa pública para viabilizar a
vida social não vamos corrigir o mal feito e a desesperança.
Finalmente,
a falta de ensinamento moral nas escolas e famílias, formação moral muitas
vezes associadas às religiões, também contribui para esse estado de coisas.
Nossa cultura ocidental está estruturada sobre a moral cristã, mas perdemos
essa dimensão. Mesmo nas Repúblicas laicas, o respeito ao cidadão, sua
liberdade e dignidade estão respaldas na noção cristã de pessoa, criatura
livre, digna e responsável. Quando o outro não é respeitado e o cidadão não age
de forma responsável, a vida social torna-se inviável nas democracias liberais.
Para
que não se tenha a sensação de que vivemos num país sem solução há de se
lembrar que essas dificuldades podem ser superadas pela decidida ação da
sociedade. E me lembro de um Prefeito que pagava pequenas contas da Prefeitura
com seus próprios recursos e viajava para a capital com o lanche no bolso para
não receber diárias. Nem tudo está decididamente perdido. Não vivemos num país
sem futuro ou esperança, mas a esperança e o futuro precisam ser construídos
com o esforço responsável da sociedade.
Ai está tudo que precisamos que seja ouvido, por favor precisamos de exemplos para construir uma sociedade ética.
ResponderExcluirPrecisamos de esperança,de acreditar,mas principalmente entender que mudanças partem de cada cidadão,vamos as ruas mostrar que não estamos contentes com esta politicagem.
ResponderExcluirFalta de ensinamento moral, respeito a propriedade,familias que assumam e eduquem seus filhos...Estamos com faltas e faltas, não assumimos a responsabilidade de educar.
ResponderExcluirPrecisamos de um estado enxuto,as responsabilidades devem ser assumidas por pais, quando são pais se não o fazem devem ser responsabilizados. Até o PAPA diz para não se reproduzirem como coelhos.
ResponderExcluirUm belo artigo. Só elogios.
ResponderExcluirCaro prof. José Maurício,
ResponderExcluircaso tenha lido a coluna Auditoria Interna do Jornal Cultural Conhece-te a Ti Mesmo, terá visto que não houve uma coluna sua onde eu não tenha apontado alguma bobagem. E aqui não foi diferente.
O segundo parágrafo começa bem (bem mal) ao ligar o Petrolão à existência de partidos pequenos que, quando muito, elegem meia dúzia de deputados. Algo que poderia ter sido escrito por qualquer lulopetista interessado em exterminar partidos pequenos e, na prática e a médio prazo, a própria oposição. O terceiro parágrafo continua bem (bem mal) em atribuir o Petrolão ao mau funcionamento do Estado quando, pra começo de conversa, é mais plausível que ambos tenham uma causa comum. Aliás, dois dias antes da publicação desta postagem, já era notícia de que Dilma Rousseff tentou jogar o escândalo nas costas do presidente que entregou o cargo 12 anos antes. E apanhou menos do que devia. O quarto parágrafo continua bem (bem mal) em ligar o Petrolão a "professores desprestigiados". Mesmo que esse desprestígio não fosse merecido por culpa dos próprios professores, essa "escola mal cuidada" estaria educando os filhos ou netos dos envolvidos se eles estudassem em escola pública.
O autor junta fragmentos de verborreia de vagabundo de DCE com algumas porções de erudição e fatos reais tentando achar causas de um escândalo do GOVERNO PT. Esse texto é apenas mais um exemplo da confusão mental e cultural do país.
Atenciosamente,
Walter N. Braz Jr.
https://www.facebook.com/notes/walter-nunes-braz-junior/algu%C3%A9m-ainda-n%C3%A3o-entendeu-o-que-eu-disse/829639843769408