sexta-feira, 19 de julho de 2024

O discurso da extrema direita e os sonhos da classe média. José Mauricio de Carvalho

 



Há muita coisa acontecendo nos últimos tempos, mas de modo geral podemos dizer o que têm em comum os nossos dias é que nada parece seguro. O clima econômico, político, social, axiológico muda de forma tão rápida que deixa as pessoas sem chão. Essa situação é olhada pelos mais brilhantes intelectuais de nossos dias como um tempo de crise. E esses intelectuais são unânimes ao reconhecer a crise de cultura, divergem, contudo, na sua leitura e explicações dela. Alguns dos mais conhecidos estudiosos da crise de nossos dias são Ortega y Gasset com seu estudo das massas, Vilém Flusser e suas análises das consequências deixadas pelos campos de concentração, Max Scheler e suas considerações sobre as transformações dos valores, Karl Jaspers e Viktor Frankl e por seus estudos sobre a falta de sentido da vida em meio a tantas transformações; ou talvez da fata de autenticidade, diria metafisicamente Martin Heidegger; provavelmente também uma crise de como entender e viver a liberdade diria Jean Paul Sartre; do que fazer na história dissera antes Kierkegaard; de um mundo sem referências absolutas, notara Nietzsche; ou que se esqueceu de dialogar com Deus, retificou Martin Buber. Em resumo, um mundo pouco preocupado com questões transcendentes ou referências estáveis.

Bauman enxergou na raiz dessa crise de cultura a existência de profundas alterações no mundo econômico devido às dificuldades de um capitalismo financeiro e globalizado. De um lado, há problemas econômicos o que significa que o dinheiro virou variável independente, o trabalho foi reduzido a mercadoria deixando se ter ênfase na relação intersubjetiva, a desterritorialização do capital, tornou frágil os governos nacionais diminuindo a capacidade de atuar do Estado Nacional.  Por isso, a relação dos cidadãos com o Estado ficou fragilizada, porque Ele não consegue lhes oferecer, com qualidade, aquele mínimo que se tinha como consenso até alguns anos. O Estado social está em agonia e cumpre mal a tarefa de oferecer educação e saúde de qualidade. Por outro lado, aumenta enormemente os gastos com segurança e os resultados são criticáveis.

Além dessas alterações econômicas e sociais, as guerras e disputas locais que explodiram no final da Guerra Fria provocaram e continuam provocando o deslocamento de milhões de pessoas pelo mundo, tornando gravíssimo o fluxo migratório mundial. E diminuindo, em contrapartida, o número de empregos de qualidade. O resultado é o aumento do migrante que chega em quantidade crescente nos países mais desenvolvidos. O empobrecimento da classe média passou a ameaçar a organização social e o fato a ser usado pelos políticos, especialmente de direita, como sendo a causa das dificuldades da sociedade, mesmo quando claramente não o é. A grande migração e o aumento do número de pobres é um sintoma e não a causa que está ocorrendo. No entanto, a classe média empobrecida, vendo os empregos reduzirem, vendo as oportunidades diminuírem, enxerga no migrante e no pobre uma ameaça real. O primeiro concorre com os poucos empregos que existem e o segundo lembra a classe média que ela pode ser pobre.

O discurso de direita que tanto cresce mundo afora quer parecer que seu projeto resgatará a qualidade da vida dessa classe média, que esse nacionalismo lhes protegerá dos migrante e pobres. Nesse sentido, o discurso contra qualquer esforço para melhorar a vida dos mais pobres é taxado de comunista e qualquer tentativa de limitar a ação do capital, mesmo quando ameaça seriamente a natureza, é apresentado como ameaça à liberdade.

Assim vamos seguindo, com a extrema direita desejando repetir seus feitos do último século e levar a humanidade a repetir o século XX.

8 comentários:

  1. E assim vamos recebendo informações, precisamos estar atentos as verdades.

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  2. Estamos vivendo tempos de muitas mudanças, o que foi sempre verdade, hoje se discute, até parece que o errado virou certo.

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  3. Precisamos de propostas que respondam as necessidades do povo, que está carente de alimentos, saúde e cuidados.


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  4. É a direita poderá não responder aos anseios da população, mas com certeza resgatará VALORES, sem precisar colocar uns contra os outros.

    Não sejamos ingênuos, precisamos ir às ruas para enxergar a realidade.

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    1. Se você fala de pobreza e moradores de rua, não tem como negar.
      A realidade de hoje está bem pior que na pandemia.

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    2. Leitura interessante.
      Pensamentos filosóficos.

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  5. E qual seria realmente a causa do empobrecimento da população? Olhar a realidade e intervir.
    Qual o incentivo para o jovem estudar?
    Com certeza mais escolas militares, onde se trabalha o pertencimento, hierarquia, regras e limites.

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  6. Parabéns, concordo com você.
    Aprender a amar a pátria, sentir orgulho de ser brasileiro.
    Saber de regras, limites.
    Ter a doutrinação do BEM.

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