sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

O que você precisa conhecer para estar à altura do seu tempo. José Mauricio de Carvalho

 


Talvez pudéssemos escolher um título mais ao gosto de quem faz sucesso nas redes sociais. Prefiro a elegância. Além da clareza que o mestre Ortega y Gasset conclamava, creio que quem se envolve com a Filosofia deve escrever com distinção, com elegância e tratar com respeito os interlocutores.

Do que queremos tratar neste pequeno texto? De algumas coisas que uma pessoa civilizada não pode deixar de considerar para ser cidadão e viver atualmente. Houve tempos em que o homem acreditou que a terra fosse plana, que o sol fosse Deus, que a terra era fixa no céu ou que o faraó ou um imperador fosse um Deus. São coisas que ficaram para traz, fizeram sentido no passado, mas hoje não são aceitas. Foram superadas pelo desenvolvimento da cultura. Dado ao andar dos tempos fiz uma lista de como algumas questões devem ser tratadas em nossos dias.

1.Quando começou a observar a natureza mais sistematicamente, nos primórdios da civilização, o homem se encantava com tudo o que descobria no mundo e ficava maravilhado com suas descobertas. Esse maravilhamento diante do novo deu origem à Filosofia e até hoje é usado como uma das explicações de sua origem. No entanto, com o passar dos anos o encantamento passou a se referir à capacidade de não se deixar limitar pelo conhecimento fenomênico (observado no funcionamento do mundo). Aquele encantamento original foi perdendo força porque as ciências, especialmente a partir da Idade Moderna, passaram a explicar o funcionamento do mundo e esse deixou de ser um mistério. Os filósofos deixaram à ciência a tarefa de explicar o funcionamento do mundo e cuidaram de mostrar porque ela é confiável. A partir da modernidade não se faz filosofia à parte da ciência, ou contra ela.

2. A Filosofia passou, então, a se dedicar a questões sobre a finalidade do que existe examinando as condições de abertura à transcendência. Ao fundamento do conhecimento porque o mundo não se resolve a si mesmo. O homem conhece o mundo com a ciência, mas depois precisa abrir-se para outras questões mais amplas que demandam uma fundamentação racional e onde a ciência e seus métodos não alcançam.

3. A Filosofia mostra a raiz axiológica da cultura, apresenta os fundamentos da ética e vai aos limites do conhecimento. Sendo imprescindível exige de quem a prática o diálogo generoso, a abertura ao argumento alheio já que a verdade fundamental somente se mostra parcialmente. Não há justificativa para a arrogância, mas no espaço da razão permanece o que parece mais razoável àquela geração e propicia a independência íntima frente à verdade.

4. A abertura ao sagrado, observado em todas as civilizações, deu origem a várias religiões. Não se justifica a imposição de uma a outras ou a briga entre elas. Cada homem pode escolher a sua. Mas nesse caso, a experiência de Deus não justifica ações contrárias à ciência e a razão. Muitos erros terríveis foram cometidos ao longo dos tempos devido ao fanatismo religioso, pois o encontro como Deus não mostra nada antirracional e anticientífico. Porém a experiência de Deus é fugaz. As considerações sobre Ele ilustram os limites do filosofar, não há segurança além da razão, a razão confere segurança à verdade e valoriza o esforço individual.

5. A Filosofia se pratica pela apreensão da realidade, pelas discussões sobre o Ser, sobre o papel luminoso do amor, o significado e limites da razão e a procura da paz. Não se idolatra ninguém, não há mestre que exclua seus pares, mas filosofar é participar de um grande diálogo universal.

6.  A compreensão do presente somente se esclarece quando se recuperam os fatos da história. O conhecimento da história vivifica os dias que vivemos. Nenhuma informação é tão necessária para sabermos o que somos e o desenvolvimento da cultura do que o conhecimento histórico. Por isso, ele não pode ser negligenciado.

7. O homem é objeto de várias ciências, mas mantém uma dimensão a ser examinada pela Filosofia. Ele tem contradições, imperfeições, incompletude e liberdade que escapam a análise exata das ciências. A consciência se mostra na dualidade sujeito-objeto.

8. A liberal democracia no Estado de Direito é o sistema político melhor sucedido na história na condução dos Estados Nacionais modernos, não é perfeito, mas consegue corrigir seus erros. A democracia liberal resiste ao ataque de totalitários e fanáticos.  Reúne a liberdade do indivíduo e o respeito à leis nacionais e estabelece limites do convívio social.



10. A democracia é um regime político, não é para ser usado em todas as dimensões da vida porque em ciência a palavra está com cientistas, em filosofia quem consegue formular as melhores respostas aos grandes problemas existenciais, em religião às suas autoridades legitimamente constituídas pelas instituições. Sociedades doentiamente democráticas se tornam massa amorfa e empobrecida que tiram de cada homem a oportunidade de desenvolver a própria singularidade e viver um sentido próprio na vida.

 

6 comentários:

  1. Viver um sentido próprio da vida, sem sentido é a vida, se procuro sentido encontro um pouco de filosofia.

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  2. Sujeito objeto,só se reconhece quando olha para dentro de si, pensar pode ser cansativo.

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  3. Muito interessante, elegante!

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    Respostas
    1. Perdemos o encantamento das descobertas, do silêncio.

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    2. O antigamente trazia a elegância no conviver de descobrir as alegrias e belezas, devagar, na simplicidade de viver!

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    3. É preciso saber viver, com elegância e respeitando, cada um cuidando de ser parte da sociedade, com equilíbrio.

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