Talvez
pudéssemos escolher um título mais ao gosto de quem faz sucesso nas redes
sociais. Prefiro a elegância. Além da clareza que o mestre Ortega y Gasset
conclamava, creio que quem se envolve com a Filosofia deve escrever com
distinção, com elegância e tratar com respeito os interlocutores.
Do
que queremos tratar neste pequeno texto? De algumas coisas que uma pessoa
civilizada não pode deixar de considerar para ser cidadão e viver atualmente.
Houve tempos em que o homem acreditou que a terra fosse plana, que o sol fosse
Deus, que a terra era fixa no céu ou que o faraó ou um imperador fosse um Deus.
São coisas que ficaram para traz, fizeram sentido no passado, mas hoje não são
aceitas. Foram superadas pelo desenvolvimento da cultura. Dado ao andar dos
tempos fiz uma lista de como algumas questões devem ser tratadas em nossos dias.
1.Quando
começou a observar a natureza mais sistematicamente, nos primórdios da
civilização, o homem se encantava com tudo o que descobria no mundo e ficava
maravilhado com suas descobertas. Esse maravilhamento diante do novo deu origem
à Filosofia e até hoje é usado como uma das explicações de sua origem. No
entanto, com o passar dos anos o encantamento passou a se referir à capacidade
de não se deixar limitar pelo conhecimento fenomênico (observado no
funcionamento do mundo). Aquele encantamento original foi perdendo força porque
as ciências, especialmente a partir da Idade Moderna, passaram a explicar o
funcionamento do mundo e esse deixou de ser um mistério. Os filósofos deixaram
à ciência a tarefa de explicar o funcionamento do mundo e cuidaram de mostrar
porque ela é confiável. A partir da modernidade não se faz filosofia à parte da
ciência, ou contra ela.
2.
A Filosofia passou, então, a se dedicar a questões sobre a finalidade do que
existe examinando as condições de abertura à transcendência. Ao fundamento do
conhecimento porque o mundo não se resolve a si mesmo. O homem conhece o mundo com
a ciência, mas depois precisa abrir-se para outras questões mais amplas que
demandam uma fundamentação racional e onde a ciência e seus métodos não
alcançam.
3.
A Filosofia mostra a raiz axiológica da cultura, apresenta os fundamentos da
ética e vai aos limites do conhecimento. Sendo imprescindível exige de quem a
prática o diálogo generoso, a abertura ao argumento alheio já que a verdade
fundamental somente se mostra parcialmente. Não há justificativa para a
arrogância, mas no espaço da razão permanece o que parece mais razoável àquela
geração e propicia a independência íntima frente à verdade.
4.
A abertura ao sagrado, observado em todas as civilizações, deu origem a várias
religiões. Não se justifica a imposição de uma a outras ou a briga entre elas.
Cada homem pode escolher a sua. Mas nesse caso, a experiência de Deus não
justifica ações contrárias à ciência e a razão. Muitos erros terríveis foram
cometidos ao longo dos tempos devido ao fanatismo religioso, pois o encontro
como Deus não mostra nada antirracional e anticientífico. Porém a experiência
de Deus é fugaz. As considerações sobre Ele ilustram os limites do filosofar,
não há segurança além da razão, a razão confere segurança à verdade e valoriza
o esforço individual.
5.
A Filosofia se pratica pela apreensão da realidade, pelas discussões sobre o
Ser, sobre o papel luminoso do amor, o significado e limites da razão e a
procura da paz. Não se idolatra ninguém, não há mestre que exclua seus pares,
mas filosofar é participar de um grande diálogo universal.
6. A compreensão do presente somente se esclarece
quando se recuperam os fatos da história. O conhecimento da história vivifica
os dias que vivemos. Nenhuma informação é tão necessária para sabermos o que
somos e o desenvolvimento da cultura do que o conhecimento histórico. Por isso,
ele não pode ser negligenciado.
7.
O homem é objeto de várias ciências, mas mantém uma dimensão a ser examinada
pela Filosofia. Ele tem contradições, imperfeições, incompletude e liberdade
que escapam a análise exata das ciências. A consciência se mostra na dualidade
sujeito-objeto.
8. A liberal democracia no Estado de Direito é o sistema político melhor sucedido na história na condução dos Estados Nacionais modernos, não é perfeito, mas consegue corrigir seus erros. A democracia liberal resiste ao ataque de totalitários e fanáticos. Reúne a liberdade do indivíduo e o respeito à leis nacionais e estabelece limites do convívio social.
10.
A democracia é um regime político, não é para ser usado em todas as dimensões
da vida porque em ciência a palavra está com cientistas, em filosofia quem consegue
formular as melhores respostas aos grandes problemas existenciais, em religião
às suas autoridades legitimamente constituídas pelas instituições. Sociedades
doentiamente democráticas se tornam massa amorfa e empobrecida que tiram de
cada homem a oportunidade de desenvolver a própria singularidade e viver um
sentido próprio na vida.
Viver um sentido próprio da vida, sem sentido é a vida, se procuro sentido encontro um pouco de filosofia.
ResponderExcluirSujeito objeto,só se reconhece quando olha para dentro de si, pensar pode ser cansativo.
ResponderExcluirMuito interessante, elegante!
ResponderExcluirPerdemos o encantamento das descobertas, do silêncio.
ExcluirO antigamente trazia a elegância no conviver de descobrir as alegrias e belezas, devagar, na simplicidade de viver!
ExcluirÉ preciso saber viver, com elegância e respeitando, cada um cuidando de ser parte da sociedade, com equilíbrio.
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