sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

2018. José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei



Um novo ano vem aí, logo depois da linda festa de Natal. Linda não só porque as cidades e as casas se iluminam e a decoração das lojas propõe o brilho da festa. Também por isso, porque a beleza encanta, a limpeza agrada e faz olhos reluzirem e sorrisos se abrirem. Sorrisos das crianças de muitas idades que ficam ainda mais encantadores nesses dias onde a fantasia propõe descanso e alegra a vida sem mistificar as dificuldades. Porém, ainda mais linda a festa porque comemora o nascimento de Jesus, não como um fato passado, mas como um plano permanente de aliança entre a terra e os céus que permanece firme, apesar das limitações dos homens. E o menino que Deus envia convida para a elevação espiritual da humanidade. Isso para que o homem possa se tornar melhor a cada dia, na sua relação com os outros e na sua relação com a natureza. E para que isso fosse possível, para nos livrar de ser um bando de malfeitores, assassinos e ladrões, o menino Jesus não fez caso de sua condição divina e quis dividir conosco, dores, angústias, medos, tristezas e a morte. Diz Paulo em sua Carta aos Filipenses desse menino santo (2, 6-8): “Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus. Mas se despojou a si mesmo tomando a condição de Servo, tornando-se semelhante aos homens”.
O que se celebra a cada final de ano não é um tecido de destino que se desenrola sem o esforço do homem. Os contornos da salvação de Jesus dependem de quanto nos esforçamos para criar o Reino de paz que Ele anunciou. Pois, o Pai com sua misericórdia e paciência espera o homem ir se elevando gradualmente. E se não ajudamos muito o Reino demora mais porque uma sociedade de paz, sem tantos ladrões políticos e não políticos, sem tanto assassinato, sem tanto sofrimento depende do quanto nos preparamos para participar dos planos do Pai. Precisamos mais desse Reino do que Deus necessita dele porque somos nós que multiplicamos dores desnecessárias, injustiças evitáveis, contradições insuportáveis e sofrimentos contornáveis. O Reino é uma festa que depende de nós.
A descoberta da filosofia moderna de que somos temporais, ou de que o tempo é o tecido de nossas vidas, foi uma revolucionária intuição. Ela mostra que como indivíduos e como sociedade somos aquilo que escolhemos e vamos nos tornando aquilo que vivemos. E assim, a cada dia, consciência histórica significa consciência de que somos o que nos tornamos. Cada mal praticado se torna parte de nós e ficará conosco, alimentando uma culpa que dificilmente arrastamos sem o perdão, aquele que podemos oferecer aos outros, na esperança de que nos perdoem também eles. E assim, se nos perdoamos mutuamente, Deus também nos livra dessas culpas. E as culpas não são para ficarmos nelas, mas para ajudar a reconhecer quanto limitados somos e o quanto necessitamos dos outros. Por isso, a relações corretas que a ética preconiza decorrem de precisarmos dos cuidados dos outros, do carinho dos outros, da força dos outros. Uma sociedade não sobrevive sem relações éticas. As outras ordens normativas (costumes e Direito) dela decorrem.
E os desafios da vida não são para desanimar, mas para mudar. Nossos pensamentos se estabelecem na vida tecida pelas escolhas para consolidar experiências e preparar o devir. A consciência histórica, marcada pelos dias, meses e anos que passam, marca o já vivido e serve para compreender a circunstância em que isso se deu para orientar o ainda não foi vivido. O plano de Deus se ajusta anualmente aos nossos movimentos, mais para perto ou para longe. Depende de nós.


sábado, 23 de dezembro de 2017

Jesus é visitado por Reis orientais.



               Presépio de Évora - Portugal



"Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.
Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.
A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.
Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.
Disseram-lhe: Em Belém, na Judeia, porque assim foi escrito pelo profeta:
E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo.
Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.
Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.
A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.

Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra."

São Mateus, 2 - Bíblia Online

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Críticas e Sugestões à política brasileira. José Maurício de Carvalho




O Brasil vive um dos momentos mais delicados na sua trajetória política contemporânea. A todo momento, ouve-se falar em ética, quebra de decoro, corrupção, entre outros jargões e conceitos da política que deixam perdido o cidadão (e eleitor) comum. A política pode caminhar sem a ética? Como construir uma agenda positiva capaz de levar o país a sair do lamaçal político na qual se afundou? 2018 é ano eleitoral e o debate está aberto. 
José Maurício de Carvalho é natural de São João del-Rei. Respeitado intelectual, possui vasto currículo que o credencia a ser um dos mais prestigiados filósofos do Brasil.  Possui especialização em Filosofia, Teologia e Filosofia Clínica, mestrado e doutorado em Filosofia, com estágios de pós-doutoramento nas Universidades Federal do Rio de Janeiro e Nova de Lisboa, em Portugal. Aposentou-se como professor titular de Filosofia Contemporânea do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ, em 2015. Trabalha como psicólogo clínico e é professor e coordenador da Pós-Graduação no Centro Universitário Presidente Tancredo Neves - IPTAN, membro do Instituto Brasileiro de Filosofia (SP), do Instituto de Filosofia Luso Brasileira (Lisboa), da Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Mantiqueira de Filosofia. Publicou cento e quinze artigos, cinquenta conferências em eventos científicos, trinta e um livros e capítulos em outros dezoito.

 Há analistas políticos que afirmam que, num cenário global, a Democracia está em crise. O senhor concorda? Concordo que a democracia está em crise se por crise entendemos um processo de importantes mudanças. A democracia precisa sempre se atualizar ou reinventar como se diz hoje em dia. Quanto aos aspectos da crise, é preciso diferenciar o que se passa no Brasil dos problemas gerais da democracia ocidental. Nos países mais ricos do ocidente, de maior tradição democrática, os problemas do sistema político se aglutinam em quatro pontos: 1) A revolução dos meios de comunicação com a Internet (celulares e computador), essa situação permitiu que pessoas se comuniquem sobre tudo em tempo real e se reúnam por afinidades nas redes sociais. Isso fortaleceu grupos de interesse dando visibilidade a questões que antes passariam despercebidas do conjunto da sociedade, mas que ganham força e exigem representação. 2) O momento do capitalismo internacional. Com o fim da União Soviética e a acentuada mudança do processo produtivo, que hoje trabalha as cadeias de valor, passou-se a dividir a produção econômica, principalmente industrial, pelo mundo. Eis como se faz um carro: os parafusos vêm de diversos países da África, os pneus da Ásia, a lataria do país montador e as peças nucleares de alta tecnologia dos países sede da empresa. Isso barateou o custo, mas mantém a riqueza concentrada em certos países e neles em lugares específicos (Vale do Silício, nos Estados Unidos, São Paulo, no Brasil.) nem sempre coincidindo com o Estado Nacional e seus interesses. O interesse do capital internacional se afastou dos governos nacionais, pelo menos como era no século passado. Além do mais, o fim do socialismo real passou a ideia de que o mercado é a única saída para a economia e que quanto mais livre de regulamentação melhor. A mídia, de modo geral, se encarrega de veicular a tese de que feliz é o rico e bem sucedido. Assim, esse capitalismo desvinculado dos Estados e descolado do compromisso com o estado do bem-estar social (sem a pressão, ainda que psicológica, das teses socialistas) criou a ideia de que a felicidade consiste em consumir cada vez mais. O mal-estar dessa nova religião global decorre justamente de não se ter o que consumir. Isso deu uma nova dinâmica aos conflitos sociais com violência crescente da população mais pobre. A droga, comércio e consumo, contribuem também com essa violência. Os interesses do grande capital estão distantes do estado do bem-estar social e esses grupos propõem como modelo aos Estados Nacionais a piora de vida das populações para necessitar pagar menos imposto e aumentar os lucros (aumento do tempo de aposentadoria, redução dos benefícios sociais, estímulo a previdência privada etc.). Esse fenômeno tem alimentado, entre outros movimentos xenófobos, a extrema direita, nacionalista e fechada, fenômeno que se observa em vários países da Europa e mesmo em alguns grupos nos Estados Unidos. Esses grupos julgam que o estrangeiro é a causa de seus problemas, desemprego, inclusive, e piora do modo de vida. Uma variação desse movimento de extrema direita, em vista da autoproteção de populações locais, são os desejos separatistas como vimos recentemente nos países bascos. A saída do Reino Unido da União Europeia tem essa mesma motivação. 3) A espetacularização das campanhas, cada vez mais caras e construídas por marqueteiros que tiram o foco do debate político para mostrar uma realidade fantasiosa e espetacular. 4) Pela chamada democracia das massas, fenômeno examinado pelo filósofo espanhol (Ortega Y Gasset) na década de 30 do século passado. Essa democracia doentia é uma democracia que se desvinculou do esforço pessoal e da excelência, privilegiando direitos sem deveres. Um conhecimento profundo desse fenômeno pode ser obtido da leitura do clássico A rebelião das massas, do mestre Ortega, livro que recomendo.

No Brasil, além desse pano de fundo internacional, houve os descaminhos de uma constituição quase parlamentar que manteve o sistema presidencialista por pressão de lideranças da época. Na propaganda do plebiscito convenceram o povo de que o presidencialismo era melhor, sem mostrar a realidade em que estávamos entrando. O resultado foi um Presidente refém do congresso que governa com troca de favores e compra de apoio ou não governa. A isso se somaram outros erros como a recusa do voto distrital, a manutenção do voto proporcional que leva deputados para o Parlamento com votos distantes da sua base eleitoral e muitos pelos votos dados a legenda, ou seja, sequer foram escolhas da população. A falta de uma cláusula de barreira que impeça a formação dos partidos nanicos fez aparecer esses pequenos partidos que vendem apoio, estimulando a corrupção, o clientelismo no eleitoral e no jogo parlamentar (busca de cargos em troca de apoio parlamentar). Naturalmente não representam uma significativa fatia da população ou o fazem inadequadamente (Partido da Mulher Brasileira, por exemplo). Ainda que as mulheres sejam uma importante parte da população, esse não é um assunto entorno do qual a sociedade deva se dividir. Se fosse legítimo tal interesse também deveria haver o Partido do Homem, do Gay etc. Enfim, o quadro atual com quarenta partidos, voto proporcional, financiamento empresarial das campanhas criou o ambiente necessário à corrupção generalizada que aí está.

Como melhorar esse estado de coisas? A correção ou uma reforma política razoável precisaria considerar a implantação do parlamentarismo presidencialista (como na República francesa), cláusula de barreira para termos alguns poucos partidos nacionais, voto distrital, partidos ideologicamente bem definidos. Uma parte da elite nacional quis vender a imagem de que a corrupção instalada era culpa do PT, mas na verdade sabemos que não é, e o que está na mídia sobre a classe política do Rio de Janeiro mostra que o problema do PT é que ele lamentavelmente entrou nesse clima geral de corrupção e afundou nele até o pescoço. A superação da crise política brasileira não virá sem séria reforma política, que os políticos insistem em postergar, pois os que estão aí não desejam mudar as regras que os levaram ao poder. São muitas dificuldades e um quadro complexo, mas é preciso acreditar nas mudanças e se empenhar em realizá-las. Além do mais não se pode perder de vista a má conduta de empresários bandidos que corrompem os agentes do Estado para ter lucro fácil. Enquanto isso e para o povo fazem o discurso conveniente da liberdade de mercado, quando se trata de desmontar os programas sociais que auxiliam a população mais pobre.

A ética na política vive seu colapso? Maquiavel venceu? São duas questões diferentes. Para responder a segunda devemos diferenciar Política e Ética: ética (tomada como sinônimo de moral como fez Kant) é uma interdição feita pela consciência individual em obediência aos ditames da razão ou a um princípio aceito como verdadeiro, divino como as leis mosaicas ou imposto por alguma autoridade, enquanto a ação política é a exercida pelo político na defesa de representados e/ou do Estado. Portanto, ao entender que a política não é uma extensão da ética, Maquiavel estava correto, mas exagerou na defesa de práticas indefensáveis para alcançar determinados fins. A melhor forma de abordar essa relação nos tempos modernos não remonta a Maquiavel, mas ao filósofo alemão Immanuel Kant que viveu depois dele. De forma resumida, o que disse o filósofo alemão no ensaio Sobre a discordância entre a Moral e a Política, a propósito da paz perpétua foi para não se ajustar a moral aos interesses da política, mas, considerando os defeitos do Estado, procurar corrigi-los devagar e, na medida do possível, pelo que orienta a moral. A crise ética do ocidente tem origem numa visão de democracia sem deveres e descomprometida da excelência pessoal (portanto sem esforço moral), que veio se formando desde o século XIX e foi um fenômeno social estudado por Ortega y Gasset em A rebelião das massas. Parece que para a crise também contribuiu o fenômeno que Martin Buber denomina eclipse de Deus, no livro que tem esse nome. Buber não diz como Nietzsche que Deus morreu e com Ele os valores fundamentais do ocidente e a metafísica, mas que está oculto do homem há alguns séculos. O homem contemporâneo perdeu o contato com o transcendente, mesmo o de caráter filosófico. A segunda pergunta deve considerar a história da igreja católica em Portugal e no Brasil. Essas sociedades foram constituídas tendo por base a moral católica. A laicização dessas sociedades na modernidade não levou de imediato à desconsideração da moralidade católica. Por quase três séculos, durante o período do Brasil colônia, Portugal manteve intacta a moral católica, pois ela era solidária e um dos fundamentos da monarquia absoluta. Então conservou uma moral católica medieval sem que a sociedade lusitana tivesse passado pelas discussões e estudos que se passaram no norte da Europa desde o início da modernidade (Alemanha, Holanda e Inglaterra). Assim, deixando de lado o debate das teorias morais nas diversas instâncias sociais, a tradição lusitana encontrou nos tempos pombalinos, já no século XVIII, necessidade de modernizar a estrutura moral da sociedade. Naquele tempo adotou dois caminhos: 1) Julgar que a prática do capitalismo criaria uma nova moral do trabalho (crença na adesão pura e simples ao liberalismo como ética normativa), incorporando valores como, trabalho disciplinado, organização, esforço, poupança e/ou 2) Colocar no Direito a tarefa de resolver a problemática moral. Até onde entendo essas duas soluções ruins acabaram se fixando no Brasil. Examinei detalhadamente a evolução moral da tradição luso brasileira no livro Caminhos da moral moderna, a experiência luso brasileira. (Belo Horizonte, Itatiaia, 1995). Foi um estudo de pós doutoramento e teve formato acadêmico (muitas notas por exemplo), mas não é um texto difícil de ser entendido e deveria ser examinado por quem se preocupa com questões como a primeira que você fez.

2017 foi um ano politicamente perdido? Na história dos povos não creio que haja tempo perdido, há tempo em que se enfrenta os problemas de modo pior e outros em que se é mais feliz. E isso pode ocorrer em governos de diferentes matizes ideológicas. O que foi ruim, mas muito instrutivo em 2017, foi desmascarar a farsa construída pelos setores ligados ao capitalismo internacional. Eles venderam para a classe média a ideia de que o afastamento da presidente Dilma iria trazer de volta os investimentos, o país voltaria a crescer, os empregos voltariam etc. E os resultados econômicos melhoraram muito pouco e essa melhoria deveu-se principalmente à melhora do setor exportador em decorrência da melhora da economia internacional. O déficit do governo ficou igual ao da época da presidente Dilma, apesar do atual presidente haver tomado seguidas medidas impopulares aumentando taxas e serviços essenciais (água, luz, gasolina etc.). Nem é bom falar de reforma previdenciária, necessária certamente, mas que precisaria ser conduzida com mais objetividade e verdade do que está sendo feito. E há mais, o presidente Temer também deu suas pedaladas, agora cobertas pela lei. O ruim é que o déficit público, na raiz do problema, permanece intocado. E nesse tempo em que está na Presidência Michel Temer reduziu investimentos e os gastos com o que poderia melhorar a vida dos mais pobres. Enfim, quem tem senso crítico sabe que crises não se superam com promessas como as feitas na época do afastamento da presidente Dilma, mas com sacrifícios. E como sacrifícios são necessários é bom se a sociedade puder escolher quais. Ao escolher um projeto político a sociedade escolhe que sacrifícios aceita fazer. É isso que o debate qualificado permite, esclarecer para o povo o caminho de sacrifícios que o candidato pretende implantar e como espera enfrentar os problemas do país. O índice de rejeição do presidente ( 97 %) mostra quem está satisfeito com a estratégia de sacrifício adotada pelo governo Temer.

O que poderá minimizar o momento de crise política pelo qual passa o país? Há duas coisas a fazer. A primeira é entender que a democracia se renova nas crises e dada às transformações da história a democracia entra ciclicamente em crises. Saber que crise é espaço de renovação ajuda a superá-la. A construção da democracia exige superar séculos de tradição escravista e de profunda desigualdade social, de deixar para trás uma visão autoritária de poder vinda de séculos de Absolutismo da época da colônia. Apesar do período liberal do Império, a tradição autoritária foi retomada na República onde tivemos golpes seguidos e várias quebras da ordem constitucional. Superar crises com a preservação das instituições não deixa de ser um aprendizado. Portanto, penso que é necessário olhar a atual crise política como parte de nosso amadurecimento político, uma forma de superar o patrimonialismo. A segunda coisa a fazer é pensar no que significa construir uma nação. Isso ajuda a se deslocar para frente e enxergar o atual momento como parte do processo de construção da nacionalidade. Uma nação é criação continuada de uma sociedade humana que descobre seu papel na história e que se irmana não só na missão comum, mas numa forma de relacionamento em que as pessoas se responsabilizam umas pelas outras. Portanto, além de um passado comum, uma missão singular, um sentimento de solidariedade entre os membros. No livro sobre Martin Buber pude comentar a criação da comunidade nacional avaliando os textos de Buber (CARVALHO, José Mauricio de. Martin Buber, a filosofia e outros escritos sobre o diálogo e a intersubjetividade. São Paulo, Filoczar, 2017, p. 161/2):

O ensaio termina com um tema que foi amplamente explorado no livro Sobre Comunidade. O viver em sociedade somente ganha densidade quando a vida social se sustenta em relações pessoais. Muitas vezes diz-se que em política aquilo que importa são resultados e, nesse sentido, é preciso que os homens busquem juntos determinado fim comum. No entanto, avalia Buber, somente se consegue construir uma autêntica vida comunitária quando a relação entre os membros do grupo vai além da luta por um objetivo. Portanto, para existir uma comunidade é necessário mais que metas comuns, é preciso uma nova forma de relação: O estar não mais um ao lado do outro, mas estar um com o outro, de uma multidão de pessoas que, embora movimentem-se juntas em direção a um objetivo, experienciam em todo lugar um dirigir-se um ao outro, um face a face dinâmico, um fluir do Eu para o Tu.

Este é o desafio mais importante da sociedade, construir uma nação, sedimentar no povo a consciência de sua missão singular diante da humanidade e um sentido comum de corresponsabilidade de uns pelos outros. Se essa crise for vista com um olhar para esse futuro poderá ser bem enfrentada sem tanto sofrimento. Porém precisamos assumir esse desafio, de fazer desse lugar mais que um Estado, ser um povo, uma nação.

No debate político eleitoral que vem se desenhando, percebe-se uma polarização entre a extrema direita (prováveis eleitores de Jair Bolsonaro) e a esquerda (eleitores de Lula). Como o senhor avalia esse debate político? A polarização reflete, em parte o momento do capitalismo mundial e, em parte, problemas da sociedade brasileira. Os eleitores de Bolsonaro agregam grupos distintos: 1) Brasileiros conservadores assustados com os desarranjos da política nacional e acreditando que a solução para a crise política passa pela intervenção militar ou ao menos a colocação na presidência de um militar. 2) Setores da elite econômica que não desejam o retorno de um governo social-democrata liderado por Lula. São normalmente integrantes da elite econômica bem alinhado a interesses do capitalismo internacional. 3) Grupos de nacionalistas que se inserem no crescimento da extrema direita pelo mundo. Na hipótese de um governo de Bolsonaro não parece que ele conseguiria contemplar o fundamental do que desejam esses grupos. Por sua vez, os apoiadores de Lula estão entre: 1) Sindicalistas e setores ligados às Centrais Sindicais, 2) Pessoas ligadas aos movimentos sociais, 3) Parte importante do funcionalismo público, 4) Grupos desejosos de um estado do bem-estar social que ainda não o viram instalado no Brasil, 5) Socialistas, comunistas e pessoas que esperam equacionar o problema social através do Estado. Também aí temos interesses diferentes e que dificilmente serão bem contemplados num eventual governo Lula. Quanto ao debate político desses grupos feito na net é de péssima qualidade. Primeiro porque não se baseia na discussão de princípios e nem de prioridades, mas é principalmente emocional, como se vê nas redes sociais. Segundo porque a tradição política brasileira, especialmente nos últimos anos, não usa o espaço político eleitoral para o esclarecimento de ideias, ou para defender princípios e listar prioridades, mas vender a falsa imagem de que o país está muito melhor do que está (grupos ligados ao poder) ou que vai ficar tudo bem se o outro grupo chegar ao poder (oposição). Antes do afastamento da presidente Dilma o discurso da elite conservadora era que uma vez afastada as coisas melhorariam rapidamente, os empresários voltariam a investir etc. Vimos que não é verdade. As coisas não se resolvem assim. Aliás não é verdade e nenhuma das duas avaliações, nem as coisas estão um desastre como diz a oposição, nem estamos no caminho maravilhoso da recuperação. Estamos patinando quase no mesmo lugar. A qualificação do debate político, quando realizado com verdade, é o melhor caminho para educar a sociedade e ajudá-la a pensar o próprio destino.

Como o senhor avalia a Operação Lava-Jato? Ela causará impacto nas eleições no próximo ano? A Operação Lava-Jato é fundamental para corrigir erros de conduta. É uma das boas coisas que estão ocorrendo no país. Ela produz duas consequências. Uma boa é que corrige mal feitos e alimenta a esperança de um futuro melhor. Outra ruim que é a de deixar as pessoas comuns consternadas e sem ação, desconfiadas dos brasileiros, além de justificar os próprios escorregos éticos. Pensam algo assim: se os dirigentes, que deviam ser os exemplos fazem isso, eu também posso fazer cometer meus pequenos deslizes. E não podem, os escorregos éticos têm consequências e inviabilizam a vida social. Eu acredito que essas duas realidades estarão presentes no jogo eleitoral, mostrando-se entre aqueles que votarão acreditando e esperando mudar o futuro e os que deixarão de votar como protesto. De todo modo, parece que a maioria do povo dará à classe política alguma resposta para demonstrar a insatisfação. Quanto ao nível do debate político não tenho muita esperança de que avance além daquelas caríssimas campanhas de marketing para um debate sério sobre como enfrentar os problemas do país. O que quero dizer é que não basta dizer que vai melhorar o nível de emprego, é preciso explicar como, não basta dizer que é pela saúde ou que vai trabalhar pela educação, é preciso explicar como vai fazê-lo, com que recursos, como discutirá a universidade pública e o futuro da pesquisa no país, como enfrentar o analfabetismo remanescente, como reduzir a evasão escolar etc. Será necessário indicar o que e como fazer (inclusive com que recursos). Somente assim teremos um debate sério e responsável. Do contrário será apenas uma peça publicitária montada para mistificar a realidade. Lembro-me da propaganda de um candidato ao governo de Minas que dizia das maravilhosas estradas, das escolas extraordinárias, da administração excepcional etc., quando as pessoas sabiam que nada daquilo era verdadeiro. Esse tipo de propaganda não ajuda a qualificar o debate político.


Enquanto professor universitário de Filosofia, o senhor convive com jovens de diversos segmentos e opiniões ideológicas distintas. Como o senhor avalia a participação da juventude no atual momento da política brasileira? O jovem que chega à universidade representa a própria sociedade, os de classe mais alta e que vêm para cursos muito procurados como Medicina, Direito, Engenharias têm chegado com perfil mais conservador, os outros jovens variam entre posições da social-democracia a formas radicais de socialismo. É assim mesmo. O importante é que cada qual com sua convicção procure fundamentar suas posições, esclarecê-las. Essa geração terá outros desafios diferentes da que teve minha geração, comprometida com a redemocratização do país e em vencer a hiperinflação. O que sinto realmente falta é dessa juventude, independente das posições políticas, estar comprometida com a construção de uma nação forte, que tem um papel no mundo e no cenário internacional, especialmente na defesa da ecologia e da paz. Disse nação forte e não Estado forte. Porém, nunca perco a esperança de que as novas gerações enfrentem e vençam os desafios que têm pela frente e esse principal desafio, que é fazer uma nação onde todos sejam cidadãos e pela seriedade, venha a ser respeitada no cenário internacional.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

AS GRANDES FALSAS NOTÍCIAS NA HISTÓRIA (FAKE NEWS) . Selvino Antonio Malfatti.



Muitos pensarão que os Fake New - notícias falsas - sejam uma marca de nosso tempo, mormente as disseminadas pelas redes sociais. No entanto, faz quinhentos anos que a primeira grande mentira que rolou pelo mundo foi desmascarada. .
Em 1517saiu a notícia de um texto que desmascarava a Doação de Constantino. Do assassinato de Napoleão pelos cossacos até a reunião dos Sábios de Sião, uma longa trajetória de falsas notícias. A primeira até mereceu uma pintura que se encontra no Oratório de São Silvestre em Roma. Nele se vê o Imperador Constantino oferecendo ao Papa a tiara imperial como gratidão pelo milagre da cura da lepra.
1.    Não restam mais dúvidas. Esta notícia foi o maior furacão de todos os tempos. Fazem treze séculos que a notícia da Doação mudou o mundo. Isto se deveu a Lourenço Valla em 1440, que, valendo-se dos estudos de filologia, dá à luz o Discurso desmascarando a notícia. Diz o documento que o Documento de doação  foi elaborado na metade do século VIII, enquanto o acontecimento histórico aconteceu no século IV. O intuito foi fornecer uma base pseudolegal para as pretensões do poder temporal do papa. Por muito tempo o documento não foi questionado. Até mesmo Dante caiu na armadilha: “Ahi, Costantin, di quanto mal fu matre,/ non la tua conversion, ma quella dote/ che da te prese il primo ricco patre». (Ahi, Costantino, quão ruim era, / não a sua conversão, mas esse dote / que você fez o primeiro papa rico)"

Diz Valla: como se pode falar, no século IV, em Constantinopla, como uma sede patriarcal, quando não havia nem patriarcado, nem uma sede, nem uma cidade cristã, nem se chamava assim, nem tinha sido fundada, nem mesmo uma decisão de se fundar?
Ate mesmo junto às teses de Lutero foi afixado o documento em 1517, há, portanto meio século.
2.    Mas não foi só com São Silvestre e Constantino que se falsificaram fatos históricos. Já na Grécia, em Esparta, Pausânias. Este teria escrito a Xerxes, rei dos persas que se permitisse a mão da filha em casamento, lhe restituiria tudo o que havia conquistado dos persas, inclusive dar-lhe-ia Esparta e toda Grécia. Embora houvesse dúvidas sobre a autenticidade da carta, como sugere Heródoto, Pausânias pagou caro. Foi preso, condenado à morte, fizeram-no prisioneiro num templo e o enterraram vivo.

3.    Consta uma misteriosa missiva de 1165, enviada a Alexandre III, ao imperador Manuel I Comeno e Frederico Barbaroxa por parte de um tal de “Gianni o Presbítero”, após invocar a Deus, Jesus Cristo, o qual prometia doar todas as suas riquezas para mover guerra aos islamitas e defender a Terra Santa. Era o mítico Padre Gianni que se tornou uma lenda aceita por dezenas e dezenas de anos.

4.    Como explicar a notícia que correu Londres em 1814 anunciando a morte de Napoleão pelos cossacos. Fizeram-no picadinho! - diziam. A bolsa explodiu para cima, subiu, subiu...até que irrompeu o pânico. Era tudo falso. As desconfianças voltaram-se para Thomas Cochrane, almirante político, investidor. Foi preso, condenado e degredado por agiotagem.

5.    Outra notícia falsa de enorme repercussão ocorreu em 1871. A notícia disparou nos principais jornais: as mulheres incendiárias, da Comuna de Paris, colocaram fogo no Museu de Louvre. Alguns choravam, outros acusavam os comunistas. Era o fim da civilização. Outros ainda lamentavam por haverem perdido seu patrimônio artístico. Católicos viam um castigo divino pela era napoleônica. Mesmo depois de desmentida, continuavam os impropérios.

6.    O que causa mais estranheza é que, muitas vezes, a opinião pública se recusa a acreditar ser a notícia falsa. É o caso do Protocolo dos Sábios de Sião. Apesar  de as investigações sobre o famoso plano dos judeus de se apoderarem de todas as riquezas do mundo, ainda há crença no plano. Um escritor do porte de Umberto Eco o cita no Cemitério de Praga. O raciocínio é mais ou menos o seguinte: pode ser falso, mas é exatamente o que pensam os judeus, portanto, é verdadeiro.

7.    E mais: o desembarque de marcianos no solo americano de 1938?  Ainda há resquícios de crença. E a carta de Stalin que pede que a imprensa continue noticiando sua morte para que ninguém lhe perturbe o silêncio do além.


Constantino oferecendo a tiara ao papa Silvrestre

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

VERGONHA E CULPA. Selvino Antonio Malfatti.





O Papa Francisco diz que na narrativa da Paixão identifica três Vergonhas.
A primeira acontece com Pedro. Quando ouve o galo cantar sente algo dentro de si. Chora e se envergonha.
A segunda aparece com o bom ladrão. Diz ele: nós estamos aqui por que somos culpados. Então, sente-se culpado e envergonhado. A vergonha abre-lhe o paraíso.
A terceira abate-se sobre Judas. Diz aos sacerdotes: pequei por que traí o sangue inocente. Os sacerdotes o mandam embora. E Judas sai envergonhado e com a culpa latejando na consciência. Não conseguindo livrar-se da vergonha da culpa, enforca-se.
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Como explicar antropologicamente a culpa? Por mais que alguém se examine, não a encontra e ela persiste dentro de dele.

O cristianismo soluciona através do dogma de culpa original.

Se a causa de todas as culpas é a primeira culpa da qual não sou culpado porque então sou culpado? Se a culpa for estrutural como solucionar com a conjuntura? Se a culpa é institucional como posso eliminá-la?

Embora não se tenha lembrança dívida com alguém e nem tenha causado algum desagrado, mesmo assim persiste a culpa, A culpa, a cima de tudo, não é uma razão, mas sentimento. É algo do qual queremos livrar-nos. Apesar de alguém ter certeza de que pode ser feliz, não o é porque subsiste o sentimento de culpa. Junto com a culpa vem o remorso que mata, por dentro, a esperança de felicidade. Por mais que se queira explicar a si mesmo que não há motivo de culpa, ela reaparece enchendo a alma. É como Caim que vaga pelas florestas, corroído de remorso pela morte do irmão Abel. Neste caso há uma causa, o assassinato do irmão. 

E quando sem causa se sente a culpa? Desde que o homem teve consciência de si, sentiu-se culpado.  Por que um pagão como Anaximandro diria que não há culpa maior do que o de ter nascido? Por que Platão diria que a culpa é por não conhecer a verdade?  Assim se pode desfilar os grandes pensadores da humanidade como Rousseau que encontrou a sociedade seu bode expiatório. Se não fosse a sociedade o homem poderia ir ao encontro de seus desejos, satisfazer suas paixões, entregar-se à felicidade da vida, sem culpa, se não fosse a sociedade. O indivíduo é bom, não tem culpa. A sociedade é má, a culpada.

Nietzsche, na mesma linha, vê na sociedade não só estratégias de controle, mas formas de poder. Há os que querem demonstrar que o mundo não é como deveria ser. Eles dizem aos homens o que devem fazer, como se portar, até mesmo ordenando-lhe agir contra a sua natureza. O próprio Deus seria um desses pretensos idealizadores de felicidade. Mas todos estão mortos: monarcas, nobres,inclusive Deus. Mas algo sobreviveu: o sentimento de culpa.

Já Freud tira Deus do céu e o acomoda no coração do homem. Nele faz o papel de juiz, o Superego. Este impõe ao homem um código moral que inevitavelmente é transgredido, engendrando o sentimento de culpa.

E os filósofos da existência, como veem a culpa. Para Jaspers é uma situação limite, dela o homem não pode furtar-se. Heidegger vê na culpa um modo de ser do ser-aí, uma atribuição substancial do ser humano. Em última análise, em ambos a culpa é um trajeto inexorável. Tudo o que o homem fizer, ele pode ter certeza que será culpado. Se fizer o bem, ou se fizer o mal, ou mesmo se não fizer nada, sentir-se-á culpado. A culpa é a condição humana. 

E o pior dos enigmas da culpa: quanto menos culpado se é, mais culpa se sente. Um santo se sente mais culpado que um assassino psicopata



sexta-feira, 24 de novembro de 2017

FORUM DE DAVOS - AS MULHERES SE APODERAM..Selvino Antonio Malfatt



              Da esquerda para direita - Do 2º para 1º Plano

Fabiola Gianotti, Chetna Sinha, Christine Lagarde, Erna Solberg, Ginni Robetty, Sharon Burrow e Isabelle Kocher.



O Próximo encontro da Davos será de 23 a 26 de janeiro de 2018. Desta vez haverá uma novidade: a participação de sete mulheres como co-presidentes. Em que pese a previsão do World Economic Forum de que são ainda necessários 217 anos para haver igualdade de salários entre homens e mulheres, ocorreu uma abertura para a participação das mulheres. São elas:

1.    CRISTINA LAGARDE – a número Um do Fundo Monetário Internacional.
2.    FABIOLA GIANOTTI – Diretora Geral da Organisation Européenne pour la Recherche Nucléaire .(A Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear).
3.    GINNI ROMETTY – a primeira mulher na direção da IBM
4.    ERNA SOLBERG – primeira ministra norueguesa
5.    SHARAN BURROW – secretária geral da Confederação das Trabalhadoras
6.    CHETNA SINHA – fundação Indiana Mann Deshi.
7.    ISABELLE KOCHER – administradora delegada do grupo francês Engie.

A Fundação nasceu em 1971 por iniciativa do economista Klaus Schwab, tendo como objetivo melhorar o mundo, através da interação entre líderes políticos e homens de negócios, intelectuais e protagonistas do setor público e privado. Homens e mulheres e, desta vez, com sua presença física, para o bem estar global com todos os envolvidos.
A decisão de incluir mulheres no Forum deu-se, talvez, pelas acusações de excesso de masculinismo, na seleção dos participantes. As intervenções femininas clamavam pela igualdade de gênero como foi o caso da atriz Emma Watson quando embaixatriz da ONU.
A organização do Fórum, resumidamente, é a seguinte:
 O Forum de Davos tem sede em Coligny, em Genebra. Se autocaracteriza como uma organização imparcial, sem fins lucrativos, não ligados a interesses políticos, partidários ou nacionais. A autoridade suprema é o Conselho da Fundação, órgão de 22 membros. Tem como missão a melhoria do estado do mundo.
Geralmente nas reuniões conta com 2.500 participantes de 91 países. São eles líderes de negócios, principais companhias do mundo e que atuam em setores econômicos, públicos ou privados, como chefes de estado, ministros, dirigentes, executivos, embaixadores. Há representantes da mídia, organizações não governamentais, lideres religiosos, acadêmicos e líderes sindicais.

As sete presidentes terão a função de elaborar o programa e coordenar os debates e os grupos de trabalho. O tema para este encontro será “Criar um futuro compartilhado num mundo de fraturado”. O objetivo é chegar às raízes das fraturas sociais e encontrar soluções concretas com os 2.500 dirigentes da indústria e de governos.

Cada uma das líderes estará incumbida de uma tarefa específica. O da Diretora geral,por exemplo, Fabiola Gioanotti será atribuída a pesquisa científica. Do mesmo modo, as temais terão também uma função singular.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Martin Buber e o nacionalismo. José Mauricio de Carvalho Academia de Letras de São João del-Rei






Martin Buber distingue um falso do autêntico nacionalismo, o segundo dedicado a curar as dores identificadas na consciência nacional dos povos. Ele também contrapôs o nacionalismo forjado no Sacro Império e reorganizado pelo idealismo alemão, que foi assumido pelas nações ocidentais, do nacionalismo judaico.
O estabelecimento do esteio religioso, parece-lhe o elemento definidor da nacionalidade judaica, e pensando assim respondeu aos filósofos do ocidente e a parte elite judia. Refiro-me à burguesia judaica, rica e poderosa, que estava, no início do século passado, bem integrada na comunidade germânica. Buber pretendia a reconstrução do Estado judeu, como propusera Theodor Herzl, mas para viver o ideal histórico do judaísmo, que é anunciar aos outros povos o Reino de paz na terra, na trilha do judaísmo espiritual preconizado por Hermann Cohen.
Se Buber discorda de Herzl por não considerar possível um projeto político que se afastasse do judaísmo espiritual, distancia-se também de Cohen porque o judaísmo espiritual não é uma proposta íntima como a moral kantiana segundo avaliava Cohen, mas uma ação coletiva comprometida com a construção do Reino de Deus. Dessa forma, o nacionalismo judeu embora esteja na base dos nacionalismos cristãos do ocidente, distingue-se dele pelo vínculo diverso entre a fé e a nacionalidade.
A análise de Buber, diferenciou a espiritualidade cristã da judaica, mostrando que a segunda não se resume a uma experiência íntima, mas é nacional. Sua análise, embora profunda e complexa, não considerou um aspecto da tradição cristã. No universo cristão, tome-se, por exemplo Portugal, Delfim Santos aborda a relação entre espiritualidade e nacionalidade, destacando a importância da vocação de cada homem. O filósofo português pensa a sociedade de seu tempo, suas dificuldades e os desafios. Delfim Santos parte daquela concepção vinda do idealismo alemão. Porém, para ele, nação era espaço coletivo e democrático, com um tipo de democracia que não prescinde da atuação qualificada de seus cidadãos. Para Santos a formação moral era que qualificava a participação dos cidadãos no grupo, e não apenas lhes oferecia a chance de viver cada qual conforme seu próprio projeto de vida.
Essa vida qualificada significava vencer as dificuldades de cada tempo, numa concepção de história entendida como enfrentamento de crises. Esse esquema se tornou comum entre os filósofos da existência e outros próximos que trabalhavam de parecida como o filósofo espanhol José Ortega y Gasset. Crise para eles era mais que o pensado por Husserl, isto é, uma crise de consciência que se deu conta das insuficiências do modo de pensar moderno. Para esses filósofos trata-se de uma crise de cultura, onde as nações perderam a confiança e segurança no futuro, o homem afastou-se de si e empobreceu a participação coletiva.
A crise da democracia e sua requalificação era para esses pensadores uma forma de rever a participação dos cidadãos na construção do futuro dos povos, uma maneira de vencer a democracia das massas, um desafio que permanece atual. Em O homem e a filosofia, pequenas meditações sobre a existência e a cultura entra-se nessa questão ao dizer que um projeto cultural somente se faz a partir da singularidade existencial, um compromisso não se vive sem o outro. Esse entendimento destaca um aspecto não considerado por Buber, a vocação e singularidade existencial é inseparável do compromisso com a construção de uma comunidade ética.



sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A UTILIDADE DO INÚTIL. Selvino Antonio Malfatti


O professor de literatura Nuccio Ordine, da universidade da Calábria, concluiu um tour pela América Latina, inclusive no Brasil. Os temas recorrentes que aborda são: instrução, cultura, pesquisa científica e utilitarismo. Insurge-se contra a desgraça generalizada mundialmente de tudo submeter ao critério da utilidade. Contrapõe-se apresentando seu livro: A Utilidade do Inútil.
Nuccio Ordine tem fama internacional pelas pesquisas sobre o Renascimento e sua tese de doutoramento que versa sobre Giordano Bruno. É conhecido pelo paradoxo por ele descoberto, a utilidade do inútil. Com este título seu livro foi vendido aos milhares em todo mundo. Sua revolta baseia-se na decadência da sociedade atual para a qual cada coisa tem seu preço e por isso o predomínio da quantidade sobre a qualidade. Conforme ele, a cultura, refratária ao preço,  não escapou de ser enquadrada num valor material.
Quando se ingressa numa faculdade os primeiro termos que se aprende são crédito/débito, palavras da área econômica, estranhas ao mundo da academia. Na Europa a situação é calamitosa. As instituições escolásticas estão perdendo sua função primordial, qual seja, a educativa. O desastre foi causado por considerar que a universidade deve ser administrada como uma empresa. Empresa e universidade são contraditórias, pois cada uma delas têm objetivos diversos. A empresa visa o lucro, a universidade tem em vista a cultura. A primeira quer ter vantagem sobre o outro, a universidade, ao contrário, é um compartilhamento de conhecimentos que enriquecem a todos.
O processo de deterioração tem início com a Declaração de Bolonha na Itália, em 1999, no qual, 29 responsáveis pelo ensino de seus países, firmaram a Declaração. A partir daí, em cima desta Declaração, cada país fez suas próprias leis imprimindo na educação um caráter eminentemente empresarial.
Se perguntarmos aos calouros por que vieram estudar na universidade? A maioria deles responderá que é para obter um diploma, arrumar emprego e poder sustentar sua própria vida. Como se pode verificar o fundo é sempre econômico: obter um diploma (comprá-lo), conseguir emprego (leia-se ganhar dinheiro) sustentar, (entenda-se pagar). A culpa não é dos estudantes mas da tendência da sociedade que coloca valor econômico em tudo. Parece que a humanidade sente atualmente um único faro: o dinheiro.
Quanto à questão da pesquisa científica parece que segue o mesmo caminho: o lucro. O que não dá retorno econômico mundial imediato é descartado. O pior desses reflexos está na saúde: se uma pesquisa, embora seja proveitosa para a humanidade, mas não der retorno econômico, é abandonada. O perverso é o inverso, uma pesquisa, embora seja prejudicial à saúde, mas dá retorno econômico tem os maiores incentivos. Hoje em dia os estados estão dispostos a investir, em conjunto com as multinacionais, somente as pesquisas que dão resultado imediato e preveem retornos imediatos de novos produtos no mercado.
Parece que até mesmo os Estados Unidos, um país tradicionalmente utilitarista e pragmático se deu conta. O criador da universidade Minerva, Ben Nelson, diz que educar é adquirir a capacidade de transferir ou aplicar conhecimentos e habilidades em áreas múltiplas. Isso só é possível se o aluno receber estes conhecimentos e habilidades.
Muito se fala em ensino ou educação crítica. Mas a maioria confunde educação crítica com educação para criticar. Esta última consiste em munir-se de uma ferramenta mental e a partir daí, criticar tudo o que não for seu modo de pensar. A educação crítica, ao invés, tem por base o sentido etimológico de “critico”, que significa discernir. Por exemplo, mostrar ao aluno que se ele partir desta afirmação chegará a tal conclusão. Mas se adotar outra posição chegará a outra conclusão. Portanto, em vez de passar o tempo todo se lamentando e criticando tudo, se deveria assumir uma postura construtiva. Está errado? Vamos corrigir e seguir adiante.
Esta é a educação integral. Abrange todas as dimensões do ser humano. Lembro-me de um professor de astronomia, Sinfrônio, da Holanda, de meu tempo de colegial, que, nas horas vagas nos convidava a ouvirmos música clássica. Ele nos explicava o sentido das melodias, dos ritmos, das escalas, dos maiores, menores, dos tons etc. Era professor de astronomia!
Muitos dizem que não há verba para isso por causa da crise. Conforme Nuccio Ordine, a questão da crise é uma balela. A verdadeira crise está na corrupção. Se os investimentos na educação, saúde e outros setores fossem iguais à corrupção cada país seria uma potência.

O utilitarismo e o egoísmo, pelo que se constata, contaminaram todas as relações humanas. Há como sair? A resposta vem de um cientista, Albert Einstein: somente uma vida vivida para os outros é uma vida que faz sentido vivê-la. É este o sentido da utilidade do inútil.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Jose Maurício de Carvalho.






Jaspers e a consciência história
O século XX precisou revisar a noção de História construída no século XIX pelo idealismo de Hegel, pelo marxismo e pelo positivismo de Augusto Comte. Isso foi importante para superar as bases de um mundo em conflito encoberto entre as teses liberais e as do marxismo stalinista, que entrou para a história como guerra fria. Os resquícios desse tempo ainda se podem ver na organização política da China e na existência das duas Coreias, estando a do norte nos noticiários pelas ameaças aos Estados Unidos. Vive a Coréia do Norte como se aqueles dias ainda não tivessem ficado para traz depois da queda do muro de Berlim e das mudanças políticas da antiga União Soviética.
Para entrar superar os impasses do historicismo do século XIX, (progresso necessário, superação do capitalismo pelo socialismo, sociedade justa sem a contribuição ética dos indivíduos) que importa deixar para traz, podemos nos valer das reflexões de Karl Jaspers sobre a História. Entendida como totalidade, isto é, como história completa com todos os seus movimentos da origem a nossos dias (como fizeram o positivismo e o marxismo), o assunto não se resolve empiricamente, entenda-se cientificamente, mas é um problema filosófico.
Para resolver o problema sem cair nos equívocos do idealismo e positivismo Jaspers insere na discussão sua ideia de englobante, pois a totalidade histórica precisa considerar a ideia de Unidade que não é histórica, mas filosófica. É assunto difícil, mas importante. O filósofo ensina que para pensar a totalidade da História é necessário ir além dos tempos históricos até a origem do homem. Nesse trabalho de remontar à origem o filósofo não prescinde das descobertas do historiador ou de outras ciências. Usa esses estudos, mas como visa a totalidade, precisa de mais do que o historiador ou cientista em geral pode lhe oferecer com a metodologia que utiliza.
Jaspers ensina que é importante considerar a totalidade dos fatos históricos quando se espera avaliar o passado e o sentido do tempo. Entretanto, proceder tal avaliação está longe de interpretar o passado com a consciência presente. Mesmo com muitas limitações, o homem não pode prescindir de entender a totalidade da História porque o que ele pensa sobre isso afeta a maneira como as coisas existem para ele e afeta tudo o mais como se viu no século passado.
Apesar de notar os primórdios da globalização do ocidente, Jaspers não percebeu, naqueles dias, a mundialização dos processos produtivos. Ele observa que no mundo que se formava fortaleciam-se unidades especiais, diríamos de Estado ou regiões um pouco maiores, onde a experiência histórica do tempo tinha configuração singular. Ele não fala de blocos econômicos, que não existiam até meados do século passado, nem da tensão que se estabelece na tentativa de defender certo modo de vida nessas unidades especiais. Parece possível retomar suas lições sobre a História para entender a ascensão contemporânea dos movimentos de direita radical, que ganharam força em diversas nações do mundo. Esses grupos, apesar de agendas locais, querem preservar o isolamento de suas fronteiras, numa visão estreita de nacionalismo, num mundo onde a universalização aponta outra agenda. As observações do filósofo sobre unidades especiais no interior da humanidade traduzem a tensão entre o que pode ser universalizado e o que tende a permanecer singularizado e assim entender a inadequação dessa proposta como forma de garantir isolamento dessas comunidades.
A consciência histórica iluminada por referências atuais, muitas delas construídas pelo próprio filósofo, é importante para superar os impasses dos historicismos do século XIX e a emergência da direita radical em diversos países em nossos dias. Com suas análises adicionalmente ele explica a importância da filosofia para um tempo em que ela é pouco considerada como elemento de orientação e referência.
José Mauricio de Carvalho

Academia de Letras de São João del-Rei

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O Individualismo liberal e o niilismo existencialista. Selvino Antonio Malfatti.





Na concepção liberal, o individualismo é no sentido de libertar cada ser humano das cadeias que o prendiam dentro do sistema feudal em suas várias dimensões: política, econômica, religiosa, moral e jurídica. Foi de propiciar às pessoas a possibilidade de fazer suas escolhas de como viver em sociedade. Em nenhum momento negou-se a vida social, ao contrário sempre se a pressupôs. A meta era como sair do estado de natureza (sem nexos sociais) para viver em sociedade. O individualismo liberal quer uma convivência social pautada pela racionalidade.
Por sua vez, uma parcela do existencialismo - o ateu, como em Jean-Paul Sartre - nega qualquer liame social pulverizando os indivíduos. Para esses, o lema é “proibido proibir”. . Então, cada um pode seguir seus próprios impulsos e instintos. Deste pensamento emergiu uma desconfiança generalizada sem esperança de salvação. Os valores são abolidos, aliás, o único valor é apropria vontade. Neste afã, os indivíduos lançam-se ao consumismo e na busca de compensação nos bens materiais. Como consequência nasce uma sociedade psicopática, “impolítica”, que se alimenta da raiva social. Termos, então, um ambiente que cada um individualizou para si o conflito e ao mesmo tempo tornou-se incapaz e administrar os problemas. Tudo o que se opuser à satisfação individual deve ser destruído. Esta proposta de um existencialismo nihilista produz o “abestamento” social, o único guia comportamental é o instinto.
Em hordas ou individualmente estes grupos destroem tudo o que encontram pela frente: praças e calçadas, ornamentações. Jardins e árvores são arrancados ou pisoteados.  Picham prédios e residências, sujam calçadas, inclusive fazem necessidades em locais públicos. Todo cidadão evita-os.
Onde estão o uso de álcool e drogas é generalizado.
Famílias não podem mais usufruir de lugares públicos como praças, pois estão tomadas de pessoas nuas, outras fazendo sexo explicitamente e publicamente. Associam todo tipo de droga com prostituição, tanto homo como heterossexual.
Armas de fogo ou armas brancas são vistas ostensivamente , com fogos de artifício e explosivos
Veículos com capôs abertos e som ligado às alturas. Nas redondezas ninguém consegue ter sossego e muito menos descansar. Carros em alta velocidade colocando em risco pessoas e outros veículos. Quem se atrever chamar atenção é agredido brutalmente.
Todos são obrigados a desviar ou se afastar destes grupos ou indivíduos. É o que está acontecendo com boa parcela de nossa sociedade. Para eles o importante é viver o agora, sem se importar com os demais. Valores são abolidos como ponderação, respeito, bom senso. Ninguém pode atravessar seu caminho. Ninguém pode negar nada. O objetivo deles é usufruir ao máximo de si, dos demais e do ambiente.
Há esperança de sair deste estado hobbesiano?  Pode-se pensar num abandono pacífico destes princípios, ou através de um rígido stalinismo, ou, quem sabe, os acenos neonacionalistas? Qual a alternativa capaz de romper o círculo vicioso?
Se analisarmos a fundo a questão o problema reside não só na ignorância como no “abestamento” social. Alguém pode ser ignorante, mas não agir como irracional, guiado pelos instintos. Abestamento social é quando uma determinada sociedade abandona a racionalidade e se deixa guiar pelos instintos. Neste sentido por mais ingênuo que pareça, a única saída ainda é a tradicional, isto é, instituir a racionalidade pela educação e ensino na produção de bens, serviços, cultura, informações, como afirma o sociólogo Mauro Magatti, no livro Mudança de Paradigma.
 
. É preciso contrapor a racionalidade ao abestamento. Se alguém disser que determinado produto é artístico, submeta-se ao critério racional e não ao emotivo. Por que o nu do Davi de Miguel Ângelo é uma obra de arte? E outros nus não são? Por que, aplicando-se a análise racional, se chega a esta conclusão. O objetivo de Miguel Ângelo não é o erotismo, mas a beleza da criatura humana, como obra prima divina.

Evidentemente que isto não acontece do da noite para o dia. Leva tempo. Talvez a geração que inicia não veja os frutos. Mas é preciso algum dia iniciar.

domingo, 22 de outubro de 2017

MODERNIDADE DEIXOU PARA TRÁS A FRATERNIDADE. Selvino Antonio Malfatti.

















A implantação da modernidade deu-se sobre três pilastras: liberdade, igualdade e fraternidade. A liberdade para fazer suas próprias leis, a igualdade de todos junto às mesmas leis e a fraternidade seria um ethos que cimentaria a união.
 “O individualismo faz as almas desmoronarem. A sociedade nasce com o Nós”.  É o que afirma o presidente da Pontifícia Academia pela Vida, Monsenhor Vicenzo Paglia, no livro a Derrota do Nós, (Il Crollo del Noi).  Sua hipótese tem como fundamento uma passagem bíblica, do Genesis, que diz: “não é bom que o homem fique só”. Conforme ele, na modernidade foi esquecido o Nós, a base da convivência social e da fraternidade. Foi uma promessa que a modernidade acenou, mas não foi cumprida.
Não se pode dizer que a liberdade e igualdade tenham vingado plenamente, mas se pode constatar que a fraternidade é a mais prejudicada. Isto porque o Nós vem depois do Eu proprio. O Eu vem depois do Nós. Embora seja  gerado pelo Nós, O Eu faz parte do Nós, integra-o.
Estamos no processo de construção de um mundo global, mas o perigo está que lhe falte a alma. Deve haver uma razão para tamanha dimensão. Há uma profunda contradição nesta tarefa: o advento de um mundo global coexiste com a desintegração da sociedade de convivência, a forma associativa da vida, da família, da comunidade e da nação. O drama catalão está aí para confirmar o fenômeno. Assistimos a proliferação de um novo individualismo que direciona tudo para si mesmo. É como se um vírus tivesse infectado e desintegrado o estar juntos, a convivência.
Apesar de tudo a família ainda resiste, mas até quando? Como se pode perceber é dela que emergem as contradições, onde os liames se enfraquecem progressivamente. As pessoas casam não para construírem um futuro comum, porém casam-se para se realizarem a si mesmos, até que os laços se enfraquecerem e se rompem. A prova deste narcisismo é tão escancarada que se chegou ao absurdo de um homem ou, uma mulher, casar consigo mesmo. Vê-se que o objetivo do individualismo foi alcançado. Nem a família resistiu e teve que dobrar-se.
Conforme Paglia, Deus cria um ser perfeito, mas se da conta que é um ser solitário. Este foi um erro de Deus. Então redobra de cuidados e cria sua obra prima: a mulher. Diante dela Adão cai de joelhos. Estabelece a aliança de ambos, isto é, do homem e da mulher. Erige então seu plano Providencia, confia a eles não só a condução da família, mas toda história humana. Se esta aliança não estiver bem, a própria história estará mal.
Perguntado sobre a questão da imigração se a Igreja que a defende não perdeu a sintonia com a opinião pública, responde que cabe à Igreja defender o acolhimento, pois todos necessitam dos outros. Basta interpretar a Parábola do Samaritano, diz ele. À pergunta “quem é meu próximo”, responde que cada um deva ser o próximo do outro. E o próximo do próximo é o vizinho. É por isso que se deve acolher o imigrante. É o começo para cimentar o Nós. Se se recusar o irmão é como se numa casa o filho único não se aceita a presença de mais um. Temos que reinventar a proximidade, repartir com os vizinhos mais descartados, os periféricos, como diria o papa Francisco.
Paglia faz um convite para recompor o sentido da fraternidade entre os seres humanos, de todos os credos, raças, gêneros e lugares. É o aceno para instituir uma sociedade global alicerçada sobre o amor.


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