sexta-feira, 5 de outubro de 2018

ELEIÇÃO: DOMINAÇÃO x VALORES. Selvino Antonio Malfatti





No dia 6 de outubro deste ano haverá eleição no Brasil para Presidente, senadores, deputados federais e estaduais. Será uma consulta popular a respeito da aprovação ou não do programa de governo dos partidos que o compõem. Haverá, portanto, tipicamente uma busca de opinião sobre a aprovação ou não da ideologia e programa de governo. A sociedade quer saber com certeza se aprova ou não o governo e sua política ou quer mudar. Portanto, a sociedade quer uma verdade e não simplesmente um aparência. Em cima da realidade que se apresenta fará uma escolha.

A ação humana é carregada de sentido. Inclusive, a escolha está assentada sobre o sentido. Qual o sentido que se deve dar à escolha? Até mesmo a política? O embazamento teórico podemos buscá-lo em Max weber. Conforme ele, a racionalidade reside na compreensão da ação humana. Diante disso, procura entender que o móvel da ação é o sentido que se lhe presta. Nisso estaria sua racionalidade. Esta pode ser racional com fins, racional com valores, tradicional ou sentimental. Evidentemente que o sentimental e o tradicional podem ter pouca racionalidade para quem faz, no entanto, para quem estuda encontrar estes princípios motores é racional. É o que explica Weber:


A teoria weberiana sobre o sentido da ação humana, conjugada com a teoria das formas de dominação, pode lançar luz sobre a questão. Conforme Weber, a ação humana pode ter quatro sentidos:
1. Ação racional, tendo presente uma verdade, avaliada sob a luz da razão como um fim em si e escolhida sem qualquer tipo de coação. Neste caso há uma perfeita sintonia entre o ser buscado e a razão.
2. Ação racional, tendo presente um valor, avaliado sob a luz da razão como um bem em si e escolhido sem qualquer tipo de coação.
3. Ação sentimental, tendo presente uma emoção, avaliada pelo sentimento como uma sacralidade e escolhida de conformidade com a satisfação.
4. Ação tradicional, tendo presente um costume, avaliado tradicionalmente como eficaz e escolhido sob a égide da repetição
.


Quanto às formas de dominação ou de legitimação do domínio, Weber apresenta três formas puras:
1. A tradicional se refere aos costumes sagrados dos ancestrais. É o “ontem eterno” sacralizado na tradição. Este, na forma mais pura, o aparelho estatal, confunde-se com a vontade pessoal do governante. Não se estabelece uma distinção entre o governante e a pessoa física de quem o governa. É o patrimonialismo, pelo qual o bem público se confunde com o privado.
2. A carismática, baseada no dom pessoal, na unção, no dom da graça conferido a alguém.
3. A legal, baseada na força da lei. Há regras preestabelecidas e universalmente válidas. É o domínio exercido em virtude da lei
Carece, portanto de recionalidade afirmar que tudo é ideologia. Que a ção humana tem como fundamento a ideologia. Se, se seguisse esta vereda- tudo é ideologia - nada pode ser considerado verdadeiro, pois há sempre um interesse político por trás de qualquer esforço.  Nada é verdadeiro, o resultado não passa de uma distorção. O que chama atenção é que este modo de pensar só é válido para seu seguidor, isto é, o seu modo de pensar é verdadeiro e do outro não.
No Brasil, esta ideia de que tudo é ideologia – leia-se política – teve origem num pequeno grupo de intelectuais e artistas universitários. Houve protestos da parte de quem não concordavasse, ponderações, mas de nada valeu. Como qualquer ideologia, por ser fácil e com aparência de verdade, propagou-se facilmente da universidade para o ensino médio e deste para o primeiro grau. Jovens estreantes na pesquisa abraçaram a teoria, pois sem nenhum esforço, podiam chegar a "verdades"  que quisessem. 
As fontes desta teoria todos sabemos.Seus seguidores leram, mas não as estudaram, isto é, não aplicaram o método da crítica científica. Daí, todos os que não concordassem com suas "verdades", passaram a ser retrógados. E em política, pichados de fascistas. 
Neste sentido, a ciência foi desvirtuada de sua natureza passando a ser considerada apenas diletantismo e ou má fé, numa palavra: ideologia.
 Detenhamo-nos nas formas de dominação:
- abriga verdades gerais.
- baseia-se no método científico.
- os resultados podem ser reconstituídos.
- independe dos indivíduos.
- está ligada a uma teoria.
Então temos uma dominação legal

- conjunto de ideias, pensamentos e doutrina válidos particularmente. 
- visa ações sociais e não desobertas científicas.
- Manter o status quo, sem mudanças
Então temos uma dominação tradicional

Além disso, há senso comum.

- conhecimento espontâneo ou vulgar.
- resultado de experiências pessoais, sem senso crítico, como: "logo que ouvi o candidato identifiquei-me com ele, e concluí que era o melhor".
- conjunto de observações que auxiliam o modo de agir.
- Baseia-se na vontade do líder
Então temos uma dominação carismática.

Diante disso, se pode perguntar: o que pode ser considerado legal-racional numa eleição, o que é tracional e é do carismático?
Tomemos como exemplo aspectos de uma eleição concreta.
legal pode ser considerado os valores do conteúdo programático dos partidos, o sistema político, os poderes, a função de cada poder, as eleições,a filiação ideológica, a porcentagem do eleitorado obtido na eleição, as metas que se propõe.
carismático é a visão de mundo, ideal, tudo é perfeito . Para esta postura a oposição distorce a verdade. Seus seguidores idealizam a sociedade sobre a própria concepção.
tradicional é acreditar na vitória do partido ou do líder pelo desempenho do discurso ou estética dos candidatos, crer que a influência pecuniária é determinante, atribuir má fé nas pesquisas. 
As eleições estáo batendo à porta. Seu resultado evidenciará os valores da sociedade e evidenciará o estágio da forma de dominação. 
A prova disto: nos países de democracia consolidada, o candidato perdedor vai à imprensa e parabeniza o vencedor, desejando-lhe um bom governo. Estamso diante de uma forma de dominação legal.
 Em democracias não consolidadas, o perdedor deseja o pior ao vencedor, temios aqui uma dominação tradicional ou carismática.
O resultado da eleição com certeza evidenciará duas realidades: o tipo de ação humana predominante os valores - e a forma de dominação vigente - estágio de dominação.

13 comentários:

  1. Eleições complicadas, povo desiludido, candidatos que não representam a ânsia da população.

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    1. Mas entre os piores precisamos escolher, não fuja de seu dever cívico.

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  2. Valores da sociedade?
    Precisamos resgatar, é urgente.

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  3. O que me preocupa é sua leitura com conhecimento, a DOMINAÇÃO.

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  4. Concordamos sempre há que se pensar, o interesse político é maior que o clamor do povo, que é somente um meio para se chegar ao Poder.

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  5. O perdedor deseja o pior ao vencedor, acredito que vamos saber bem o que será nos próximos anos.
    Que Deus nos proteja e ilumine o povo brasileiro.

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  6. Vamos votar muito consciente.
    Boa eleição.

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  7. Nada é mais importante do que a educação, povo educado para ser cidadão sabe fazer escolhas, não troca seu voto por favores.
    Acorda povo, não aceite ser manipulado.

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  8. Mesmo a dominação carismática é uma forma de DOMINAÇÃO, as vezes as pessoas se encantam e depois sofrem as consequências,os doentes mentais as vezes são extremamente encantadores.
    .

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    1. As vezes, quando a ética perde seu valor, o melhor é dominação com leis iguais para todos.

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    2. Mas bah, segundo turno.
      O povo quer segurança.

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  9. Jose Hermílio Ribeiro Serpa
    6 de outubro às 16:21

    Perfeito, professor, reproduzindo velhas e sempre pertinentes lições. Grande abraço.

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  10. Hoje vamos conhecer o grande eleitorado brasileiro, talvez tenhamos surpresas.
    Será que as redes sociais influenciam os eleitores?
    Que o Brasil seja a PÁTRIA DE TODOS.

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