sexta-feira, 15 de agosto de 2025

NOSSA SENHORA MEDIANEIRA, RAINHA DO POVO GAÚCHO. Org. por Selvino Antonio Malfatti

 


Em solenidade em 15 de agosto de 2024,  realizada na Basílica Nossa Senhora Medianeira, presidida pelo Arcebispo Leomar Antônio Brustolin, Nossa Senhora Medianeira foi coroada Rainha do Povo Gaúcho.

Por isso, a origem da comemoração e do consequente feriado de 15 de agosto deu-se por ter o Episcopado rio-grandense concedido o título de Rainha do Povo Gaúcho Nossa Senhora Medianeira. Para justificar tal título o episcopado busca os fundamentos na Sagrada Escritura, na tradição da Igreja e na história do povo gaúcho.

A devoção a Virgem Maria em Santa Maria, RS, tem duas ramificações, embora se trate de devoção à mesma santa: Maria Medianeira e Mãe Peregrina. Cada uma tem uma origem própria.

A devoção à Nossa Senhora Medianeira em Santa Maria tem suas raízes em 1928, com o incentivo do Padre Inácio Rafael Valle, e se popularizou após a concessão do título de festa própria pela diocese pelo Papa Pio XI em 1929. A devoção à Mãe Peregrina, por sua vez, originou-se do movimento de Schoenstatt e tem em João Luiz Pozzobon seu grande impulsionador, com a primeira imagem peregrina sendo levada por ele em 1950.

A devoção à Medianeira popularizando-se através da iniciativa religiosa em Santa Maria. A basílica, dedicada a essa devoção, foi iniciada em 1935 e elevada à categoria de basílica em 1987.

Em 31 de maio de 2024, o Estado do Rio Grande do Sul foi oficialmente consagrado à Virgem Maria sob esse título, culminando com o decreto que determinou sua coroação como “Rainha do Povo Gaúcho”

A coroação pontifícia, além de um ato litúrgico, simboliza consolo e esperança em um momento de reconstrução e fé para muitos gaúchos, especialmente após as chuvas que afetaram a região com enchentes em muitos locais.

1. Medianeira - Fundamentação Teológica

A Igreja reconhece em Maria o papel singular de Medianeira de todas as graças, associada intimamente à obra redentora de Cristo, único Mediador entre Deus e os homens (cf. 1Tm 2,5).

2. Rainha – Fundamento teológico.

A Tradição eclesial, confirmada pelo Magistério, celebra Maria como Rainha do Céu e da Terra, por sua maternidade divina, sua perfeita união ao Filho e sua participação no Reino de Cristo (cf. Lumen Gentium, 59). A realeza de Maria não é de domínio político, mas de serviço materno e de intercessão constante.

3. Santa Maria como centro de fé do Rio Grande do Sul.

Desde o início do século XX, o povo gaúcho manifesta sua fé e amor à Virgem sob o título de Medianeira, com centro de irradiação na cidade de Santa Maria. A romaria anual, iniciada em 1930, tornou-se a maior peregrinação mariana do estado, expressão visível de uma devoção profunda e perseverante.

Em 1930, o Papa Pio XI proclamou Nossa Senhora Medianeira Padroeira principal do Rio Grande do Sul, conferindo-lhe um vínculo especial com esta terra e seu povo. Ao longo das décadas, essa devoção cresceu como expressão da identidade religiosa e cultural do Rio Grande do Sul.

4. Sentido Pastoral Pastoral do título.

A proclamação de Nossa Senhora Medianeira como Rainha do Povo Gaúcho é um gesto pastoral de consagração e confiança. Reconhecemos nela a Mãe e Intercessora que acompanha nossas famílias, fortalece nossa fé, inspira a solidariedade e aponta sempre para Cristo, seu Filho e nosso Senhor.

Tal título é símbolo de unidade espiritual e convite a seguir o exemplo de Maria em humildade, fidelidade e serviço, para que a presença do Evangelho se mantenha viva nas cidades, campos e comunidades desta terra.


sexta-feira, 8 de agosto de 2025

80 ANOS DE HIROSHIMA E NAGASAKI - Os EFEITOS MORAIS DA BOMBA ATÔMICA. Selvino Antonio Malfatti

 


Estamos há 80 anos da primeira bomba atômica acionada nas cidades do Japão de Hiroshima e Nagasaki . A destruição física foi descrita por historiadores, economistas, populacionistas, ecologistas e outras especialidades. Falta refletir sobre os efeitos morais.

Para contextualizar.  Na década de quarenta a guerra na Europa seguia feroz e devastadora. Estados Unidos ainda não haviam entrado na guerra.  Os Aliados estavam esperançosos numa arma secreta, mas estava mãos dos Estados Unidos que estava fora da guerra. Por isso era preciso atrair os Estados Unidos para os aliados.  De repente e inesperadamente surge o motivo. Uma base naval americana Pearl Harbor no Havai é atacada pelas forças japonesas e o Japão já havia se declarado favorável à Alemanha e Itália formando o Eixo. Por causa do ataque, os Estados Unidos declaram guerra ao Japão e e firma aliança com os aliados. Na guerra com o Japão, Estados Unidos tinha duas opções: enfrentamento terrestre ou?! surgia a justificativa ideal para testar a nova arma e justamente longe da Europa, na Ásia.  

Com efeito, em 6 e 9 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram as bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Mais de 200 mil pessoas morreram, direta ou indiretamente, como resultado imediato ou tardio das explosões. Muito além da destruição física, os impactos morais se desdobraram ao longo das décadas.

A constatação mais elementar é de que na guerra não há limites morais. Tem razão é quem vence. O perdedor leva o ônus da culpa. No caso da Alemanha há consenso na atribuição da culpa, mas no caso das cidades do Japão pairam perguntas sem respostas até o dia de hoje; não estavam envolvidas na guerra, eram comunidades civis, nem sabiam do estado beligerante de seu país. Até seguras se sentiam por estar longe da guerra. Imagine estar na sua cidade, longe da Faixa de Gaza e Ucrânia e do nada cai uma bomba! Foi o que aconteceu com as cidades japonesas.

Qual lição foi tirada do “teste” Hiroshima e Nagasaki?

. medo: o mundo ficou temoroso com o futuro da humanidade

. precavido: foram proibidas as usinas nucleares para fins bélicos

. organismos: criaram-se organismos preventivos que evitassem a guerra como ONU, UE, OEA e OTAN

Enquanto isso os sobreviventes, hibakusha, continuam carregando as feridas físicas e morais da bomba, vítimas expostas dos conflitos de outros.

O impacto moral da bomba atômica permanece como uma ferida aberta na consciência humana. A reflexão sobre Hiroshima e Nagasaki transcende a história militar e pede-nos  uma resposta ética: como civilização, seremos capazes de aprender com o sofrimento e assumir um compromisso com a paz?

 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

ATUAÇÃO DO JUDICIÁRIO. Selvino Antonio Malfatti.

 



Em abril de 1892, Floriano Peixoto, presidente do Brasil, decretou estado de sítio. Prendeu os manifestantes e desterrou outros para a Amazônia. Quando Rui Barbosa ingressou com habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em favor dos detidos, Floriano Peixoto ameaçou os ministros da Suprema Corte: "Se os juízes concederem habeas corpus aos políticos, eu não sei quem amanhã lhes dará o habeas corpus de que, por sua vez, necessitarão".

Este episódio se refere a um ato ditatorial de um Presidente, detentor do executivo. Foi um ato arbitrário praticado por um dos poderes, o executivo. Acima dele, porém, havia outro poder, o judiciário. E foi para ele que Rui Barbosa apelou, uma instância superior.

Rui Barbosa (1849–1923), o maior jurista brasileiro, de renome internacional, apelidado de Águia de Haia, pela sua intervenção na Conferência de Paz de Haia, considerou a ditadura do judiciário como a pior das ditaduras, pois contra ela não há a quem recorrer. Quais os argumentos que apresentados por Rui Barbosa para justificar tal afirmativa?

Rui denuncia os abusos oriundos do sistema que deveria ser o defensor da justiça, mas a usa contra seus protegidos. Seria como um pai que em vez de defender sua família torna-se o carrasco dela. Um pai que em vez de escudo torna-se espada ferindo e matando seus filhos e esposa. A ditadura do judiciário numa instituição política corrompe a estrutura do estado de direito. Por que é tão letal o desvirtuamento do judiciário?

Ao contrário dos demais poderes, cujos abusos podem ser contestados judicialmente, não há a quem recorrer quando o Judiciário erra ou se torna tirano. A sua posição de guardião final da legalidade o torna praticamente inalcançável em termos de correção imediata, especialmente se a injustiça vem das instâncias superiores.

Quando o Judiciário deixa de ser imparcial e se submete a interesses políticos ou pessoais, compromete-se a confiança popular na Justiça, pilar fundamental da ordem democrática. Sem essa confiança, o tecido social se rompe, favorecendo a anarquia.

Um Judiciário autoritário é a perversão da própria a justiça. Impõe a sua vontade, muitas vezes em desacordo com a lei ou a equidade. A imparcialidade se converte em parcialidade institucionalizada, e o cidadão se torna vítima de decisões arbitrárias sem possibilidade real de defesa.

A tirania judiciária tem caráter duradouro e insidioso. Diferente de regimes autoritários políticos, que frequentemente enfrentam oposição e revoltas, a opressão judicial pode se perpetuar de forma silenciosa e legalista, mascarada de legalidade.

Quando o Judiciário usurpa funções legislativas ou executivas, ou age com conivência em prol de um grupo dominante, rompe-se o equilíbrio entre os poderes, abrindo caminho para o despotismo institucional.

Atualmente no Brasil há um clamor de vários setores contra a atuação do ministro presidente do judiciário. As acusações não são propriamente ao judiciário, mas ao seu presidente .

O presidente do SPF federal do Brasil vem sendo acusado de arbitrariedades acusado de perseguição política aos seus adversários, mormente a um ex-presidente. Afirmam que se comporta não como juiz imparcial, mas como filiado a um partido.

As principais acusações dirigidas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) dizem respeito à sua atuação firme no combate à desinformação, aos atos antidemocráticos e à responsabilização de figuras públicas e seus aliados. Críticos apontam uma suposta atuação parcial e autoritária. Os principais pontos dessas acusações incluem:

O presidente do STF  é acusado por opositores de extrapolar os limites constitucionais do cargo, tomando decisões monocráticas (individuais) que restringem liberdades, especialmente de expressão e comunicação.

Há críticas de que ele concentra poderes indevidamente, sendo ao mesmo tempo vítima, investigador e julgador em certos inquéritos (como o das Fake News e o dos Atos Antidemocráticos).

Decisões como a remoção de conteúdos ou canais, sem trânsito em julgado e com pouca transparência, são vistas por críticos como censura prévia.

Críticos apontam falta de contraditório e ampla defesa, pois os investigados não foram formalmente denunciados ou ouvidos previamente.

O inquérito é alvo de queixas por violação ao devido processo legal.

Após os atos golpistas em Brasília, o presidente  do STF determinou prisões preventivas, bloqueio de bens e suspensão de mandatos políticos.

Alguns setores questionam a celeridade e severidade das medidas, alegando perseguição a simpatizantes adversários.

Organizações e parlamentares internacionais, como integrantes do Partido Republicano dos EUA e ONGs ligadas à liberdade de expressão, criticaram algumas decisões vendo nelas viés autoritário.

Por suas decisões reiteradas contra aliados da direita é acusado por críticos de agir como um adversário político, e não como um juiz imparcial.

Há também críticas ao diálogo restrito com setores da oposição e à suposta convergência ideológica com partidos de esquerda.

O presidente do STF tem apoio expressivo entre instituições democráticas, como o Congresso Nacional, parte da imprensa e o Judiciário, que defendem sua atuação como essencial para conter ameaças à democracia e ao Estado de Direito no Brasil.

No entanto, órgãos internacionais, e nacionais, continuam clamando por justiça contra decisões. A mais recente e forte reação veio dos Estados Unidos ao sancionar o presidente do STF do Brasil com a Lei Magnitsky pela qual são punidos os dirigentes estrangeiros que violarem dos direitos humanos.

 

sexta-feira, 25 de julho de 2025

"A VIDA É BELA". Selvino Antonio Malfatti


 





Quem não viu o filme “A vida é bela” com o artista Roberto Benigni? Ele tentando salvar o filho transformava as situações mais dramáticas em cenas alegres e hilariantes como as gincanas cujo prêmio seria um canhão? Pois bem, agora Benigni, foi ao ar pela RAI externando a beleza da Europa através do programa e livro: “O sonho: a Europa despertou”. Neles apresenta uma Europa bela!

Há um detalhe que escapa a quem não sabe a língua italiana. O significado de “belo” no italiano. São dezenas e dezenas de sentidos. Lembro que minha esposa e eu viajávamos de trem pela Itália e estava escrito em todos os acentos do trem: il treno pulito è più bello. Ela me perguntou o que significava. Disse que a tradução era que o trem limpo é mais bonito, mas tem dezenas de outros sentidos. Apalavra “bello” em italiano é como “coisa” em português do Brasil. Pode usar para tudo.  A palavra diz tudo e não diz nada. É evanescente, abstrata. Sabemos o sentido no contexto, mas não sabemos o que seja. Para o italiano “bello” é a vida, ouvir música, escutar uma notícia, é um vestido, um filme, um olhar, sentir-se perto, amado, uma ideia e assim ao infinito. É uma coisa.

No monólogo na TV e no livro “A Europa desperta” Benigni defende uma união europeia bela. Quer uma União Europeia de identidade, valores, desafios. Para Benigni é maior utopia criada pelo homem nos últimos 5.000 anos. É um caso único da História.

A União Europeia foi fundada sobre os pilares da paz, justiça, liberdade, igualdade no núcleo da integração. Queria que os horrores da guerra fosse página virada.

Benigni ressuscita o sonho dos fundadores no seu Manifesto do Ventotene (1941), tendo como protagonistas Spinelli, Rossi e Colorni e mais tarde Alcide Degasperi. Seu sonho era uma Europa não de agora, mas futura, tal como a União Europeia de hoje.

Para tanto distingue nacionalismo e patriotismo. Patriotismo reflete um amor saudável e humano pelo país; o nacionalismo transita para o oposto — um amor cego e agressivo que pode mascarar intenções autoritárias alegando “amor à pátria”.

Os orçamentos europeus privilegiam mais gastos com armamentos do que o bem estar da população. Deve-se reverter. Para tanto  criar um exército europeu e com um parlamento efetivo. Isto aumentaria a união real.

A arte é uma língua universal e por isso deveria ser mais incentivada, pois traria mais amizade entre os povos. Benigni recorre à arte para reforçar a mensagem política — citando Chaplin e Eve Merriam, ele convoca uma retórica que vai além de “coisas que fazem as pessoas dizer ‘isso é uma m...’” e apontam para alternativas construtivas. Benigni faz um apelo poético-político: a União Europeia é um sonho valioso e uma necessidade histórica; fruto de valores humanos e da coragem que surge das crises. “Mas esse sonho exige coragem, fantasia, realismo institucional e um norte claro» — para que perante o nacionalismo e o ceticismo não se volte à barbárie. Se falharmos, “a alternativa será um conflito ilimitado”.

Enquanto refletia sobre a União Europeia me veio à mente o Mercosul, cambaleante, cheio de nacionalismos, egoísmos, rivalidades, egocentrismos. Cada um por si e os outros que se danem.

Faremos nós um dia um Mercosul belo?

sábado, 19 de julho de 2025

CENTENÁRIO DE LEONIDAS HEGENBERG. SelvinoAntonio Malfatti



Leônidas Hegenberg (1926–1999) foi um dos mais importantes filósofos brasileiros dedicados à filosofia da ciência, com grande influência na formação de professores, pesquisadores e pensadores ao longo da segunda metade do século XX. Nasceu em São Paulo, em 1926, e desenvolveu uma carreira marcada pelo rigor analítico e pelo compromisso com a educação científica e filosófica no Brasil.

Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), Hegenberg teve atuação marcante como docente e pesquisador. Ao longo de sua trajetória, lecionou em diversas instituições de ensino superior, incluindo a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a própria USP. Também colaborou ativamente com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), promovendo o diálogo entre ciência, filosofia e educação.

Sua principal contribuição intelectual está na análise lógica da explicação científica, inspirada no positivismo lógico, especialmente no modelo dedutivo-nomológico de Carl Hempel. Entretanto, sua obra não se limita a uma abordagem estritamente formal. Hegenberg também promoveu uma crítica à ideia de neutralidade da ciência, aproximando-se de temas como a influência ideológica no desenvolvimento científico e o papel social do conhecimento.

Sua obra mais conhecida, Explicações Científicas: Introdução à Filosofia da Ciência (1976), tornou-se referência nos cursos de filosofia e licenciatura em ciências, sendo ainda hoje reconhecida por sua clareza conceitual e profundidade analítica. Publicou também livros voltados ao público jovem e educadores, com a intenção de democratizar o acesso ao pensamento filosófico-científico.

Leônidas Hegenberg faleceu em 1999, deixando um legado duradouro na filosofia da ciência no Brasil. Sua obra continua sendo estudada e celebrada, especialmente por seu papel pioneiro na introdução de uma reflexão sistemática sobre ciência, tecnologia, ideologia e ensino.

Hegenberg contribuiu sobremaneira com a filosofia da ciência ao resgatar o que havia de aproveitável no positivismo. Este, originário de Comte, foi aplicado ao Brasil não de forma dogmática, mas adaptado à realidade nacional. No pensamento originário pensava-se que somente uma ciência observável sensorialmente explicava o mundo material e imaterial foi moldado por Hegenberg para a nossa realidade. Ele retoma o positivismo do Círculo de Viena filtrando-o através de uma reflexão crítica. Para ele o conhecimento baseia-se no empírico, mas não só. Há atividade da razão sobre ele nascendo daí uma filosofia sem ser metafísica, mas abstrata com ideias, abstrações conceitos e teorias sujeitas a contínuas revisões quando confrontadas com a realidade. Hegenberg, neste sentido, aproveitou o empírico depurado pela reflexão.

Os filósofos brasileiros reconhecem a importância de Leônidas Hegemberg na divulgação do pensamento científico bem como a reflexão sobre seu conteúdo. Destaca-se a forma como conseguiu incorporar o positivismo de maneira aceitável ao torná-lo um método para análise dos problemas de cada momento histórico. Disto resultou que o positivismo lógico e o neopositivismo tomaram nova forma nova com a incorporação da reflexão. Os estágios foram substituídos pelas etapas dando a entender uma continuidade e não ruptura, isto é, um estágio não necessariamente exclui o outro, mas o assimila desde que a metafísica seja excluída. Com isso abriu espaço para a antropologia, sociologia, arte, axiologia e outros campos do saber. Mostrou que além do empírico há outros mundos que podem ser explorados. Evidenciou ainda que fora das sombras da caverna há toda uma realidade iluminada pela razão.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

COLÓQUIOS BRASIL-PORTUGAL. Selvino Antonio Malfatti

 



Há anos vem se realizando colóquios entre Brasil e Portugal. Quando em Portugal (Tobias Barreto) e no Brasil ( Antero de Quental). Os colóquios entre Brasil e Portugal — que reúnem intelectuais, acadêmicos e pensadores dos dois países — têm como objetivo estreitar os laços culturais, filosóficos, literários e históricos entre as duas nações lusófonas.

Esses colóquios são simbolicamente associados a pensadores representativos dos dois países: Tobias Barreto (Brasil) e Antero de Quental (Portugal), que no século XIX protagonizaram o chamado “Diálogo Luso-Brasileiro”, ainda que nunca tenham se encontrado pessoalmente.

O próximo será realizado no Brasil, Rio de Janeiro:

XV Colóquio Antero de Quental

Quando: 16–18 de julho de 2025

Onde: Academia Brasileira de Filosofia – Rio de Janeiro

Tema: “Leônidas Hegenberg e a Filosofia da Ciência/Epistemologia no pensamento luso-brasileiro”.

Por que os patronos: Tobias Barreto e Antero de Quental

Tobias Barreto (1839–1889) foi um pensador brasileiro influente no campo do Direito, da Filosofia e da Literatura. Foi um dos principais nomes do Condoreirismo e da Escola do Recife, defensor da germanização da cultura brasileira e crítico do lusitanismo excessivo.

Antero de Quental (1842–1891), poeta e filósofo português, esteve envolvido com o movimento da Geração de 70 em Portugal, engajado em debates sociais, filosóficos e políticos, inclusive com influência do socialismo utópico e do pensamento europeu contemporâneo.

Eles travaram uma polêmica filosófico-literária por meio de artigos e cartas, especialmente sobre identidade cultural, influência europeia e autonomia intelectual. Esses debates inspiraram as gerações futuras e simbolizaram a busca de independência e diálogo entre as culturas lusófonas.

Os principais colóquios:

1. Colóquios Luso-Brasileiros contemporâneos

Nos séculos XX e XXI, colóquios luso-brasileiros vêm sendo realizados regularmente, envolvendo universidades, centros de estudos e institutos culturais como a Universidade de Coimbra, USP, UFPE, Fundação Calouste Gulbenkian, entre outros.

Principais resultados desses colóquios:

Fortalecimento do intercâmbio acadêmico e cultural

Acordos de cooperação entre universidades brasileiras e portuguesas.

Publicações conjuntas, como atas de colóquios, livros e revistas acadêmicas.

Mobilidade estudantil e docente (ex: programas como CAPES/FCT, Erasmus+, etc.).

Redescoberta de autores e pensadores

Revisão crítica da obra de figuras como Tobias Barreto, Antero de Quental, Oliveira Martins, Machado de Assis, entre outros.

Reinterpretação da herança luso-brasileira em áreas como filosofia, literatura, direito e política.

Discussão sobre identidade e língua portuguesa

Reflexões sobre o papel da lusofonia no mundo.

Questões sobre ortografia, diversidade linguística e ensino da língua portuguesa.

Discussões sobre pós-colonialismo, herança imperial e interculturalidade.

Temas filosóficos e sociais contemporâneos

 

Debates sobre ética, democracia, justiça social, direitos humanos, meio-ambiente e globalização.

Contribuições para o pensamento social brasileiro e português a partir de referenciais comuns.

Institucionalização do diálogo

Criação de centros e cátedras luso-brasileiras.

Encontros regulares, como os Colóquios Luso-Brasileiros de Filosofia, Congresso Luso-Brasileiro de Teoria e Filosofia do Direito, entre outros.

Conclusão:

Os colóquios entre Brasil e Portugal são espaços de memória, crítica e reconstrução do pensamento luso-brasileiro. Inspirados na figura de Tobias Barreto e Antero de Quental, esses encontros têm promovido a valorização da língua portuguesa, a integração cultural e o avanço do pensamento filosófico e científico em língua lusófona. O principal resultado é o reconhecimento mútuo da riqueza cultural compartilhada, mas também das diferenças que permitem um diálogo crítico e frutífero.

https://iflb.webnode.page/julho-2024-xv-coloquio-antero-de-quental/

 

sexta-feira, 4 de julho de 2025

A LINGUAGEM DO FUTURO. Selvino Antonio Malfatti

 



A tendência indica cenários de que no futuro falaremos como e com algoritmos. E provavelmente será inglês. Na verdade todos já estamos nos comportando um pouco chatot, mas felizes porque conseguimos entender a metalinguagem.

Num restaurante os personagens serão waiter e custumer e os conteúdos , order e meal etc. Não é diferente em viagens, congressos, aulas, nas ruas.

O Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano constatou que canais acadêmicos como Youtube estão usando repetidamente palavras como “meticulous", "kingdom", "deepen" and "expert (meticuloso, reino, aprofunda e especialista). Em poucos segundos nos tornamos especialistas em conteúdos que estudiosos de renome levaram anos para entender. Daí surge a pergunta: como agiremos no futuro? Manteremos algum elo com o que precedeu? Ou cortaremos totalmente os vínculos do mundo anterior à internet? Será que nos desvencilharemos e abandonaremos a carcaça pré-internet e flutuaremos livremente no mundo liquido, conforme Baumann?

A comunicação do futuro será digital e se resumirá em algumas palavras chaves usadas em qualquer ambiente, Duas pessoas falando uma ao lado da outra usarão seu tablete para dialogar em qualquer língua, pois o tradutor fará o translado instantaneamente. Adeus estudo de línguas. Basta saber uma que todos entenderão na sua própria. Repetir-se-á Pentecostes? Os apóstolos falavam hebraico e a multidão ouvia na sua própria língua.

Que fim levará a literatura? Praticamente todos os livros mais significativos estão disponíveis na internet. E os literatos? Basta pedir a IA qualquer conto com enredo e detalhes e formato, chamados de pronts, que em questão de segundos a Inteligência Artificial atenderá. E as enciclopédias servirão para mais nada. Qualquer celular com internet dispõe de todos os dados necessários. E as bibliotecas físicas? Tudo atualmente está online e qualquer computador tem acesso. Serão museus. E a Bíblia, o Alcorão, a Torá e os Vedas exibidos publicamente pelos pregadores. Todos online, os remanescentes físicos, relíquias do passado.

Conforme o fundador da Inteligência Artificial, Sam Altman, a mais terrível previsão prevista é a extinção de centenas de classes de empregos que serão substituídos pela IA. Serão eliminados como os acendedores de lampião do passado. Ninguém mais quer saber deles[i].

Abaixo uma tabela elaborada pela IA sobre o futuro de algumas classes de emprego.



Disso se pode concluir de momento:

“A sensação é de que tudo vai mudar para que nada mude: todos nós ainda pareceremos felizes no Facebook, todos de férias no Instagram, todos zangados no X, todos "especialistas" no TikTok, mas todos procurando um novo emprego no LinkedIn”. ( Massimo Sideri, Corriere dela Sera)

 



[i] A Microsoft anunciou nesta quarta-feira (2) que demitirá quase 4% de seus funcionários (6.000), no mais recente corte de empregos enquanto a gigante da tecnologia busca conter custos em meio a pesados investimentos em infraestrutura de inteligência artificial.

 

 

Postagens mais vistas