A propósito da reportagem da Veja “Alguém Vai Mentir para
Você hoje” gostaria de trazer alguns comentários: a mentira na política. Ela
tem alguns teorizadores, mas penso que os mais importantes sejam Maquiavel e
Hobbes. Tanto um como outro partem de pressupostos, e como tal preconceituosos,
sobre a política. O primeiro, Maquiavel, acha que em política tudo se resume em
conveniência e Hobbes em interesse, o que no fundo os dois conceitos se
encontram. Em Maquiavel o homem é mau e por isso precisa ser governado autoritariamente. Em Hobbes o Estado é bom e por isso deve governar absolutamente. O primeiro tem como leitmotiv a conveniência do governante, o
segundo o interesse do Estado. Por eles, o político pode mentir à vontade, sem
se preocupar com a ética. Vejamos como se expressam:
Em Maquiavel, encontram-se três princípios fundamentais,
ético-morais, que regem as relações políticas:
1º Indiferença moral. O governo e o governante devem
estar acima do povo e das questões morais. O fim sempre é o bem do Estado. E,
nesse caso, os fins justificam os meios. Não há um limite ou uma esfera
intocável ou, até mesmo, um conjunto de valores éticos consensuais. O
governante está autorizado a fazer tudo o que achar necessário para defender o
Estado. Ele não necessita ser justo, sóbrio, moderado, bondoso ou possuir
outras virtudes, basta parecer possuí-las.
2º A natureza humana é essencialmente egoísta. Os
indivíduos somente são bons por conveniência. O natural é a agressão mútua. Por
isso, há necessidade de um governante que os defenda. Todos sempre querem mais.
Ninguém se contenta com o que tem. O bom governante não deve reprimir esse
desejo inato, mas promovê-lo. É nisso que está o sucesso de seu governo. Se
todos progredirem o que for possível, tanto mais aceito será o governante. Além
disso, em decorrência do desejo de querer sempre mais, todos almejam viver e
ter propriedades. O governante deverá promover esse desejo e nunca se apossar
de propriedades dos súditos. É preferível que o governante mate, mas não roube.
As promessas somente fazem sentido enquanto durar a razão pela qual foram
feitas, isto é, a conveniência de mantê-las ou não.
3º Legislador onipotente. O governante é o legislador,
função esta que deve ser exercida por uma única pessoa, que, de preferência,
faça de imediato todas as leis, e que essas sejam boas, para não haver
necessidade de futuras reformas. Uma vez feitas as leis, elas devem ser
obedecidas. Por meio das leis, o legislador ou governante fará a sociedade.
Essa é a imagem de seu governante. Para tanto, deve manter uma força militar
para ter poder efetivo e manter o povo submisso.
Por isso, para Maquiavel, as leis são meras criações da
vontade de alguém. Não há, segundo ele, nenhuma relação com a ordem universal,
vontade divina ou expressão da natureza. Na introdução dos Comentários, diz que as leis não passam de sentenças dos jurisconsultos.
Para ele, portanto, as leis são de origem moral, isto é, dos costumes de uma
sociedade localizada. São, por isso, meras convenções ou instrumentos de que os
governantes podem lançar mão para poderem se manter no poder. As leis são
feitas pelo governante para que o povo as obedeça e, assim, seja feliz e livre.
Conforme Hobbes, deve haver um acordo artificial,
convencional, um pacto entre os homens para surgir a sociedade e a autoridade?
Porque os homens estão sempre envolvidos numa competição pela
honra e dignidade. Disso decorre a inveja e o ódio, e destes a guerra; entre os
irracionais não há distinção entre o bem comum e o individual. O homem, ao
contrário, só sente satisfação quando se compara com os demais, e percebe que
os superou. Entre os brutos, por lhes faltar a razão, ninguém se julga melhor
que o outro, enquanto que no homem há um desejo inato de uns se julgarem mais
sábios que os outros, uns mais capacitados que os outros. Cada um, portanto,
quer exercer o mando político. Os animais expressam pelos sinais o que de fato
vai pelo seu interior. O homem, nem sempre manifesta a realidade, muitas vezes
dissimulando as verdadeiras intenções. Nas criaturas irracionais basta a
satisfação para que não se ofendam. O homem, ao invés, quanto mais satisfeito
estiver, maior será sua ganância, e mais disposto estará para injuriar ou
danificar os demais. Sendo assim, a instituição da sociedade e governo, entre
os homens deve dar-se através da delegação de toda a força e poder a um só
homem, ou a uma assembléia de homens, e que reduza as diversas vontades a uma
só vontade. Destas teorias decorrem as duas mentiras em política: a primeira que o homem é mau e por isso precisa governá-los com mão de ferro. É a DITADURA. A segundo que o Estado é bom e por isso deve impor-se _a sociedade por todos os meios. É o TOTALITARISMO.
Verdade.
ResponderExcluirOs fins justificam os meios.e hoje nos sujeitamos as mesmas condições maquiavélicas.
ResponderExcluirAcho que Maquiavel era mesmo um grande sábio.
ResponderExcluirDitadura e totalitarismo são formas de governo que escravizam o povo. A ditadura destruiu e acabou com os líderes e jovens sonhadores.
ResponderExcluirMuito bem explicado,como sempre uma perfeita aula de ciência política.
ResponderExcluirUma boa recordação, conhecimento traz sofrimento.
Lendo e analisando deve ser a leitura preferida de nossos representantes.
ResponderExcluirConcordo é uma leitura muito interessante, afinal saber mentir e convencer é uma arte.
ExcluirMentira é mentira,destrói valores,corrompe,desorienta, sem contar que uma mentira leva a outras mais.
ExcluirCara falar de mentiras é complicado. Maquiavel está sempre no topo.
ResponderExcluirNem tão preconceituosos, bons observadores,
ResponderExcluirÉ incontestável como Maquiavel conseguiu conhecer e decifrar o ser humano. Foi um sábio.
ResponderExcluirSerá que os políticos fazem curso de aperfeiçoamento e aprofundamento na teoria de MAQUIAVEL?
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