sexta-feira, 27 de maio de 2011

MENSALÃO E TANGENTOPOLI - Iguais e Diferentes. Selvino Antonio Malfatti




Eu pensei que tivesse terminado. Mas, eis que não. No noticiário desta semana, um alto escalão do governo, está sendo acusado de envolvimento em denúncias de corrupção. O mesmo ministro também está ligado ao processo de corrupção do Mensalão, Agora aparece como aproveitador de tráfico de influências e informações privilegiadas, usadas em proveito próprio conseguindo ganhos bilionários nesta atividade. 
 Chamam a atenção as semelhanças do húmus fértil onde germinou a  corrupção nos escândalos de Tangentopoli – Itália – e do Mensalão – Brasil. Naquele país, Tangenti eram propinas cobradas pelo partido para liberar empréstimos, vencer licitações ou qualquer operação que envolvesse valores. Como a maior parte acontecia em Milão, passaram a chamá-la de “cidade das tangentes ou Tangentopoli.
No Brasil, o Mensalão era uma soma – além do salário - depositada na conta dos parlamentares aliados do governo. O partido tinha um tesoureiro encarregado de cobrar propinas de empresários ou de firmas em troca de favores. Em ambos, Tangentopoli e Mensalão, houve o patrocínio e o manto de um partido acobertando as atividades ilícitas. Mas o que mais impressiona são as diferenças de rumos que cada um deles tomou e das medidas adotadas depois que tudo foi descoberto.
Os dois se propunham a uma revolução ética quando chegassem ao poder nacional. Contrapunham aos demais partidos, chamados de corruptos, um governo de honestidade. Contra o capital explorador uma justiça do trabalho, contra a presença maléfica estrangeira uma soberania nacional. Contra a democracia burguesa, a democracia participativa, contra o descaso com o funcionalismo, uma justa remuneração. Contra o mercado, um Estado regulador e contra as multinacionais, só empresas nacionais. Um governo de felicidade e bem estar para os menos favorecidos com emprego, educação, saúde e habitação.
Seus programas estavam impregnados de conteúdos morais e por causa disso mereceram a esperança das classes médias e pobres. Foram ungidos com os votos e lhes foi entregue o poder. Mas pouco a pouco, como na Revolução dos Bichos, de Orwell, no início vão se permitindo alguns leves desvios, apoiando-se no princípio de “sem excessos”, até a permissividade  total.  
Os dois partidos foram pilhados com a mão na botija. A partir daí começam as diferenças de rumos. Os envolvidos da Itália foram levados para os tribunais, interrogados e, se culpados, foram parar na cadeia. Na Brasil, esconderam-se atrás do privilégio da imunidade ou de foros especiais. Na Itália encerraram a vida política. No Brasil receberam cargos em estatais ou outros órgãos e continuaram tranquilamente a exercer suas “atividades”. Na Itália, o próprio partido se autodissolveu tamanha a pressão popular e rejeição eleitoral. No Brasil, o partido reelege e elege o presidente por meio de ações populistas, como Bolsa Família. Na Itália o desfecho foi “mani pulite” (mãos limpas), no Brasil o que poderia ser o equivalente, Ficha-Limpa, foi sepultada pelo próprio Superior Tribunal Federal ao adiar a aplicabilidade.
Mas isto não admira, pois, na Itália, um terrorista condenado à prisão perpétua por crimes comuns, no Brasil, este mesmo indivíduo, é agraciado pelo próprio ministro da justiça com asilo político...

12 comentários:

  1. Sempre quando nos deparamos com tais notícias sentimos -nos enganados e,pior ainda des respeitados como cidadãos.A forma como o ministro se posicionou é uma afronta ao trabalhador que paga seus impostos,ser bem pago é relativo,afinal informações,são moedas de troca,´privilégio do ministro,que ora precisa do ex presidente para defende-lo. Talvez se o M.P.F. resolver averiguar haverá grandes surpresas. Empresas trabalham para ter lucro e,quando fazem doações para candidatos esperam retorno,aí começam as concorrências que beneficiam determinados setores,prática existente durante a ditadura e,que beneficiou as grandes construtoras.Hoje estamos numa democracia plena,precisamos amadurecer,tirar proveito das lições do passado,focarmos nos bons exemplos como no mesmo caso na Itália.Chega de tirar vantagens,sorrisos irônicos,leis que não são cumpridas,desrespeito com os semelhantes...Até Cristo em sua Santidade resolveu por ordem no templo.

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  2. Ordem esta é a palavra chave,precisamos voltar e reconhecer que perdemos valores,uma geração tem obrigação de deixar para seus descendentes o que está em extinção ética,ética,ética.

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  3. Falar o quê,quando tudo virou negocio,o PMDB que se dizia guardião é hoje um grande negociador.

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  4. O ex-deputado Ciro Gomes afirmou ontem, em Fortaleza, que o ex-presidente Lula 'cometeu um erro' ao ir a Brasília intermediar a negociação do governo com a base aliada no auge da crise política envolvendo o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. 'Se quer ajudar (a presidente), passa um telefonema'', afirmou Ciro. E acrescentou: 'O Brasil não pode ficar refém de um só pessoa, ficar na dependência do Lula, do Ciro, da Dilma'. Para ele, a atitude de Lula tirou capital político da presidente.

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  5. É um momento triste para nossa história pois,quando o governo deveria agir com rigor vem o Lula para fazer uma defesa capenga....perde-se a oportunidade ....e onde estão as leis que deveriam ser cumpridas.

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  6. Os senadores Pedro Simon (RS) e Luiz Henrique (SC) reafirmaram o compromisso de não assinarem o pedido de CPI contra Palocci enquanto o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não se pronunciar sobre o assunto. O senador Roberto Requião (PR) reiterou a disposição de assinar o requerimento. E Jarbas Vasconcelos (PE), favorável à CPI, não compareceu ao jantar.

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  7. Espera. O senador Walter Pinheiro (PT-BA), um dos primeiros a cobrar explicações do ministro, afirmou que a crise só aumentará enquanto Palocci não esclarecer a multiplicação de seu patrimônio em 20 vezes, nos últimos quatro anos. 'Quem está em cargo público tem de dar esclarecimentos públicos. Ou faz isso ou deixa o cargo', ressaltou. 'Estamos aguardando as manifestações do ministro há duas semanas. Esse tempo só tramou contra ele, o PT e o governo.'

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  8. Todo este envolvimento do ministro Palocci está enfraquecendo e talvez dê um racha no PT,fortalecendo o PMDB.Melhor esclarecer afinal, o silêncio não é a melhor tática.Silêncio dá margem a muitas interpretações.........

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  9. A propósito, dizia meu pai que era agricultor: raposa não adianta espantar. Se não mata, volta sempre ao galinheiro.

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