quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Ano Novo. José Mauricio de Carvalho - Departamento de Filosofia da UFSJ

 


A contagem do tempo em anos é a forma humana de melhor identificar o que passou e colocar os fatos na ordem em que ocorreram. É mais simples localizar e ordenar os acontecimentos dessa maneira, situando-os nos séculos e lugares do mundo. Contudo, a celebração de cada novo ano no calendário solar mostra que vivemos no tempo com os olhos e a esperança no futuro. Já houve época em que a esperança era alimentada por ilusões. Hoje estamos mais maduros, não podemos nos iludir de que esperança se separe do compromisso de fazer boas escolhas e realizar com qualidade nossos trabalhos. Quando avaliamos que a vida é produto das escolhas, temos que assumir com responsabilidade a criação do futuro. O que vem não é mera continuidade ou repetição do passado.

Se a vida um que fazer contínuo, isto é, proceder escolhas todo tempo em meio à insegurança desse processo, então viver é olhar o horizonte. Olhar o futuro a partir de qual ponto? Do presente pessoal e do da sociedade. Escolhe-se, especialmente, pelo que se projeta além desse presente, pelo que dá sentido a ele, pelo que lhe enche de esperança. Entretanto, se o futuro não é continuação do já vivido, não se pode sonhá-lo sem considerar nossa história, sem o impacto e a incorporação do passado.

O ano novo virá para nós com novas realizações, novas pessoas, novas tecnologias, novos conhecimentos, novas criações, novas crenças, enfim, muitas coisas novas. Mas esse mundo antevisto nos sonhos de esperança não é produto do acaso, ele é criação do homem iluminado por um projeto. E que mundo é esse a surgir na esperança de hoje? É um mundo capaz de vencer a violência das cidades, de assegurar dignidade a crescente número de pessoas, de superar guerras e revoluções como solução para as diferenças políticas. Violência que cresce quando queremos uma vida mais rápida do que ela pode ser experimentada, quando aspiramos mais coisas do que somos capazes de adquirir e o mundo de fornecer, quando perdemos o afeto nas relações e o sentido da dignidade no trato com as pessoas. O presente vivido na pressa, dirigida para o consumo ansioso e sem obrigação da excelência numa vida autenticamente nossa, é tempo de violência, de corrupção, de drogas, de insatisfação e de gozo irresponsável.

Não quero apenas desejar um feliz ano novo, é necessário pedir que todos o construam mais próximo de nossa esperança, realizando responsavelmente seu trabalho, vivendo relações pessoais mais iluminadas pela amizade e benevolência, descobrindo o significado particular e o sentido da própria vida.

E se reconheço que a vida que me anima é semelhante, mas não igual a dos animais que diariamente estão à minha volta, se essa diferença dos outros seres vivos nasce da fé e esperança em Deus, não importa o nome de Deus ou a forma como Ele seja cultuado, então a obrigação de renovar o mundo, aquele compromisso mencionado no parágrafo anterior, ganha uma outra justificativa. Nessa fé nasce um pacto não só com a humanidade presente em cada homem, mas com Deus que espera nossa colaboração para fazer o sol nascer, todos os dias, sobre um mundo melhor. Então toda história da humanidade, que não está além dos fenômenos experimentados, torna-se transfigurada e iluminada pela esperança capaz de vencer a insegurança, a ruína, a angústia e a morte.

Façamos um 2014 feliz, pois não se justifica a esperança que não nasce do reconhecimento da dignidade humana e da responsabilidade pessoal pela construção de um futuro melhor. Pois esperança não é otimismo ou ingenuidade, esperança é responsabilidade, é esforço consciente para mudar o futuro, dedicação ao que nos distingue dos outros entes.


sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O aniversário de Jesus. José Mauricio de Carvalho

 



Convencionou-se considerar 25 de dezembro a data do nascimento de Jesus. Pela descrição bíblica do fato, encontrada no evangelho de Lucas : (2,1-14), provavelmente o nascimento de Jesus deu-se em março. Em dezembro não haveria pastores no campo, devido à temperatura estar muito baixa para permanecer no campo. O que importa não é, nesse caso, a exatidão histórica do fato, mas que 25 de dezembro foi escolhido para comemorar o fato de que Deus enviou ao mundo seu Filho.

Nele se cumpriram as promessas e profecias do Primeiro Testamento e pela fé Nele a civilização ocidental cristã se consolidou assumindo os valores que ele deixou, em especial o pano de fundo do amor aos outros homens que que é a dignidade de cada um. O reconhecimento dos valores cristãos não significa, contudo, que eles sejam sempre cumpridos, ao contrário, vivê-los não é fácil. Difícil também são as obrigações com o próprio Deus, porquanto amá-lo sobre tudo o mais também exige esforço.

O cristianismo emergiu do povo judeu e introduziu na cultura ocidental um extraordinário mistério, um Deus em três pessoas. Esse povo desde sua origem acreditava num Deus pessoal e único, razão da sua vida. Aquele que tirou o povo do Egito, deu-lhe terra, leis e, finalmente, a promessa de um Enviado. Esse povo era o menos propenso a propor uma divindade com mais de uma pessoa ou de um Deus que, altíssimo em sua dignidade, pudesse se apresentar como homem. Não parecia razoável nascer como homem, sofrer como homem e, finalmente, morrer como um. No entanto, entre pessoas de extrema fé judaica é que surge essa boa e surpreendente notícia, uma proposta de vida, o anúncio de um Reino no qual as contradições humanas encontram resposta na transcendência e imanência do Deus Altíssimo, que se fez homem e veio morar conosco.

Maravilha de simplicidade e mistério profundo esse Deus. O menino cujo nascimento se comemora agora traduziu todo o programa de fé do primeiro testamento (não terás outro Deus, não tomarás seu nome em vão, honrarás teu pai e tua mãe, não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não darás falso testemunho, não desejarás as coisas do próximo) em dois princípios singelos e radicais: ame a Deus e ao próximo. Ame não apenas como no livro do Levítico

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo,” (Levítico 19,18) mas com maior exigência: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei!” (João 13,34) e naturalmente aquele outro e o primeiro mandamento que se resume em não ter outro Deus diante de ti a quem sirvas. Deus pede o melhor de nós.

 

O resumo de Jesus da mensagem do Primeiro Testamento é claro, como firme são suas orientações. Ao assumir a mensagem cristã não se pode invocar Deus contra os irmãos, não se pode invocar Deus contra seu próprio caráter, não se pode usar o nome de Deus para dividir, mentir ou discriminar. Deus está acima da razão, mas não age de forma irracional, brutal, violenta ou mercenária. O Reino de Deus cresce na paz e não na guerra, nem no conflito, terrorismo, radicalismo ou ignorância, que é pior quando vem dos próprios religiosos.

 

Num século em que vemos os dias repetirem o pior do passado recente, quando as teses nazistas se espalham no ar, será preciso cuidado para que o futuro não repita o passado, mas aprenda a evitar o que ele teve de ruim. Para que nosso futuro não tenha novos Auschwitz, que não foi simplesmente o genocídio de milhões de pessoas, mas uma proposta violenta de tratar homens como coisas. O nazismo fez isso retirando de cada homem a dignidade e o valor que o Filho de Deus veio anunciar. Nenhum homem é uma vida indigna. Que este seja um natal de paz e alegria aos homens justos e de boa vontade.

 

 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

AS COTAS QUE IMPEDEM A JUSTIÇA E A IGUALDADE. Selvino Antonio Malfatti

 



 

Cada país tem seu problema peculiar para justificar as quotas e com isso cria argumentos próprios. Na França, por exemplo, é a super-representação nas escolas públicas dos filhos de executivos e para tanto se deve aumentar a proporção de alunos de origens menos privilegiadas. Não são propriamente quotas, mas proporções de porcentagens de participação. Na Itália, o receio da prevalência de estrangeiros sobre nativos em escolas públicas limita a matrícula daqueles, neste caso também não quotas mas proproções.

No Brasil argumenta-se que a desigualdade entre negros e brancos cria uma desproporção de matrículas em universidades,  embora a população de ambos se iguale.  As cotas corrigiriam a “injustiça”, igualando-os numericamente. Aqui teríamos caracterizadas as quotas.

Qualquer sistema avaliativo deve se alicerçar sobre a igualdade de condições na busca do bem. Além disso, numa divisão de bens o favorecimento de alguém não deve prejudicar outro. Numa divisão de vagas, por exemplo, reservar vagas para grupos não pode prejudicar outros. Se alguém for favorecido não pode implicar no prejuízo de outros. Ao atribuir uma vaga a alguém considerado minoria, não pode prejudicar outros que não pertencem a esta minoria.

Poder-se-ia partir de um exemplo. Em uma universidade há X vagas, isto é, X bens pretendidos. Suponhamos 100 (cem). A ela concorrem 200 pretendentes. A relação entre vaga e concorrente é de 2 candidatos para uma vaga, ou 2 por um.  Cada vez que uma vaga é preenchida por alguém diminui geometricamente a quantidade de vaga. As vagas estão na ordem aritmética e os pretendentes na ordem geométrica. Diminuindo uma vaga a porcentagem em relação aos candidatos diminui geometricamente. Ex. 100 vagas e 200 candidatos, a relação é 0,5 por vaga. Mas se diminui uma vaga e um candidato a relação será menor, isto é, 0,4974, se diminuir novamente um de cada, a relação será 0,4949...Bastaria inverter a relação que ficaria mais claro. Se houvesse mais vagas que pretendentes inicialmente, embora se diminuíssem as vagas, ainda sobrariam para todos os pretendentes.

Nas cotas ninguém é contra a intervenção para subsidiariedade. O que não pode acontecer é que, ao favorecer alguém, se prejudique outro. Impedir a outro de ter acesso ao bem, no caso a vaga. Então, qual seria a solução? 

Criar NOVAS VAGAS para subsidiar quem mais precisa e não consegue competir em igualdade de condições. Seria introduzir mais vagas destinadas a estes. Com isso se atenderia à necessidade sem prejudicar ninguém.

- Quem são os cotistas:

1. São considerados cotistas todos os candidatos que cursaram, com aprovação, as três séries do ensino médio em escolas públicas. ...

2. Outros exemplos: matrícula no SISU/UFSM

. Estudou os três anos em escola pública

- Renda per capita de um salário mínimo

- Declara-se preto, pardo ou indígena?

- Tem deficiência?

Percebe-se que o critério para ser cotista é subjetivo. 1. Estudar em escola pública – Pode alguém estudar em escola privada e pública ao mesmo tempo. E mais: qual a razão para discriminar o ensino privado em relação ao público?  2. Renda de um salário mínimo. Alguém pode ter um contrato de salário mínimo e ao mesmo tempo ser grande executivo. 3. Negro, pardo indígena. Dispensa comentários, pois não resiste à mínima crítica. Por que discriminá-los? 4. Deficiência? Somente seria justa quando a deficiência física impede o desenvolvimento intelectual. Bastaria citar Stephen William Hawking: deficiente fisicamente, mas gênio intelectual.

Em última analise enxerta-se o preconceito: branco tem posses ganhas ilegitimamente e não branco é pobre por exploração do branco. Não pode acontecer que um não-cotista branco, pobre perca a vaga por um cotista pardo, mas de posses??

Para se atingir a justiça é necessário garantir a igualdade de acesso. Com este objetivo estabelecem-se critérios para preencher as vagas. São os critérios da competição. Para o mesmo objetivo não pode haver dois critérios. Se para alguns é a competição e para outros a cor fere-se a igualdade e consequentemente a justiça. Estes critérios devem resguardar a igualdade à medida que todos igualmente podem chegar à vaga para evitar a injustiça. Digamos que o critério da competição seja o científico, isto é, uma classificação pelo desempenho do mérito. Estabelecido este critério, ele deve valer igualmente para todos. Qualquer privilégio cerceará a liberdade individual e provocará uma injustiça, isto é, não se atende à igualdade.

Se ao processo se estabelecerem critérios privilegiados que excluam alguns, infringe-se a igualdade por que já não permite a igualdade de condições da competição perante o bem, a vaga. Se nos apossarmos de algumas vagas para atribuí-las a candidatos fora do critério estabelecido, estamos claramente infringindo o princípio da igualdade, pois só alguns e não todos podem ter acesso a tais vagas separadas do global e destinadas a alguns. Por isso, devem ser criadas vagas fora da competição. 

Não estamos defendendo a condenação da subsidiariedade. Esta é válida. O que não é válido é misturar os critérios de acesso para iguais e desiguais, se isto acontecer. Pode-se comparar às competições olímpicas. Existem critérios para as olimpíadas e às paraolimpíadas, cada categoria abrigando suas peculiaridades.  Ambas são iguais cada um na sua especificidade.

O que se pretende é que se faça justiça respeitando as diferenças. Não seria distinção de raça, crença, status socioeconômico como se pretende atualmente no sistema de cotas. Isto leva à discriminação e com ela o desrespeito à igualdade ou democracia. Se se quisesse instituir critérios diferentes de acesso a vagas dever-se-ia instituir diferenças específicas, cada uma com seus critérios de seleção. O próprio candidato escolheria a que modalidade específica gostaria de competir e nela concorreria nas suas categorias: vagas para cotistas e não cotistas, independentes umas das outras e com critérios seletivos também diversos.

O que não se deve é introduzir critérios diferentes dentro da mesma especificidade criando privilégios para categorias como está sendo feito atualmente, instituindo distinção de cor, status socioeconômico, etnia e gênero, discriminação condenada pela justiça e pelo direito.

COTAS SEM JUSTIÇA É O MESMO QUE DESPIR UM SANTO PARA VESTIR OUTRO.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

POR QUE O CRISTIANISMO NÃO ATRAI MAIS OS JOVENS. Selvino Antonio Malfatti.

 


                 Papa João Paulo II e o cardeal Martini em1988 
                     https://www.corriere.it/cultura/

Aproxima-se a Festa de Natal, o advento do Cristianismo. Há uma ideia generalizada de que o Cristianismo não é mais aquele do tempo de seu fundador. Por motu proprio a Igreja católica promove uma crítica sobre si mesma através de dois grandes líderes, ambos cardeais: Cardeal Carlo M. Martini e o jesuita austríaco George Sporschill

A obra "Diálogos Noturnos em Jerusalém", (Cardeal Carlo M. Martini e o jesuita austríaco George Sporschill), discutem a questão conversando entre si em Jerusalém. A constatação é que a Igreja perdeu muitos jovens atualmente e a proposta é como reconquistá-los novamente.

Os autores tomam consciência do problema e fazem uma ilação hipotética perguntando: não seria uma tendência da fé e da Igreja no ocidente a caminho do desaparecimento? Quais as razões para tal estado?

1.         Indiferença. Esta surge por que a fé e com ela a Igreja, não influem mais em nada. Não curam doenças, não proporcionam ascensão econômica, não realizam bem estar socioeconômico. E não livram da morte. Se a Fé e Igreja desaparecessem nem seriam notadas. O que um jovem escolheria: um sacerdote, músico ou jogador.

2.         Aparato externo. A Igreja está se dando maior importância do que realmente tem.  Um professor colega de universidade, cônego da Igreja Anglicana, costumava dizer: a Igreja é como uma velha senhora que mora num castelo fora da cidade e pensa que ainda manda em todo mundo. Os jovens até mesmo ignoram esta senhora.

3.         “Sonhei com a Igreja...” diz Martini. Desilusão diante do que esperava e do que recebia. Queria autenticidade, humildade, fé e em vez, dissimulação, arrogância e ceticismo. Nada mais afasta os jovens que esta realidade anacrônica. Além disso, os jovens querem espaço para se manifestarem e não ouvirem como é atualmente.

4.         Clero. Primeiramente seu número diminui dia a dia. Boa parte, no seu agir, está mais à procura de bem estar material do que a vivência da fé.

5.         Pedofilia e sexo. Os jovens, sempre prontos para criticarem,  aceitam com tolerância seus próprios comportamentos relativos a sexo, mas não toleram desvios da Igreja. Este é um dos grandes problemas: "a Cruz da Igreja é o sexo". Não é de hoje, mas parece que nunca foi tão explícito.

6.         Imediatismo. Tanto a Igreja como os jovens já não suportam mais as contradições. Querem de imediato a verdade, enquanto a verdade está precisamente na contradição.

7.         Desatualização. A Igreja está atrasada em duzentos anos. Quem quer pertencer à alguma  sociedade retrógrada? Espanta a todos, principalmente os jovens que preferem o amanhã e vez do hoje e nunca o ontem.

8.         Família. Na atualidade o sentido de família não se parece nem um pouco do que era no passado.

a)        A característica principal era a unidade física que se estendia a outras dimensões. O compartilhamento do mesmo teto correspondia aos mesmos sentimentos, cultura, religião, economia. Havia divergências, mas eram exceções. A unidade física se estendia sobre os demais aspectos. A fé na maioria das vezes era o cimento da união.

b)        Dispersividade. Atualmente a família não passa de um condomínio de pessoas que diferem radicalmente umas das outras. O casal entre si, filhos entre si, casal entre filhos. Não é mais fé. Com poucas exceções, para os jovens a fé é a última na escala de valores

9.         Política. Há um tendência sempre mais crescente de a Igreja ter opções ideológicas, principamente fora do Primeiro Mundo. Nada mais contraproducente para a fé dos jovens. 

10.       Fé e preferâncias. Atualmente os jovens se servem do que lhes agrada na Igreja. Um verdadeiro self-service ou buffet. 

11.         Liberdade. A ideia de liberdade entre os jovens é entendida como ausência de limites religiosos, morais e legais, Seria o sentido etimológico de anarquia.

Estas seriam as causas do abandono da Fé e da Igreja por parte dos jovens. Como reverter este quadro? Os autores teriam uma resposta?

sábado, 4 de dezembro de 2021

Quando a inteligência se torna adversária dos governos. José Mauricio de Carvalho

 



Muitas vezes na antiguidade os relatos dos fatos históricos acompanharam o interesse das dinastias que dirigiam as grandes civilizações. Os relatos daquele tempo enalteciam os feitos do rei e contavam os fatos de forma tendenciosa. A construção do que se chamou ciência histórica, na antiga Grécia, iniciou um esforço de objetivação no tratamento dos fatos. A interpretação deles é inevitável, mas não pode mudá-los apenas ajudar a melhor compreendê-los.

Ao longo dos tempos a interpretação e compreensão dos acontecimentos mudaram, mas a ciência histórica se consolidou reconstruindo o discurso e compreensão dos fatos passados à medida que obteve melhor informação sobre eles. Mesmo quando novos informes e dados sobre os acontecimentos foram identificados, a ciência histórica não prescinde das fontes primárias e das evidências que consegue reunir, por exemplo, da arqueologia, arquivística, química e de outras ciências que auxiliam na ampliação e melhoria da compreensão dos fatos e objetos históricos. Por isso, o cuidado e a preservação dos documentos e objetos são fundamentais para que a compreensão dos fatos possa ser desenvolvida e ampliada no futuro. Dessa forma, o passado pode ser continuamente revisado e melhor entendido, oferecendo novas lições às sucessivas gerações de homens.

Se a preocupação com a objetividade não foi marca na antiguidade, poucas vezes no mundo moderno o desprezo à inteligência, aos documentos e fontes históricas ocorreu, somente sendo observado em governos totalitários. Não é desconhecido que no início do governo nazista, durante o ano de 1933, simpatizantes e forças paramilitares daquele governo destruíram documentos e livros (Bücherverbrennung) sob os olhares complacentes das autoridades do Estado, sem que nada fosse feito para impedir essa ação contrária à inteligência. Naquele momento muitas obras fundamentais da cultura foram queimadas, como os trabalhos de Freud, somente salvos porque haviam deles cópias em outros países. Também não é desconhecida a perseguição religiosa e a mesma atitude ideológica contra a ciência e o livre pensamento na antiga União Soviética. Hoje, porém, o comunismo é coisa passada, não é ameaça real, o que não se pode dizer da extrema direita.

O pano de fundo da ação nazista foi a mentalidade autoritária do partido que, contra qualquer crítica, impunha violenta repressão e condenava todo discurso que se desviasse dos seus padrões e orientações. A justificativa para essa destruição da cultura e para a suspensão do debate foi elaborada por adeptos do regime como o poeta Hanns Johst. Os ideólogos nazistas diziam que era necessário preservar a pureza da cultura germânica de tudo que a pudesse transfigurar. Os ideólogos do novo governo também se especializaram em espalhar notícias falsas (hoje denominadas fake news) para fortalecer e justificar a ideologia imposta pelo governo. Dessa forma, instituições como as chamadas fraternidades, o Destacamento Tempestade (SA) e a Tropa de Proteção (SS) do governo participaram da barbárie disputando entre si quem queimava mais livros.

Dessa forma, a história ensinou que, no mundo contemporâneo, as experiências não democráticas vêm acompanhadas da destruição da inteligência, da verdade, das artes, da filosofia, pervertem e desmontam a ciência, enfim destroem muito ou de quase tudo que torna a vida bela, plural, interessante e humana. Governos autoritários e de massa desprezam a inteligência e a perseguem, adoram os relatos rasos, a vida medíocre, a mentira e uma religiosidade tosca. Não se pode desconhecer também que embora a igreja católica ficasse oficialmente fora da perseguição nazista, milhares de religiosos e sacerdotes que contestaram a brutalidade e ignorância dos nazistas em nome dos autênticos princípios cristãos foram silenciados ou mortos.


sexta-feira, 26 de novembro de 2021

ELEIÇÕES DE 2022 - AS PROPOSTAS DE SÉRGIO MORO. Ricardo Vélez Rodríguez

 


                                        SERGIO MORO

O EX-MINISTRO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA, SÉRGIO MORO

 

É saudável, para a democracia, o debate ao ensejo das eleições, especialmente as presidenciais. Muitos acham que debate é coisa ruim, equivalente a uma briga. Ora, precisamos saber que o debate é essencial à vida democrática. Como na sociedade não há unanimidade e tudo se constrói pelo caminho da negociação entre interesses diversos, sem debate não haveria o necessário consenso. No caso das eleições presidenciais, o debate deve ser presidido pela discussão dos temas presentes nos diversos programas. É ruim para a vida democrática o clima de “já ganhou”, que muitos utilizam para potencializar a expectativa do seu respectivo candidato. Ora, pesquisas eleitorais jamais podem substituir a decisão das urnas. O debate claro e aberto entre as várias propostas é vital para a preservação da democracia. Infelizmente, na nossa história republicana, temos tido vários períodos autoritários que são responsáveis pela pouca valorização dos debates, ao ensejo da tentativa de alguns espíritos absolutistas de querer impor os seus pontos de vista e os seus candidatos. Contra esse clima de intolerância e de falta de lucidez é necessário reagir com força.

O fato de termos a nossa preferência num pleito eleitoral, não nos exime do esforço de conhecer os programas dos demais candidatos. Liberal-conservador por convicção, para o pleito do ano que vem tenho o propósito de conhecer os programas dos vários candidatos. Claro que escolherei aquele que melhor se afinar com as minhas prioridades axiológicas e com a defesa dos meus interesses. Mas, como professor, esforçar-me-ei, também, por conhecer os demais programas, a fim de conversar sobre esse tema com os meus alunos, amigos e conhecidos.

O primeiro plano de voo que me vem às mãos é o do ex-ministro Sérgio Moro, a quem conheci no primeiro gabinete do atual governo, como ministro da Justiça e Segurança Pública. Eu ocupava o cargo de Ministro da Educação. Durante a Transição e ao longo dos três meses que permaneci no governo, tive a oportunidade de conversar com o Ministro Moro sobre assuntos que tangiam à minha pasta e colaborei com ele na discussão das suas propostas acerca do Projeto de Política de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, que seria apresentado ao Presidente Bolsonaro, para ser encaminhado ao Congresso.

De outro lado, cumprindo com a promessa que eu tinha feito quando tomei posse, no sentido de coibir as práticas administrativas corruptas, foi assinado por mim, em 14 de fevereiro de 2019, um Protocolo de Intenções junto com o Ministro da Justiça e Segurança Pública, com o Ministro Wagner Rosário da Controladoria Geral da União, com André Mendonça, titular da Advocacia Geral da União e com a participação do Diretor Geral da Polícia Federal. Do Ministro Moro recebi atenção especial na confecção e debate desse Protocolo, que foi denominado de “Lava-Jato do MEC” e que visava a identificar irregularidades na gestão de algumas repartições do Ministério.

Passo, a seguir, a mencionar e analisar, brevemente, os pontos que me pareceram mais destacados no discurso de Sergio Moro, quando da sua filiação ao Partido Podemos, em Brasília, no dia 10 de novembro deste ano.

1 – “Para que possamos demonstrar com sinceridade o nosso desejo de reconstruir o País e de reformar as instituições, nós precisamos provar que estamos dispostos a sacrifícios”.

Nesse contexto, Sérgio Moro propôs que a classe política deixasse de ter como foco aumentar o seu poder ou os seus privilégios, passando a cuidar do bem comum e do interesse público. Para tanto, ele propôs o fim do foro privilegiado, que trata o político ou a autoridade “como alguém superior ao cidadão comum”. O foro privilegiado “não deve existir para ninguém e para nenhum cargo, nem para o presidente da República”. Quanto à reeleição para cargos no poder executivo, devemos admitir que é uma experiência que não funcionou em nosso País. Nesse contexto de igualdade democrática, Moro propôs o fim da reeleição “para cargos no poder executivo”.

2 – “A Petrobrás foi saqueada, dia e noite, por interesses políticos, como ‘nunca antes na história deste País’ ”.

A consequência direta desse fato criminoso é, hoje, uma persistente recessão provocada pelos mesmos governos que permitiram tudo isso, com as pessoas comuns desempregadas e empobrecendo. Pode Lula falar no Parlamento Europeu quanto quiser, que os seus desfeitos para com o Brasil não desaparecerão da memória coletiva num passe de mágica. Pior: estão trazendo, como consequência catastrófica, dor, frustração, desemprego e fome.

3 – “Conseguimos de fato, em 2019, diminuir a criminalidade violenta e enfrentamos para valer o crime organizado”.

Ninguém combateu o crime organizado de forma mais vigorosa do que o Ministério da Justiça na gestão de Sérgio Moro. Lembrou o ex-ministro que “aproximadamente dez mil vidas brasileiras deixaram de ser ceifadas pelo crime”. As lideranças das gangues mais perigosas foram isoladas em presídios federais. A propósito, o ex-ministro frisou: “Disseram que reduzir crimes no Brasil e combater o crime organizado era impossível, mas isso foi feito”.

4 – “O meu desejo era continuar atuando, como ministro, em favor dos brasileiros. Infelizmente, não pude prosseguir no governo. Quando aceitei o cargo, não o fiz por poder ou prestígio. Eu acreditava em uma missão”.

Quando o ex-ministro viu que não contava com o apoio do chefe do Executivo no seu combate ao crime organizado, deixou o Ministério para não coonestar com uma farsa. E frisou, determinado: “Nenhum cargo vale a sua alma”. Infelizmente, destaca o ex-ministro, “os avanços no combate à corrupção perderam a força. Foram aprovadas medidas que dificultam o trabalho da polícia, de juízes e de procuradores. É um engano dizer que acabou a corrupção quando na verdade enfraqueceram as ferramentas para combatê-la”.

5 – “Ao olharmos para as reformas que estão sendo aprovadas, o que a gente percebe é que ninguém está pensando nas pessoas”. Em que pese o fato de se apresentarem iniciativas boas como o aumento do Auxílio-Brasil ou do Bolsa-Família, estas vêm acompanhadas de algo ruim como o calote às dívidas, “o furo no teto de gastos e o aumento de recursos para outras coisas que não são prioridades”.

6 – “A degeneração maior da vida política consiste em que a busca do interesse público foi substituída pela busca egoísta dos interesses próprios e dos interesses pessoais e partidários”.

Esse defeito ocorre quando a máquina pública está voltada para si mesma. Isso explica por que “o Brasil continua sem futuro, com o povo brasileiro sem justiça, sem emprego e sem comida”. Ninguém pode ter a pretensão de elaborar um projeto só para si mesmo. Para reagir contra esse despropósito, frisou o ex-ministro, “resolvi entrar na vida política e filiar-me ao Podemos, um partido que apoia as pautas da Lava Jato. Mas esse não é o projeto somente de um partido, é um projeto de País aberto para adesão por todos os demais partidos, pela sociedade brasileira, do empresário ao trabalhador (...). Queremos juntos construir hoje o Brasil do futuro.”

7 –“ Nossas únicas armas serão a verdade, a ciência e a justiça. Trataremos a todos com caridade e sem malícia”.

O ex-ministro fez questão de sublinhar que “O Brasil é de todos os brasileiros e nosso caminho jamais será o da mentira, das verdades alternativas ou de fomentar divisões ou agressões de brasileiro contra brasileiro”. Sérgio Moro destacou que “Jamais iremos propor o controle sobre a imprensa (...). Isso vale para mim e para qualquer pessoa que queira nos apoiar”.

8 – “Precisamos proteger a família brasileira contra a violência, contra a desagregação e contra as drogas. Propomos incentivar a virtude e não o vício, uma sólida formação moral e cidadã”.

O projeto de redução da criminalidade violenta, do combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas deve ser realizado “com todo o vigor, sempre na forma da Lei, e buscando recuperar aqueles que se desviaram do bom caminho”. Paralelamente, destacou o ex-Ministro, “precisamos de uma sociedade inclusiva, que acolha as diferenças, e precisamos também de uma sociedade que respeite todas as crenças e religiões”.

9 – “Por acreditarmos no potencial de cada um, defendemos o livre mercado, a livre empresa e a livre iniciativa, sem que o governo tenha que interferir em todos os aspectos da vida das pessoas”.

Isso implica na realização da reforma tributária e a retomada das privatizações. É necessário abrir e modernizar a economia buscando mercados externos 

10 – “Uma das prioridades do nosso projeto será erradicar a pobreza, acabar de vez com a miséria. (...) Para tanto, precisamos mais do que programas de transferência de renda (...), identificar o que cada pessoa necessita para sair da pobreza”.

O caminho deve ser simples e concreto: garantir “uma vaga no ensino, um tratamento de saúde ou uma oportunidade de trabalho”. Como ponto de partida, o ex-ministro propôs “a criação da Força-Tarefa de Erradicação da Pobreza, convocando servidores e especialistas das estruturas já existentes”.

11 – “Propomos investir na educação de qualidade. Quem vai para a escola pública tem que encontrar ensino da mesma qualidade que o das escolas privadas”.

O ex-ministro propôs “tornar real em todo o País, o que a lei já autoriza: que os alunos possam escolher parte das disciplinas e, fazendo isso, estudarem com maior motivação”. Além disso, propôs, também, expandir o ensino em tempo integral, começando pelos lugares mais carentes. Frisou que é necessário, outrossim, fazer chegar a todas as escolas públicas a tecnologia e a internet.

12 – “Propomos, sem mais delongas, aprovar a volta da execução da condenação criminal em segunda instância, para que a realização da justiça deixe de ser uma miragem”.

O ex-ministro frisa que é necessário garantir a independência do Ministério Público, bem como a autonomia da Polícia com mandatos para os diretores, a fim de evitar a interferência política. E propôs a criação de uma Corte Nacional Anticorrupção, à semelhança da iniciativa realizada em outros países.

13 – “A floresta é um patrimônio valioso e precisamos mudar a percepção do mundo a nosso respeito. Precisamos dar oportunidades de desenvolvimento para quem vive na região da Amazônia, mas precisamos proibir o desmatamento e as queimadas ilegais”.

O Brasil, além de ser celeiro do mundo, pode exercer também a liderança na preservação da floresta e na exploração de energias limpas, criando uma economia verde autossustentável e de baixo carbono.

14 – “Precisamos cuidar da defesa nacional e de nossa soberania. Vamos valorizar as Forças Armadas”.

Todos somos brasileiros e devemos zelar pela preservação das nossas Forças Armadas, evitando coloca-las a serviço de ambições pessoais ou interesses eleitorais. “As forças Armadas pertencem aos brasileiros e não ao governo”.

 

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

ORIGENS DA CULTURA EUROPEIA - LATIM E GREGO. Selvino Antonio Malfatti.

 





Por iniciativa do ministro francês Jean-Michel Blanquer foi promovida a I Jornada Europeia das línguas e culturas antigas, em 16 de novembro de 2021. Desde 2001, em Estrasburgo, realizam-se as Jornadas europeias das línguas. Neste ano, como consequência deste evento foi elaborada uma Declaração Conjunta dos ministros da cultura da Itália, França, Grécia e de Chipre, Patrizio Bianchi, Jean-Michel Blanquer, Niki Kerameus e Prodromos Prodromou respectivamente. Todos se declararam persuadidos de que o LATIM E O GREGO são uma herança comum da cultura europeia e mediterrânea, a ninfa de suas línguas. 

A cultura europeia penetra suas raízes na tradição greco-romana. Embora a língua se sobressaia, seu manto se estende na ciência, no direito (público e privado) filosofia, artes, geometria, arquitetura, matemática, física e medicina, sem falarmos nas línguas neolatinas. Países deste meio tem a responsabilidade de transmitir esta cultura aos jovens não só como patrimônio do passado, mas como chave de interpretação e leitura de nossa contemporaneidade, afirmaram os ministros.

Em termos práticos as línguas latina e grega geraram para nossa l´ngua a etimologia (origem da palavra), grafia (maneira correta de escrever), sintaxe (significado) entre outras. A etimologia, por exemplo, nos dá a pista do significado. Quando digo “hagiografia” basta ver a composição da palavra: hagios – santo e grafia – escrita, seria então a vida dos santos. Ou, se disser “axiologia”, sentido etimológico, o estudo dos valores: axie, valor e logos, estudo, ciência.

Numa visão geral as contribuições greco-latinas poderiam sinteticamente ser:

1.    Os sofistas: as normas morais gerais e universais.

2.    Os estoicos: Existem normas morais que extrapolam o “hic et nunc” assumindo uma dimensão universal, perene e geral. Estas normas transpõem o tempo e o espaço e tornam-se éticas.

3.    Os epicuristas: A moralidade tem por fim a felicidade do homem. A ética, embora supratemporal e histórica, tem sempre um fim prático: o bem de todos.

4.    Céticos: crítica ao relativismo ético-moral e depuração das pretensões de uma moral absoluta.

5.    Contribuição política: em política existem alguns princípios éticos que dizem à sociedade como um todo. Estes princípios é o ponto de partida e de chegada da convivência política. Os princípios são: a vida, a liberdade, igualdade e a propriedade.

6.    Sócrates: governar não é uma tarefa puramente técnica e mecânica, mas essencialmente humana e ética.

7.    Platão: a preocupação moral com a justiça social. A categoria política dos sábios, juntamente com a dos guerreiros, deveriam ser imunizados da ganância e da apropriação indevida, através da proibição da propriedade privada.

8.    Aristóteles: a constatação de uma esfera de normas válidas para todos, a Ética e uma esfera dependente do tempo e espaço, moral. A lei, sem o conteúdo ético-moral, não passa de um decreto originário da vontade de um tirano.

9.    Cícero: encontra-se uma lei natural – cósmica – e uma humana, das quais as instituições emanam pela atividade da reta razão humana. Na convivência política, há as esferas do público e do privado que não podem se imiscuir. A lei, não é uma criação a bel prazer do homem, mas está inclusa no complexo universal do qual o homem é agente passivo e ativo.

 

O TEXTO DA DECLARAÇÃO

Os Ministros da Educação da França, Itália, Chipre e Grécia, a seguir designados "os signatários",

Convencidos de que o latim e o grego antigo são o legado vivo e característico da base comum à cultura europeia e mediterrânea, e a força vital de suas respectivas línguas,

Ciente de que essas raízes comuns favorecem e fortalecem a reaproximação e a intercâmbios entre os povos e que o conhecimento de línguas antigas é um bem precioso e tangível útil para aprender línguas modernas, continuando no ensino superior e para realização pessoal na vida social, cívica, cultural e profissional,

Convencidos de que o aprendizado de línguas e culturas da antiguidade, a prática tradução e compreensão da cultura humanística permitem o desenvolvimento do conhecimento fundamentais e ferramentas que conduzam à reflexão e a um conhecimento mais amplo do mundo e sociedade modernos, ao espírito crítico e raciocínio necessário para a emancipação dos alunos, a cidadania europeia e a defesa dos valores comuns,

Com vontade de construir, através das pontes entre os povos constituídos pelo latim e do helenismo, um novo eixo estruturante e um novo impulso cultural para a criação de Área educacional europeia,

Afirmando a vontade comum de colocar as ciências humanas no centro dos currículos escolásticos, para demonstrar a relevância e modernidade do latim e do grego antigo, para promovê-los renovar e desenvolver seu ensino para ajudar a fortalecer o futuro da União Europeia,

Comprometendo-se a fortalecer a cooperação no estudo do latim e grego antigo, incentivando e desenvolvendo parcerias bilaterais e multilaterais, intercâmbios e a mobilidade de alunos e professores para produzir um movimento dinâmico em torno dos projetos novos municípios, abertos a qualquer público e via de educação e formação, seguindo uma abordagem inclusiva e em sintonia com os aspectos mais modernos e inovadores da civilização contemporânea.

Os signatários concordam em estabelecer um grupo internacional de especialistas de alto nível encarregado de refletir sobre uma estratégia global e internacional para a promoção e desenvolvimento de Latim e grego antigo e apresentar novas propostas concretas. Os países signatários vão convidar cada ano, por sua vez, os países parceiros participam nos seus trabalhos de reflexão à distância e em presença.

Assinaturas:

Os Ministros da Educação da França, Itália, Chipre e Grécia:

Patrizio Bianchi, Jean-Michel Blanquer, Niki Kerameus, Prodromos Prodromou.

 

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

NOVO RUMO EDUCACIONAL - PROFISSIONAL TÉCNICO? Selvino Antonio Malfatti

 

                  Escola tradicional e escola do futuro - COC  


Há falta de emprego no Brasil? Sim e não. Sim, por que as filas na busca de emprego são intermináveis. Não, por que sobram vagas a serem preenchidas.

Diz o Ministério da Economia: “...nos cinco primeiros meses deste ano o número de vagas criadas superou a marca de 1 milhão. Nesse período, foram gerados 1.233.372 vagas com carteira assinada.

Então, qual é o problema? Se há vagas de trabalho de sobra e há trabalhadores em busca de emprego, algo está errado.

Detalhemos a questão: 

1.    Profissões em alta em 2021

Enfermagem, medicina e outras especializações de saúde

Especialista em Marketing Digital

Áreas da tecnologia

Profissionais de finanças

Profissionais de customer success

Área de vendas e comercial

Especialista em  e-commerce

Profissionais autônomos de conteúdo

Especialistas em saúde mental

2.    Profissionais mais procurados:

1 – Engenheiro. A primeira profissão da lista é a de Engenheiro. ...

2 – Administrador de empresas. ...

3 – Médico. ...

4 – Profissional de Tecnologia da Informação. ...

5 – Atleta. ...

6 – Professor de escola. ...

7 – Mecânico de veículos. ...

9 – Advogado.

3.    Profissões mais procuradas

Gestor(a) de mídias sociais

Engenheiro(a) de cibersegurança

Representante de vendas

Especialista em sucesso do cliente

Cientista de dados

Engenheiro(a) de dados

Especialista em Inteligência Artificial

Programador(a) de JavaScript

Investidor(a) Day Trader

Motorista

Consultor(a) de investimentos

Assistente de mídias sociais

Desenvolvedor(a) de plataforma Salesforce

Recrutador(a) especialista em Tecnologia da Informação

Coach de metodologia Agile.

Se há ofertas de vagas e há trabalhadores buscando emprego, a hipótese mais provável é que não há uma correspondência entre o perfil de trabalhador exigido e o candidato à vaga. O candidato, nem por culpa dele, nem da escola, não está preparado para a atividade ofertada. Se há vaga para operador de máquina e o pretendente é formado em filosofia com certeza não será aceito por que não está preparado para a função, isto é, falta-lhe competência.

Ao que tudo indica existe um descompasso, uma defasagem entre as necessidades empresariais e a formação ofertada pela escola. A necessidade da sociedade não encontra correspondência com o perfil do profissional formado pela escola. (George Gilder, “Riqueza e pobreza,”).

No entanto, não é tão simples assim para solucionar. Suponhamos uma Escola constatando as necessidades da sociedade - profissionais técnico-aqrícolas - se propõe atendê-las. Para tanto precisa contratar profissionais qualificados para ministrar conhecimentos e habilitar estudantes profissionalmente.  Há necessidade de laboratórios, insumos, desde matérias primas até materiais descartáveis, instalações, licenças operacionais dos poderes públicos, investimentos e uma infinidade de itens necessários para operacionalizar os laboratórios. Isto leva um bom tempo e grandes investimentos. Após isso inicia a habilitação dos inscritos. Provavelmente após 2 a 3 anos consegue formar os novos profissionais. Mas, quem garante que naquele momento posterior às necessidades da sociedade serão as mesmas de quando começou a preparação profissional? Não terão mudado, não serão outras, não terão novas nuances de conhecimentos? Com certeza, com isso, deverá iniciar o novo ciclo e quando findar este novamente deverá reiniciar. Estamos diante da lenda de Sísifo? Isto é, do círculo vicioso entre oferta e formação de trabalhadores.

Diante de tal realidade alguns sugerem que as habilidades sejam adquiridas concomitantemente na teoria e na prática. Tradicionalmente se adquirem conhecimentos teóricos na escola e em seguida os conhecimentos são levados à prática digamos, genericamente, na empresa.

Este era o mundo da economia tradicional. A empresa (fábrica, como querem outros) recebia alunos formados, habilitados. As funções técnicas eram mínimas e as operárias, maioria esmagadora. Agora inverteu. Praticamente todos são técnicos e os operários desapareceram. A escola, então, atualmente na prática não deve preparar uma minoria, mas  todos para funções técnicas. Até mesmo funções mais humildes como as de limpeza, agora exigem domínio de informática e por isso também são técnicos.

Sugere-se uma mudança no modelo: estes dois momentos sejam fundidos. Pratica-se adquirindo os conhecimentos. Podem-se citar como exemplos as escolas de línguas. O candidato pratica o linguajar e através dele passa a dominar a teoria desta prática. Pratica-se e aprende-se.

Há uma empresa no Rio Grande do Sul que age dentro deste novo modelo. No último ano do ensino médio, a empresa entra em contato com a escola solicitando uma visita de um técnico da empresa. No dia acertado, o técnico vai à escola, conversa com os alunos, aplica os testes e oferece o estágio remunerado. O estagiário cumpre o período recebendo o treinamento específico e após, se o perfil do profissional procurado pela empresa estiverr de acordo e o candidato  tiver interesse é contratado.

Há um consenso de que as habilidades são incorporadas gradualmente, a partir do conhecimento. Atualmente na bagagem de mão não podem faltar habilidades digitais.

A década de Noventa poderia ser considerado o marco inicial da era digital e com ela o engatinhar da inteligência artificial.  As próprias máquinas têm sua autoaprendizagem e os jovens que chegaram nesta época assimilaram a novidade, mas sem seu domínio. Até onde chega seu domínio teórico e prático da informática? Com certeza não passa do bê-á-bá.

Aí está o gargalo do processo. O jovem conhece o senso comum da informática, mas não a assimilou.  Na inscrição para o emprego o candidato diz que conhece informática, mas quando exige a aplicação não consegue operacionalizá-la. Logo, falta-lhe treinamento. O novo trabalhador de empresa é um técnico e não um operário.

As mesmas atividades antigas, atualmente são feitas pela informática. Os jovens ao serem inquiridos sobre atividades de mecânicos, soldadores, encanadores, carpinteiros, eletricistas dizem que conhecem após a contratação.  Mecânica, carpintaria, eletrônica e outras atividades agora não são mais manuais ou mecânicas, mas digitais ou automáticas, operacionalizadas através de robôs.

Qual o rumo para a educação? Inverter ou adaptar? Submeter-se totalmente às exigências econômicas da tecnologia da informática? Desconhecer a nova realidade e continuar com uma educação tradicional, mas defasada?

Balançar um meio termo entre o tecnológico e o tradicional.  Adotar um modelo híbrido: após concluir seus estudos secundários o candidato  ingressa numa empresa como aprendiz, estagiário, e após, se quiser,  é admitido plenamente na empresa ou prossegue nos estudos superiores.

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

G20, ROMA E COP26, ESCÓCIA – POLÍTICA x CIÊNCIA. Selvino Antonio Malfatti

 




Atualmente se realizada a cúpula do clima em Roma com as 20 maiores economias do planeta, e em seguida a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia.

Nas duas a constatação de que o clima do planeta está no limite. Já se tentou estabelecer metas de diminuição de poluentes. Mas isto leva a diminuição da produção e com ele a restrição ao consumo. E isto as maiores potências não querem  por que ninguém quer a privação, ninguém quer produzir menos, ninguém quer o sacrifício para salvar o clima.

Se numa família ou em outro grupo as provisões não conseguirem satisfazer as necessidades dos membros há três alternativas: ou consumir menos ou produzir mais ou administrar melhor. Se 5 sacos de batatas não forem suficientes ou se diminuem os gastos ou se acrescentam mais batatas ou se consuma racionalmente de tal forma que não falte.

O mesmo acontece com nossa morada comum, a terra. Neste momento o consumo é maior do que se produz. A produção envolve um desgaste tal que neste ritmo a terra não suportará mais em breve. Até agora o diapasão para solucionar foi diminuir o consumo. Acontece que as grandes economias não querem a privação, ao contrário querem aumentar. O aumento de produção, no entanto acarreta o aumento do desgaste o qual levará em breve ao colapso do sistema. Logo, a solução da privação coletiva ou o aumento da produção estão descartados. Numa solução política o bode expiatório são as nações sem poder econômico, mas com potencial despoluidor através do seu meio ambiente. É para elas que se voltaram o dedo acusatório. Chega de agredir o meio ambiente, de poluir de desmatar. Mas a pergunta: o que fizeram os países ricos com o meio ambiente, com a poluição, com o desmatamento? Não seria exatamente por isso que são ricos, em cima das costas dos pobres?

Qual alternativa? A meta seria diminuir a produção mundial para diminuir a temperatura. Conforme o G20 se esta aumentar mais – 1 grau ou 1/5- o planeta entrará em colapso.

Surgem e já surgiram várias propostas, mas a mais nova e original é da climatologista italiana Claudia Tebaldi, há anos nos Estados Unidos. Certamente baseada nas conclusões de Maltus que afirmava que a população mundial aumentava geometricamente enquanto a produção de alimentos aritmeticamente. Nesta proporção em 25 anos a população dobrava e a produção de alimentos aumentava desproporcionalmente. O que Maltus não previu foi a tecnologia que colocou a produção no mesmo patamar.

Cláudia Tebaldi sugeriu que em vez de se insistir na diminuição da produção se aplicasse a tecnologia na contenção dos efeitos perversos da produção, isto é, a poluição. Diz ela: “Realisticamente, acho que será mais fácil resolver o problema do aquecimento global com a tecnologia do que mudar radicalmente nosso estilo de vida, como a política promete fazer".

A climatologista é contra tão somente a propostas políticas, contrapondo uma solução também científica. Ela acha que será mais fácil resolver o problema do aquecimento global do que mudar o estivo de vida das populações. Se isto fosse através de métodos compulsórios talvez se conseguisse por algum tempo. Mas definitivamente não. Então a saída não pode ser só política, mas científica.

A prova de que medidas científicas podem resolver problemas basta compara o Katrina com Ida. O primeiro causou grandes prejuízos materiais. Foram mais de 108 bilhões e 1800 vidas.  Enquanto o segundo teve efeitos maiores com a perda de 30 milhões de barris de petróleo, no entanto salvou mais vidas.

Para o caso do Katrina medidas científicas preventivas foram tomadas. A Allianz implementou inspeções frequentes de telhados, verificando a idade e estruturas e exames minuciosos e com isso pode suportar melhor os impactos das chuvas e vendavais.

Está colocada a questão: política ou ciência. Basta escolher.

 


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

ASTEROIDE DESTRUIU SODOMA E GOMORRA . Selvino Antonio Malfatti.

 

            Escavações em Tall el-Hamman - antigamente  Sodoma e Gomorra.


Instigante a narrativa bíblica sobre a destruição de Sodoma e Gomorra. O texto bíblico vem recheado de interpretação por parte de quem escreveu. Eis o texto bíblico:

“O Senhor fez então cair sobre Sodoma e Gomorra uma chuva de enxofre e de fogo, vinda do Senhor, do céu. E destruiu essas cidades e toda a planície, assim como todos os habitantes das cidades e a vegetação do solo." (Gênesis, 19, 24-25)

Assim como este texto bíblico há outros, como da mitologia grega, egípcia, romana, mesopotâmica, hindu, que apresentam narrativas semelhantes: acontecimento “sobrenatural”, atribuição a autoria à divindade, com objetivo moral ou religioso.

O que teria acontecido com Sodoma e Gomorra? Levantamos a hipótese de que: 1. Os fatos realmente aconteceram como narrados na Bíblia. 2. Agora se constatou que não houve intervenção de seres sobrenaturais, mas apenas um fenômeno natural.  3. A explicação bíblica deveu-se a um intérprete humano que adaptou o fato à acessibilidade compreensiva da população.

Como aconteceu com fenômenos semelhantes as explicações foram atribuídas a seres sobrenaturais. No entanto, faz-se necessário distinguir os fenômenos naturais dos sobrenaturais, de seres terrestres extraterrestres e da divindade. Seres sobrenaturais dizem respeito à divindade. Seres naturais são os originários da natureza inclusive os do cosmos, como os humanos e extraterrestres. Os fenômenos sobrenaturais estão foram da dimensão física e afetos à religião. Por isso, se houver intervenção de seres extraterrestres os fenômenos são também naturais.

Atualmente sabe-se por comprovação científica que boa parte dos fenômenos extraordinários bíblicos atribuídos à divindade são de origem natural. O que falta ainda é associar estes fenômenos não à divindade, mas a seres extraterrestres. É o caso dos grandes milagres de Jesus. Um dia a ciência chegará lá?

Seria irracional pensar que houve um tempo de convivência entre extraterrestres (antigos deuses) e humanos? Muito mais lógica e fácil seria a explicação dos fenômenos extraordinários se admitíssemos isto. Não estaria acontecendo novamente hoje em dia a intervenção de extraterrestres nos fenômenos extraordinários atribuídos a milagres de origem divina?

Aquele mundo descrito e povoado por anjos, demônios, deuses, espíritos não seria apenas seres extraterrestres?

Conforme artigo publicado na Revista “Nature” a destruição de Sodoma e Gomorra foi causada por objeto natural, extraterreste, um asteroide, provavelmente. É a conclusão de cientistas, que, depois de 15 anos de escavações concluíram que Tall el-Hamman (antigamente Sodoma e Gomorra), foram destruídas por um objeto vindo do espaço, tal como aconteceu em 1908 com Tunguska, na Sibéria.

Como os patriarcas, profetas, sacerdotes explicavam os fenômenos extraordinários acontecidos naqueles tempos como Sodoma e Gomorra? Podemos imaginar a estupefação das populações ao ver as cidades em chamas e fumo. Indagavam a Lot e perguntavam o quê aconteceu. Lot explicava-lhes o acontecido:

- Como sabeis as duas cidades viviam em pecado. Apesar de eu lhes pedir em nome de Deus para praticarem a justiça, continuaram na sua devassidão e perversão, inclusive praticando sexo com animais, adorando ídolos e espoliando os pobres. Então Deus as castigou destruindo-as pelas chamas.

Lot precisava dar uma explicação e apelou para a intervenção divina. Mas atualmente sabe-se que as pesquisas de arqueólogos, geólogos, geoquímicos, geomorfologistas, mineralogistas, paleobotânicas e outras. Especialistas em impacto cósmico e médicos encontraram evidências que foi um fenômeno natural, embora não originário do planeta terra. Foram descartados vulcões, incêndios ou terremotos. De onde então? Foram encontrados micro diamantes, esférulas vitrificadas e grãos de quartzo com estruturas decorrentes de altas pressões, típicas de áreas atingidas por intensas ondas de choque. Tudo isto leva crer que algum objeto extraterrestre tenha atingido as duas cidades e perto daí, também Jericó sofreu as consequências. (https://www.corriere.it/cronache/21_settembre)


Postagens mais vistas