Prof. Dr. José Maurício de Carvalho
A editora Filoczar, de São Paulo, está concluindo
a edição de um novo livro sobre Filosofia Clínica. Já fizemos outros, além de
participar de livros de colegas. Esse, no entanto, nos é particularmente caro.
E por qual motivo? Primeiro por que acolhe pesquisas e sistematizações recentes
que dão maior densidade e a aproximam das grandes técnicas de psicoterapia. A obra
incorpora os estudos da Matemática Simbólica tal como vêm sendo conduzidos
pelo criador da técnica o Prof. Lúcio Packter. Segundo por que é uma técnica
com recursos para ajudar as pessoas nesse tempo de crise, contradições e
dificuldades. Tempo marcado por mudanças na forma como foram consolidados o
pensamento, sonhos e crenças da sociedade moderna.
O
sociólogo Zygmunt Bauman fez uma leitura dessas dificuldades e apesar de pontos
controversos em suas explicações, ele foi preciso ao mostrar que, entre as
transformações em curso, encontra-se o surgimento de uma sociedade pouco
estável. Tempos líquidos, ele nos disse, em resumo. E, esses dias em que nada
está seguro e tudo pode acontecer, traz muitas dificuldades para a maioria das
pessoas, algumas pela ausência da estabilidade profissional, outros afetiva,
outros, ainda, institucionais. Estamos vendo desenvolver-se uma nova forma de
viver a individualidade, que é parte da crise da subjetividade iniciada no século
passado. São modificações que tentam ser compreendidas por vários
representantes da filosofia contemporânea que esmiuçam esses problemas. E isso
nos coloca diretamente na maneira como a cultura havia estruturado as
instituições sociais para oferecer certas garantias e seguranças, todas elas postas
em causa pela globalização e pela revolução nas comunicações. Essa confusão deu
origem a um neoconservadorismo, com elementos religiosos e políticos. Mas um
conservadorismo pouco crítico e inteligente que postula um modo de vida
inadequado para os nossos dias, já que não podemos repetir o passado quando a
vida renova os problemas.
Quanto à Filosofia Clínica, há algum tempo em
evidência nos meios intelectuais, podemos dizer que ela não é desconhecida do público
brasileiro. Em que consiste? Essencialmente é um método de abordagem
psicoterapêutica desenvolvido sobre três colunas: análise categorial, estrutura
de pensamento e submodos. Essas três colunas são apresentadas e comentadas
nessa obra que não deixa de trazer um resumo do método, oferecendo uma
compreensão ampla do assunto. No entanto, a obra não fica nessa exposição
didática dos momentos do método, ela inclui um aprofundamento sistemático de
procedimentos clínicos, considerando as pesquisas recentes. Em outras palavras,
incorpora resultados de pesquisas avançadas lideradas por Lúcio Packter e
oferece um conhecimento mais profundo da Filosofia Clínica, trazendo as
atualizações necessárias para quem deseja estar atualizado no assunto. Por
isso, é um livro tanto para quem está querendo conhecer a Filosofia Clínica como
para aqueles que querem aprofundar seus estudos na área.
Cabe observar que, como técnica, ela é
diferente da Psicologia pelo diálogo mais estreito com a Filosofia. Entretanto,
a Filosofia Clínica se distingue de outras abordagens que usam a Filosofia nos
trabalhos clínicos, porque não emprega as teorias filosóficas no aconselhamento
psicológico. O método foi singularmente construído por Lúcio Packter que fez um
diálogo criativo com a tradição filosófica. No entanto, para nós esse diálogo
com a herança filosófica, que é singular como método, tem uma marca do tempo em
que foi criado e possui elementos estruturantes da fenomenologia-existencial.
Uma fenomenologia existencial considerada mais como filosofia que como método. Ou
de forma mais simples, a Filosofia Clínica tem, por pano de fundo, as
referências da filosofia contemporânea desenvolvidas na Europa continental,
mesmo sem deixar de dialogar com a filosofia analítica e com o pragmatismo norte-americano.
Trata-se de um livro com muitas novidades,
mesmo para aqueles que já têm um conhecimento da Filosofia Clínica. Esperamos
que seja bem acolhido e examinado pelo público.